Era um final de tarde, em novembro de 2007, quando o pequeno empreiteiro Sidnei Borges do Santos, 35 anos, dono da BS Construtora, observou uma caixa de sapatos pousada sobre a mesa no seu escritório, em Sorriso (MT). Olhou-a atentamente e começou a rabiscar portas e janelas na própria caixa, numa brincadeira típica de criança. Foram esses traços aparentemente inocentes, contudo, que deram forma a um sistema revolucionário que já resultou na construção de 3,3 mil residências no Brasil.
 

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Linha de montagem: feitas de concreto, as casas são construídas em módulos
que depois são levados ao canteiro de obra, onde recebem acabamento

 

Batizado de Casa Rápida, o método em nada lembra a técnica convencional de empilhar tijolo sobre tijolo. Ao contrário. O sistema bolado por Santos prima pela simplicidade. Os cômodos são moldados em formas de aço e depois transportados até o local da obra onde são unidos e cobertos com um telhado convencional. Esse método permitiu que Santos criasse uma forma sustentável de fabricar casas em tempo menor e com custo reduzido. Com a pré-moldagem, os desperdícios comuns na construção civil ficam próximo de zero ? o que significa um consumo menor de recursos naturais, além de agredir menos o meio ambiente.

?Sempre imaginei que seria possível fabricar casas em uma linha de montagem, da mesma forma como são feitos os automóveis?, diz. Hoje, com duas fábricas ? uma em Sorriso e outra em Porto Velho (RO) ?, esse ex-pedreiro é dono de uma companhia que deverá faturar R$ 500 milhões em 2010, 150% a mais do que no ano passado.

 Para alcançar essa meta, ele embarca para o Senegal, na próxima semana, onde encontrará o presidente Abdoulaye Wade. Juntos, discutirão projetos de habitação popular que deverão culminar na abertura de uma filial da BS Construtora naquele país. O mesmo deverá ser feito no Uruguai, no Chile e na África do Sul até o final do ano. 
 

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Em dois tempos: experiência como pedreiro foi decisiva para o sucesso profissional do empresário Santos

A expansão internacional deverá impulsionar o negócio. A meta para este ano é construir 20 mil casas, sendo metade delas no Exterior. E, para instalar a filial no Senegal, ele pretende recorrer a empréstimos bancários, dando como garantia os contratos assinados com o governo. Esse será um dos passos mais ousados desse empresário vidrado em desafios. Santos resolveu se aventurar na área depois de perder uma concorrência para a construção de armazéns pré-moldados para a fábrica que a Sadia estava erguendo na cidade de Lucas do Rio Verde (MT).

Nem ele imaginaria que, um ano depois, o primeiro contrato do Casa Rápida seria assinado com a própria Sadia, que pretendia erguer residências para seus operários. O projeto previa a entrega de 1,5 mil residências em um prazo de um ano e ele concluiu com um mês de antecedência.

?Passei a ser um profissional disputado pelo mercado?, conta. Em 2009, ele assinou um contrato de R$ 200 milhões com as empreiteiras que tocam a Usina Hidrelétrica de Jirau. A companhia vai erguer uma cidade com 1,6 mil casas, posto de saúde e escola, em Porto Velho (RO).

Quem observa os números da BS Construtora nem imagina o passado de Santos. Ele começou a trabalhar cedo na colheita de trigo em Xaxim (SC), sua terra natal. Como não concluiu o primário, viu no ofício de pedreiro a chance de mudar de vida. Aos 18 anos, se mudou para Sorriso para trabalhar com o primo. O negócio não deu certo e Santos se virou sozinho.

Em 1994, animado com o boom imobiliário na vizinha Lucas do Rio Verde, que havia se transformado num importante polo de produção de soja, ele montou uma pequena empreiteira. E assim como o personagem do poema ?Operário em Construção?, de Vinícius de Moraes, ele passou a ?erguer casas onde só havia chão?.