25/07/2014 - 20:00
Carlos Caetano Bledorn Verri. Pelo nome de batismo, poucos o conhecem. No entanto, basta citar o apelido do jogador de futebol gaúcho de 50 anos, que atuou como volante entre 1980 e 2000, jogando com sucesso no Brasil, na Itália, na Alemanha e no Japão, que os ânimos se acirram. Dunga, embora não fosse nenhum perna de pau, deu nome a um estilo do futebol que privilegiava os resultados e não a estética do jogo. Seu foco em vitórias, mesmo por placares apertados, caracterizou uma era. Esse período traz poucas saudades devido às campanhas pífias da Seleção canarinho nas Copas de 1986 e 1990, sem falar dos fiascos de 2006 e de 2010.
Por isso, a rejeição à sua indicação para substituir o técnico Luiz Felipe Scolari, na terça-feira 22, foi praticamente unanimidade. A decisão da CBF decepcionou uma legião de torcedores que desejavam mudanças mais profundas na alta administração do futebol brasileiro. O chamado esporte bretão, no Brasil, é assunto sério, embora deixe a desejar como negócio e seja um fiasco retumbante em organização e representatividade, a despeito de esforços isolados de alguns clubes. O fato de a principal instância do esporte estar entregue a José Maria Marin não ajuda.
O veterano político, antigo expoente civil do regime militar, não é, exatamente, a face da modernidade. Basta lembrar que ele sucedeu o inolvidável Paulo Maluf no governo do Estado de São Paulo, entre maio de 1982 e março de 1983. E a indicação de Dunga em substituição a Felipão representa mais uma peça no museu de grandes novidades em que se converteu o futebol nos últimos anos. Qual é o problema de Dunga no comando da Seleção? Voltemos ao torneio encerrado no dia 13 de julho. Uma das melhores frases para defini-lo foi: o Brasil tem Neymar, a Argentina tem Messi e a Alemanha tem um time.
Passada a ressaca da goleada, será possível notar que o time dirigido por Joachim Löw não foi, por princípio, ofensivo ou defensivo. Foi eficiente, buscando a excelência em termos táticos e nos passes, e confiando na eficácia do conjunto e não nos talentos individuais. Se o Brasil quiser reproduzir essa excelência em sua Seleção, será preciso romper com a maneira como as coisas são feitas. Dunga pode, é claro, surpreender. No entanto, seus primeiros atos e declarações mostram que há poucas indicações de que isso vá ocorrer.
A derrota da Seleção em casa seria um motivo excelente para romper uma autêntica reserva de mercado que não permite que estrangeiros assumam o comando da Seleção. Já em 2012, Ronaldo Fenômeno defendeu a escolha do ex-colega do Barcelona, Josep “Pep” Guardiola, atualmente treinador do Bayern de Munique. Vale a pena prestar atenção a uma declaração de Guardiola na terça-feira 22, em uma entrevista, comentando o fato de o time que dirige ter vencido o campeonato alemão, em março, sete partidas antes da final, um feito inédito na trajetória vitoriosa do clube.
“Sou pago para isso, se o time não vencer, virá outro treinador para me substituir”, disse ele. Quanto das vitórias do Bayern cabe ao talento de Guardiola e quanto decorre dos investimentos e da dedicação dos últimos anos é uma questão que pode ser discutida interminavelmente. Quanto o emprego de métodos alemães poderia beneficiar o futebol brasileiro é um assunto em que há mais consenso. Por via das dúvidas, conceda-se um voto de confiança a Dunga. E vamos torcer, muito, para que a Copa de 2018 na Rússia não termine com um Dunga e 200 milhões de Zangados.