02/05/2012 - 21:00
Ao ser homenageado pela Câmara de Comércio Brasil-Líbano, o empresário paulistano Ernesto Zarzur, 78 anos, foi alertado que, em seu discurso de agradecimento, deveria evitar temas polêmicos. Ele ignorou solenemente a recomendação e disparou uma frase que arrancou gargalhadas do auditório, composto por empresários e executivos influentes no mundo dos negócios. “Banco é como hospital: se você entrar nele e não sair logo, vai acabar morrendo”, disse, na ocasião. Essa é uma das máximas que guiam os passos de sua construtora, a Eztec. Em sua trajetória de quase 30 anos, o endividamento da construtora nunca foi superior ao montante de recursos existente no caixa. Foi graças à postura conservadora que ela se transformou em um ponto fora da curva no setor.
Ernesto Zarzur: ele não pega dinheiro emprestado e só entra em negócios
com rentabilidade mínima de 30%.
Em 2011, a receita líquida da Eztec somou R$ 744 milhões e seu índice de rentabilidade bateu a marca de 44%, superando as outras 16 concorrentes listadas na Bovespa. As segundas e terceiras colocadas, a JHSF, do empresário Zeco Auriemo, e a MRV, do mineiro Rubens Menin, possuem índices de 24% e 19%, respectivamente (em 12 delas, a margem ficou abaixo de 15%). Na outra ponta do ranking está a Gafisa, que fechou o ano com margem negativa de 32%. Agora, o patriarca da família Zarzur, filho de imigrantes libaneses, se prepara para dar seu maior salto. A Eztec pretende erguer duas torres comerciais na cidade de São Paulo na Chácara Santo Antônio, bairro de classe média alta, que deverá gerar um Valor Geral de Vendas acima de R$ 1,2 bilhão.
“Como temos um caixa saudável, podemos aguardar o melhor momento para levar a oferta ao mercado”, diz Zarzur. “É uma oportunidade única para nós e queremos conseguir o melhor valor possível com a venda.” O empreendimento é assinado pelo uruguaio Carlos Ott, arquiteto que projetou importantes construções contemporâneas, como a Ópera da Bastilha, em Paris, e a sede da Tata Consultancy Services, na Índia. Mesmo antes do lançamento oficial, o empreendimento da Eztec já conta com interessados para ocupar uma torre inteira. Mas não foi apenas no relacionamento com os bancos que Zarzur se diferenciou de seus concorrentes. No período 2009-2011, a ordem no mercado era crescer de forma rápida, financiada por fartas linhas de crédito. O dono da Eztec operou basicamente com recursos próprios.
Rubens Menin, da MRV: a terceira construtora em rentabilidade ficou com 19% de margem,
em 2011, contra 44% da Eztec.
Concentrou sua atuação na Grande São Paulo, enquanto os rivais faziam incursões por diversos Estados. Em vez de mirar todas as faixas sociais, Zarzur focou nas classes A e B, além dos empreendimentos comerciais. Resultado: a Eztec se transformou na queridinha do segmento para investidores e analistas. Hoje, sempre que se apresenta a um interlocutor, Zarzur é questionado a respeito de sua fórmula de sucesso.“Não existe segredo nenhum”, diz. “Não entro em negócio do qual não entendo e não faço nenhum empreendimento que possa gerar menos que 30% de lucratividade.” O empresário também nunca se deixou levar pelos modismos e “teorias da hora”. Após a crise econômica mundial eclodir, em 2008, Zarzur peitou os investidores, dizendo que não cumpriria a previsão inicial de construção de imóveis.
O discurso foi interpretado como heresia e ele pagou caro. As ações da empresa, que estrearam a R$ 11 na Bovespa, em 2007, chegaram a desabar para R$ 1,71. “Fiquei preocupado, pensando que poderia ter errado ao abrir o capital”, afirma. Mas foi exatamente esse posicionamento que garantiu o bom momento vivido hoje. “Naquele período, muitas coisas ditas pelos analistas pareciam fazer sentido, mas Zarzur preferiu confiar na sua experiência e não na de quem nunca tinha construído nem uma casinha de cachorro”, diz Flávio Conde, analista da Banif Corretora. “Quem caiu no conto do crescimento rápido se deu mal.”
Ao longo de sua trajetória, o empresário derrubou outros mitos. Segundo ele, os banqueiros do BTG Pactual, que cuidaram do lançamento, disseram-lhe que para ser bem- sucedido na abertura do capital da Eztec precisaria contratar um CEO no mercado. “Respondi que só faria o IPO se mantivesse os meus filhos no comando”, diz Zarzur. “Onde arrumaria executivos mais experientes?” Os filhos Flávio e Silvio atuam na Eztec desde a sua fundação, em 1979, e hoje se alternam na presidência. Outros 11 parentes fazem parte da equipe, e recebem salários semelhantes aos demais funcionários de suas posições. “Eu mesmo recebo R$ 7 mil de salário”, afirma o fundador da Eztec.