O empresário Ernani Paciornik, 52 anos, idealizador e organizador do São Paulo Boat Show, maior evento náutico do Brasil, tem acompanho de perto todas as mudanças pelas quais o setor tem passado na última década. No começo, os compradores de barco tinham um único perfil: muito dinheiro na conta bancária. Hoje, não é diferente, mas as proporções são outras. Os barcos também se tornaram uma realidade entre os consumidores da classe média. 

 

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É o que fica evidente no São Paulo Boat Show, que começou na quinta-feira 14 e vai até terça-feira 19. “Tem gente financiando barco em até 60 meses”, diz Paciornik. Do outro lado do balcão, estão os fabricantes nacionais e os expositores estrangeiros. Os primeiros estão otimistas pela desvalorização da moeda americana. 

 

Para eles, isso significa baratear o custo de insumos importados, como os motores e componentes eletrônicos. Já os estrangeiros olham para o Brasil como a grande oportunidade de desovar estoques encalhados por conta da recente crise econômica mundial. “Na Europa está sobrando mercadoria. 

 

Este ano será o salão do comprador, com opção para todos os gostos e bolsos”, diz Paciornik. Estima-se que os 50 mil visitantes gastem cerca de R$ 200 milhões em embarcações. 

 

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São barcos que custam entre R$ 20 mil e R$ 10 milhões. E não é só o consumidor da classe média que tem recorrido aos financiamentos. “Também tem muito milionário que prefere investir em outra coisa e financiar o barco”, diz ele. 

 

A dificuldade será escolher entre os mais variados modelos expostos na feira. Ela contará com 100 expositores – entre eles ícones como Intermarine, Spirit Ferreti, Schaefer e Fairline. 

 

“Estamos tão animados com o mercado que vamos montar uma fábrica no Brasil para atender às encomendas de todo o continente americano”, diz Ubirajara Guimarães, um dos representantes da inglesa Fairline no País. 

 

Detalhe: um modelo como o Targa 58, exposto no São Paulo Boat Show, custa R$ 4,8 milhões. O ânimo do empresário pode ser explicado por uma combinação de fatores econômicos, como o aumento do poder aquisitivo e o fortalecimento do real frente ao dólar. Isso fez com que as vendas de barcos de lazer crescessem 10% desde 2007. 

 

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Só no ano passado, o setor movimentou US$ 510 milhões e a previsão para este ano é de alcançar US$ 580 milhões. “Vamos fechar 2010 com algo entre 4,6 mil e 4,8 mil barcos produzidos aqui”, diz Eduardo Colunna, dono do estaleiro que leva seu sobrenome e presidente da Associação Brasileira dos Construtores de Barcos (Acobar). 

 

Além do cenário econômico favorável, outro fator que explica o crescimento do setor é a redução dos tributos sobre as embarcações. No ano passado, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) caiu de 25% para 7% nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina – os principais produtores. 

 

Já o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) caiu de 24% para 10% nos últimos anos. O efeito disso? “Hoje, aquele consumidor que poderia comprar o terceiro carro está optando por um barco”, diz Colunna, que produz cerca de 100 embarcações por ano – cujos preços variam entre R$ 60 mil e R$ 350 mil. 

 

Esse comportamento pode mudar as estatísticas internacionais. Para se ter uma ideia, enquanto na França há um barco para cada 63 habitantes, no Brasil são 300 habitantes por embarcação. Na Suécia, essa proporção chama ainda mais atenção. Há pelo menos um barco para cada sete habitantes.