ZECA CALDEIRA

DIONÍSIO PESTANA: “O crescimento no Brasil foi bem acima do que imaginávamos”

QUANDO O PORTUGUÊS Dionísio Pestana, 57 anos, dono do grupo hoteleiro Pestana, decidiu que era hora de investir no Brasil, mais precisamente em 1999, ele optou pela cautela, como diriam os próprios portugueses, aos pouquitos. A ideia era inaugurar um hotel no Rio de Janeiro, sentir o mercado e aí, sim, iniciar um processo de expansão que vislumbraria a abertura de uma nova unidade a cada três anos. O processo, porém, veio a galope. Na terça-feira 31, o grupo inaugura oficialmente sua 12a unidade na América do Sul, a décima no Brasil, na cidade de Salvador, em um período de uma década.

Tratase do Bahia Lodge, um misto de hotel com residência, que consumiu investimentos de R$ 28 milhões e inaugura a entrada do grupo português na área de empreendimentos imobiliários residenciais no Brasil. “Achávamos que, se construíssemos um hotel a cada três anos, teríamos muita sorte. Mas o crescimento foi muito acima de tudo o que imaginávamos”, disse Dionísio Pestana com exclusividade à DINHEIRO (leia entrevista na página 76). Só no ano passado, o faturamento de todos os hotéis do grupo no continente sul-americano alcançou R$ 165 milhões – 35% a mais do que em 2007 – e a ocupação média foi de 70%.

O PRIMEIRO E O ÚLTIMO: Pestana Rio de Janeiro (à dir.), inaugurado em 1999, e o Bahia Lodge (acima), em Salvador, que acaba de ficar pronto

“Hoje os hotéis na América do Sul já representam 15% do total de todo o nosso negócio”, diz Pestana. O segredo do grupo para crescer no mercado foi apostar no Brasil quando poucas cadeias hoteleiras viam no País uma boa oportunidade de ganhos. “Eles chegaram na hora certa e nunca deram um passo maior do que a perna”, diz Ricardo Mader, diretor da consultoria Jones Lang LaSalle.

“O Pestana é um grupo conservador que não faz loucuras para ter dezenas de hotéis.” Esse, aliás, é um ponto que Pestana gosta de frisar como crucial para o desempenho da empresa. “Nossas dívidas são limitadas a 30% de nossos ativos”, explica. Com 88 unidades em nove países e faturamento de 457 milhões de euros em 2008, a companhia tem uma política pouco usual no mercado hoteleiro: é dona dos hotéis onde opera. Só na América do Sul, os ativos somam R$ 411,7 milhões. E, se depender dos planos de Pestana, aumentará gradativamente. “Nos próximos dez anos, queremos estar em capitais brasileiras como Brasília e Florianópolis e também em todas as capitais dos países sul-americanos”, diz ele.

Por enquanto, a maior presença da companhia se concentra no Brasil, principalmente no Nordeste, onde possui cinco hotéis. Há quem diga, contudo, que serão apenas quatro, pois comenta- se no mercado que a empresa estuda deixar a Costa do Sauípe, na Bahia, o único lugar onde apenas opera a gestão hoteleira. A despeito disso, os resultados dos hotéis do Nordeste parecem ser promissores. “No primeiro bimestre, apesar da crise econômica, crescemos mais de 25% na região”, diz Roberto Rotter, diretor-presidente do comitê executivo de gestão do grupo Pestana na América do Sul.

No total, somando as outras unidades espalhadas por cidades como São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro, Buenos Aires e Caracas, o crescimento foi de 6%. “Com o aumento do dólar, os brasileiros deixaram de viajar para o Exterior e passaram a viajar mais internamente”, diz Alexandre Sampaio, diretor da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih). “Mas só veremos mesmo o desempenho do setor agora na baixa temporada”, garante. A entrada do Pestana na área de empreendimentos residenciais no Brasil visa, de certa forma, a ter uma nova fonte de receita.

O Bahia Lodge, localizado de frente para a idílica Bahia de Todos os Santos, no bairro de Rio Vermelho, conta com 98 apartamentos, de 30 metros quadrados a 180 metros quadrados, com preços que variam de R$ 206 mil a R$ 1,4 milhão. O comprador, dizem os executivos do Pestana, tem direito a usar o apartamento por um período de três semanas e, no restante do ano, ele funciona como hotel. Para seduzir os clientes, a empresa garante um rendimento mínimo de 6% do total investido em um prazo de cinco anos. “Já vendemos 30% das unidades”, diz Rotter. Mas, como tudo o que o Pestana faz, não há pressa para vender todas as unidades. “Já estávamos preparados para essa crise”, diz Pestana.

“Vamos investir nas capitais brasileiras”

ZECA CALDEIRA

O português Dionísio Pestana, 57 anos, dono da rede Pestana, é conhecido em seu país como o midas da hotelaria. Há mais de 30 anos, ele foi para a Ilha da Madeira, onde seu pai havia construído um hotel de luxo e que estava à beira da falência, para fazer o negócio dar certo. Não só conseguiu arrumar as contas como hoje é dono de uma rede que possui 88 unidades espalhadas pelo mundo e faturou 457 milhões de euros. Na terçafeira 31, ele desembarca no Brasil para comemorar dez anos de presença no continente sul-americano com a inauguração do Bahia Lodge, um empreendimento que consumiu R$ 28 milhões e mescla hotelaria com residências. Trata-se do 12º hotel do grupo na região, uma média de mais de uma unidade inaugurada por ano. Antes, porém, concedeu uma entrevista exclusiva à DINHEIRO. Acompanhe:

DINHEIRO – Que balanço o sr. faz desses últimos dez anos?

PESTANAQuando chegamos ao Brasil, a nossa ideia era ter apenas um hotel e ver o que iria se passar em dez anos. Mas a surpresa e a dinâmica que encontramos no Brasil obrigaram o grupo a repensar a estratégia e crescer com a economia brasileira. Achávamos que, se construíssemos um hotel a cada três anos, teríamos muita sorte. Mas o crescimento foi muito acima de tudo o que imaginávamos.

DINHEIRO – Por que o grupo resolveu investir no Brasil naquela época?

PESTANAPorque o Brasil começou a pensar no turismo como uma indústria, um importante setor estratégico da economia. Aí, como havíamos feito um bom trabalho nos anos 90, sentimos que poderíamos participar disso.

DINHEIRO – Quais serão os próximos passos da empresa?

PESTANA Vamos crescer nos próximos dez anos e vamos entrar em outras capitais brasileiras, como, por exemplo, Brasília e Florianópolis. Ainda não há nada concreto, mas é uma estratégia. Também queremos ter hotéis em todas as capitais dos países sul-americanos.

DINHEIRO – Pela primeira vez o grupo vai inaugurar um empreendimento residencial no Brasil. Como funcionará?

PESTANAÉ como em Portugal. No Algarve, temos três campos de golfe e ao redor deles temos o turismo residencial. Vendemos casas e apartamentos que os proprietários usam de 30 a 45 dias por ano. No restante do ano, colocamos no pool para explorar com turismo; são cerca de 500 casas.

DINHEIRO – O grupo Pestana pretende fazer o mesmo com campos de golfe no Brasil?

PESTANANão, o Brasil não tem potencial para esse segmento. O que vende no Brasil é a praia e o sol.

DINHEIRO – Quem são os maiores compradores dos produtos no Brasil?

PESTANACinquenta por cento são europeus e o restante brasileiros.

DINHEIRO – O grupo sentiu os efeitos da crise econômica?

PESTANAOlha, em nossos 35 anos de história, essa é a quarta crise que apanhamos. Financeiramente, o grupo sempre investiu de forma conservadora, limitando as dívidas a 30% dos nossos ativos, conhecendo os ciclos dos negócios, que geralmente são de sete a dez anos de maturação. Portanto, não estamos em dificuldades financeiras porque já estávamos preparados para essa crise.

DINHEIRO – E na questão das vendas?

PESTANAObviamente, há países que sofrem mais do que outros. Os ingleses, por exemplo, viram a libra se desvalorizar de 30% a 40% e, neste momento, Portugal ficou caro para eles. No caso dos portugueses, do ponto de vista da moeda, eles são capazes de ir para o Brasil, mas estão viajando mais em Portugal. Já os brasileiros vão viajar mais internamente no Brasil.

DINHEIRO – Qual era a proporção de brasileiros e estrangeiros nos seus hotéis?

PESTANANos que são resorts como, por exemplo, em Natal, era meio a meio. Em cidades como Curitiba e São Paulo, são 80% de brasileiros.

DINHEIRO – O sr. acha que isso vai mudar?

PESTANAAcho que sim. Acredito que os europeus irão representar 15% do total de hóspedes no Brasil.

DINHEIRO – Como foi este começo de ano?

PESTANANo Brasil, os resultados dos dois primeiros meses de 2009 foram excelentes, crescemos 6%. Na Europa, nem tanto. Em Portugal, tivemos uma queda de 20%. Mas fomos muito melhor do que os nossos concorrentes por causa da nossa média com Brasil, África e outros países. Um compensa o outro, por isso temos de estar preparados. A nossa política de internacionalização vai evoluir para acompanhar esse balanço durante as crises.

DINHEIRO – Onde o grupo vai investir?

PESTANA Vamos abrir um hotel na Inglaterra, outro na Alemanha e, em 2010, nos Estados Unidos.

DINHEIRO – O sr. é corajoso…

PESTANANão sou corajoso. Nesse negócio, olhamos para o projeto com a visão de dez anos.

DINHEIRO – Na sua opinião, quanto tempo essa crise vai durar?

PESTANA Acho que o ano da virada será 2011.

DINHEIRO – O grupo administra um hotel em Sauípe e no mercado comenta-se que a rede sairá de lá. É verdade?

PESTANAAinda estamos em conversações, não há nada certo.