CÉSAR BUFFARA É UM dos empresários mais jovens do setor eletroeletrônico no Brasil. Prestes a completar 36 anos neste mês, Buffara, presidente da Britânia, já se envolveu em briga de gente grande do mercado. A última rendeu a ele o direito de uso da marca Philco por 10 anos. Era uma batalha antiga do executivo. Desde que soube do interesse da família Setúbal em se desfazer do ativo, em 2005, o empresário passou a sondar o grupo Itaú, até então controlador da Philco, para fazer uma proposta. Não deu certo. Eugênio Staub, da Gradiente, atravessou o caminho da Britânia e ficou com a Philco por dois anos. Numa crise sem precedentes, a Gradiente foi obrigada a vender a empresa a investidores estrangeiros em 2007. Agora, Buffara pretende dar o troco. Sem alardes, o empresário obteve, em setembro passado, o direito de uso da marca Philco até 2018, após negociação com os chineses da TCL, a atual controladora da companhia. Discretamente, ele prepara o lançamento de uma linha de imagem e som da Philco que inclui microsystem e forno de microondas. Neste mês, começa a chegar nas lojas o home theater da marca. A DINHEIRO apurou que a fabricante pensa até em vender notebooks da Philco e lavadoras de roupas da Britânia. Tudo importado da China. Deve continuar fazendo o que já faz.

Nas lojas, boa parte dos produtos vendidos pela empresa de Buffara vem da Ásia. Em letras pequeninas, a expressão “made in PRC” aparece estampada em batedeiras, aquecedores e secadores de cabelo. É a abreviação de Popular Republic of China. Mesmo com duas fábricas no País, em Camaçari (BA) e São José dos Pinhais (PR), a companhia continua a trazer importados até 30% mais baratos que os nacionais. O negócio vai tão bem que já teria rendido rumores em torno da ampliação do modelo de substituição de importados na Britânia, e o fechamento da fábrica no Paraná. “Temos ouvido isso pelos corredores. Mas não há confirmação”, diz Eduardo Albuquerque, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari (BA). Sobre o assunto, Buffara não fala. Ele precisaria a todo custo de uma marca para atingir um público que não compra produtos com o nome Britânia. São consumidores endinheirados que ainda vêem a marca Philco com certa simpatia. Existe a possibilidade de a empresa importar mercadorias da linha de aço inox, voltadas para a classe A, como adegas de vinho. Também está praticamente descartada a fabricação de tevês da Philco. A empresa acha que seria um tiro no pé entrar num mercado disputado por grupos do tamanho da Samsung, Sony e LG. O plano de fabricação de produtos da Philco na unidade fabril da Gradiente, em Manaus, já foi abortado. A parceria selaria um acordo de paz, no mínimo, irônico.
 

Em julho de 2005, pouco antes de a Gradiente anunciar a compra da Philco, Buffara apresentou uma proposta no valor de US$ 10 milhões (cerca de R$ 22,8 milhões) para o controlador Itaú. Quando as negociações já haviam evoluído, advogados do grupo informaram que o negócio estava desfeito. Deram poucos detalhes, mas disseram que a proposta da Gradiente tinha “evoluído”. O dono da Britânia chegou a subir a oferta para US$ 15,5 milhões (R$ 35 milhões). Não adiantou. A Gradiente pagou R$ 56 milhões em três parcelas. O maior pagamento (de R$ 38,4 milhões) aconteceu em 31 de janeiro de 2006. Parte do dinheiro que saiu, teria entrado de volta. Em 21 de março de 2006, o BNDES liberou empréstimo de R$ 63 milhões para a “expansão dos negócios relacionados com a marca Philco”. Nessa trajetória conturbada, a combalida Philco tenta ressurgir de novo.