09/12/2023 - 13:01
Quando as chamas consumiram Notre Dame em 2019, as pessoas que trabalhavam na catedral se sentiram órfãs. Mas à medida que se aproxima a reabertura do mundialmente famoso cartão-postal de Paris, elas começam a imaginar o retorno ao lugar que chamam de casa, e estão impacientes para encher de vida novamente a cantaria restaurada e os vastos espaços.
A restauração de Notre Dame atingiu um marco na sexta-feira: falta um ano para que a catedral reabra suas imensas portas ao público, em 8 de dezembro de 2024. O presidente francês Emmanuel Macron irá colocar um capacete e visitar a área cercada das obras de reconstrução, onde canteiros, carpinteiros e centenas de outros artesãos estão trabalhando para cumprir o prazo de 12 meses.
Quando o trabalho estiver concluído, eles o entregarão aos padres, funcionários, coristas e fiéis de Notre Dame. Com orações, canções e devoção, darão à catedral o beijo da vida e da festa para afastar a dor que o incêndio de 15 de abril de 2019 causou nos corações dos franceses e dos fiéis católicos em todo o mundo.
Notre Dame não é “a maior catedral, talvez nem a mais bonita”, disse à Associated Press esta semana seu reitor, Mons. Olivier Ribadeau Dumas, mas “é a encarnação da alma de um país”.
“As expectativas, os preparativos para a reabertura são um magnífico sinal de esperança em um mundo difícil”, diz.
Henri Chalet, regente principal do coro, já sente frio na barriga só de pensar. Por um lado, ele diz a si mesmo que nos mais de 850 anos de história de Notre Dame, o fechamento é apenas um instante, e ele precisa ter um pouco mais de paciência. Mas para uma vida humana, “cinco anos é muito tempo”, diz, e “infelizmente, em 850 anos, recaiu sobre nós”.
“Estamos obviamente impacientes para retornar”, diz. “É realmente a nossa casa, no sentido de que estávamos lá todas as noites para a missa e também para os concertos semanais.”
“Agora, sentimos que há de fato uma luz no fim do túnel”, comemora, “com muita alegria, entusiasmo, e um pouco de estresse”.
Da perspectiva das obras de reconstrução, os avanços recentes foram notáveis. Enormes vigas de carvalho, montadas usando técnicas de carpintaria desenvolvidas quando Notre Dame foi construída, no período medieval, foram içadas até o alto para que a catedral possa receber um novo telhado. O imponente pináculo agora aponta novamente para os céus, reconstruído peça por peça por trás de 600 toneladas de andaimes.
Durante a visita de Macron, o nome de um general francês reformado, que comandou a dispendiosa restauração até a sua morte, será gravado na madeira do pináculo como forma de homenagem. Jean-Louis Georgelin morreu em agosto, aos 74 anos.
E quando milhões de visitantes olímpicos chegarem a Paris para os Jogos Olímpicos que começam em 26 de julho, o pináculo reconstruído e o telhado já devem estar concluídos, dando à catedral uma aparência externa bem acabada.
O trabalho continuará do lado de dentro. Entre as tarefas dos meses finais está a afinação do estrondoso órgão de 8.000 tubos da catedral, o maior instrumento musical da França. Ele sobreviveu ao incêndio mas precisou ser desmontado, para que fosse feita a limpeza da poeira tóxica de chumbo gerada pela queima do telhado, e então remontado. As reformas continuarão após a reabertura.
A própria força de trabalho da catedral está sendo expandida. Ela havia sido reduzida a sete funcionários em razão do fechamento para reforma. Dumas, o reitor, diz que uma campanha de contratação no ano que vem deve recompor o número de funcionários em tempo integral a cerca de 50, para receber de volta os 15 milhões de visitantes e fiéis anuais para os quais a diocese de Paris está se preparando.
A corista Adrielle Domerg, que tinha 10 anos quando entrou para o coro de Notre Dame, e atualmente tem 17, diz que a catedral é “quase uma pessoa” para ela.
“Uma multidão de pessoas, de sonhos, de orações deram origem a ela”, diz Domerg, que cantou lá com o coro pela última vez dias antes do incêndio, e anseia fazê-lo novamente.
“Vai ser muito emocionante”, diz. “A catedral, de certa forma, despertará, e nós a tiraremos das sombras.”