12/11/2003 - 8:00
A tortuosa pista de cascalho, ladeada por idílicos picos de neve, leva a um lugar inóspito, quase intocável. Depois de quatro horas pelo caminho Austral, na Patagônia chilena, a 1,2 mil km de Santiago, avista-se o cais. A partir daí, a única rota possível é realizada de barco. No convés, o vento sopra gelado, chega a ser cortante, mas eis que surge um paraíso construído pelo homem em uma terra sublime por natureza. O hotel Puyuhuapi é o mais charmoso e glamouroso da Patagônia Norte. Ao seu redor, apenas fiordes, canais, matas virgens, ilhas desabitadas e a majestosa Cordilheira dos Andes. Um cartão postal para 79 hóspedes que têm ao seu dispor um serviço exclusivo com direito a spa, passeios pelos lugares mais longínquos do planeta e uma infra-estrutura de causar inveja em muito hotel incrustado em meio à civilização. Um lembrete: não há televisão. A idéia é fazer com que as pessoas se desliguem do cotidiano.
O ambiente é um convite ao requinte. Em estilo rústico, o Puyuhuapi Resort é todo construído em madeiras nobres típicas da região. Os móveis, por exemplo, são confeccionados em pino de riga. As paredes, de mañio, e o telhado, de alerce. São materiais que resistem às duras condições climáticas na imensidão gelada. A diária de cada um dos 31 quartos, com vista para a baía Dorita, custa US$ 500. A culinária também se mostra exótica aos paladares estrangeiros. Um dos pratos que fazem sucesso é a porção de puye. Trata-se de uma pequena enguia, abundante na região, cozida em azeite de oliva, pimenta vermelha e louro. O modo como é servido também resgata as tradições do povo nativo. Um séquito de funcionários traz a iguaria em uma tigela de barro pronta para ser degustada.
Gelo de 40 mil anos. O Puyuhuapi pertence aos Kossmann, uma abastada família chilena dona do Arsenav, o maior estaleiro do país. Por isso, não faltarão barcos para explorar a região. Um dos passeios imperdíveis é a visita à geleira de San Rafael. Os hóspedes embarcam em um catamarã de luxo e, cinco horas depois, ficam frente a frente das impressionantes paredes de gelo com uma coloração azul. Ao chegar no local, os passageiros desembarcam em botes e navegam entre os icebergs. O passeio atinge o ápice quando um dos guias saca uma pequena picareta e tira uma lasca de gelo para cada pessoa. O motivo: apreciarão um uísque com uma pedra de 40 mil anos de idade.
O retorno ao hotel é um presente dos deuses para aqueles que pretendem relaxar em grande estilo. O spa do Puyuhuapi é dotado de termas naturais. As águas, com uma temperatura de 36º C, são aquecidas pela atividade dos 14 vulcões presentes nos arredores do hotel. Como elas têm várias propriedades terapêuticas, combatem o estresse e fazem bem à pele. Quem se trata nas deliciosas águas do hotel, nem imagina que as maravilhas do local foram descobertas há pouco tempo. A colonização da Patagônia começou em 1898. A primeira estrada, que possibilitou o acesso à energia elétrica e à infra-estrutura, foi inaugurada em 1976. Antes, quem ficava doente, viajava por dias até alcançar a civilização. Agora, é o luxo que anda de mãos dadas com a natureza.