Nos últimos 50 anos, dezenas e dezenas de grandes empresas montaram unidades na Suíça. O motivo era, em geral, o mesmo: aproveitar a benevolência tributária do país, considerado um paraíso fiscal para investidores. Berço de multinacionais como Nestlé, Roche e Novartis e de bancos como Credit Suisse e UBS, o país atraiu nas últimas décadas companhias americanas como Caterpillar, General Motors e Oracle, além de vizinhas européias como a alemã SAP. Zurique, Basiléia e Berna são algumas das cidades que concentram os bilhões de dólares em investimentos movidos a incentivos fiscais. Mas quando a decisão de onde colocar o dinheiro cabe à elite suíça, o destino escolhido é diferente. Em lugar desses grandes centros financeiros, os milionários nativos preferem a quase desconhecida Schwyz, uma das cidades mais pacatas do país. Com apenas 130 mil habitantes, esta estação de esqui abriga orgulhosamente a Victorinox, fabricante dos canivetes mais famosos do planeta. Fora isso, pouco difere das demais cidadezinhas suíças: paisagem alpina, casinhas organizadas, jardins bem cuidados, ruas limpas e pessoas caminhando pelas ruas com botas de esqui a tiracolo. O que faz de Schwyz um lugar especial é que ela é, para os suíços, o que a Suíça é para o resto do mundo: o melhor dos paraísos fiscais.

A cidade é o lar adotado por celebridades locais, donas de grandes fortunas, como o milionário Martin Ebner, acionista de gigantes como a ABB e responsável pela oferta hostil que entregou à farmacêutica Novartis mais de 20% das ações sem direito a voto da sua principal concorrente, a Roche. Como a fama de Schwyz se espalhou mundo afora, é fácil cruzar por ali também com famosos internacionais, de Tina Turner e David Bowie ao piloto alemão Michael Schumacher. A badalação tem um bom motivo. Com um PIB per capita de US$ 54 mil, o cantão (estado) de Schwyz, ao contrário dos demais da Suíça, não cobra imposto sobre grandes fortunas. O imposto de renda é progressivo, ou seja, cobrado de acordo com o rendimento de cada um, mas nunca supera os 3,6%, ficando muito abaixo da média nacional. Para os casados, a taxa máxima recua a 1,9%. E a cidade se orgulha disso. No seu site, informa ter os menores impostos do país, tanto para pessoas físicas como para jurídicas. Dentro da Suíça, Schwyz só tem dois concorrentes: Zug, outro paraíso fiscal dentro do País, e Herrliberg, na chamada Costa do Ouro, onde vivem mais alguns famosos milionários.

Quem pensa que essa vida de mordomias é considerada normal pelos suíços, se engana. No final dos anos 90, preocupados com a fama de destino de dinheiro sujo, como o do tráfico de drogas, os bancos suíços foram obrigados a pedir mais informações sobre a origem dos grandes montantes que entravam nos seus cofres. O mesmo acontece agora dentro da Suíça. O governo, por conta da pressão popular, começa a elaborar um plebiscito para saber se esses cantões devem ou não mudar suas regras tributárias. Os milionários de Schwyz, é claro, rejeitam a idéia. Mas a classe média está preocupada com a imagem da Suíça, principalmente no exterior. O resultado é imprevisível. Recentemente, além da recusa em integrar a zona do euro, os suíços rejeitaram proposta dos sindicatos locais para reduzir a carga horária dos trabalhadores de 40 horas para 36 horas semanais. Estará o paraíso com os dias contados?