Um dos mais brilhantes economistas brasileiros, o carioca Antônio Barros de Castro declarava-se um apaixonado pela filosofia. Em entrevista ao então acadêmico e hoje ministro da Fazenda, Guido Mantega, no final da década de 1990, Barros de Castro contou do seu prazer, durante o período em que estudou na London School of Economics, na Inglaterra, em participar dos seminários de Karl Popper, nos quais se discutia Platão, Kant, Hegel e Marx. Era tão interessado pela filosofia que disse ter estudado economia apenas “marginalmente” durante o período na escola londrina. A influência filosófica talvez explique o ecletismo de Barros de Castro e a dificuldade de encaixá-lo numa só escola de pensamento. 

O economista, que morreu no domingo 21, aos 73 anos, vítima de um  desabamento da laje do escritório da casa onde morava, no Humaitá, no Rio de Janeiro, era um dos expoentes do desenvolvimentismo no País, ao lado de nomes como Carlos Lessa e Maria da Conceição Tavares, com quem formava o trio de ferro do pensamento cepalino no Brasil.  Deixa quatro filhos, uma neta e a mulher, a também economista Ana Célia Castro. Foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no governo Itamar Franco e atuou como diretor de planejamento e assessor sênior da instituição no governo Lula. Teve uma carreira acadêmica prolífica e diversificada. Formado pela então Faculdade Nacional de Economia (hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro), doutorou-se pela Unicamp. Foi professor visitante na Universidade do Chile, e na de Berkeley, nos Estados Unidos, e nas britânicas Cambridge e Oxford. 

 

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Barros de Castro escreveu com Carlos Lessa, colega de faculdade e amigo de muitos anos, o livro-texto Introdução à Economia, Uma Análise Estruturalista, um clássico nas faculdades e um sucesso editorial, com 46 edições. Desde esse texto pioneiro, a trajetória de Barros de Castro mostrou que tinha pouco apego a dogmas: a independência intelectual de seus escritos costumava provocar polêmica. “Ele teve grande influência sobre todos os desenvolvimentistas”, afirmou o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, que foi seu aluno e colega na Unicamp.Especialista em política industrial, nos últimos anos Barros de Castro vinha se dedicando a estudar a China de maneira quase obsessiva, segundo escreveu sua filha Lavínia Barros de Castro. “É preciso repensar o Brasil num mundo sinocêntrico”, afirmava. 

 

Barros de Castro foi um dos primeiros economistas brasileiros a dar a devida importância à revolução provocada pelas empresas chinesas e à emergência do que considerava uma nova ordem internacional, que gravita em torno do poder econômico do país asiático. Questionava a competitividade da indústria brasileira, que caracterizava como descartável do ponto de vista internacional. “É uma mutação, um novo paradigma que emerge”, disse. Mais do que pensar apenas teoricamente em soluções, Barros de Castro colocou a mão na massa. Aplicou seu interesse em estratégias empresariais criando políticas industriais para contrabalançar a influência chinesa, no BNDES e no Ministério do Planejamento, onde trabalhou como assessor. Na nota que divulgou lamentando sua morte, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, resumiu: “O dinamismo do Brasil de hoje deve muito ao professor Antônio Barros de Castro”.