Pela primeira vez desde junho de 2011, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou os juros. A justificativa para a alta foi a aceleração da inflação, que estourou o teto da meta (6,5% ao ano) em março. No mês passado, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses registrou uma alta de preços de 6,59%, acima dos dois pontos percentuais de tolerância em relação ao centro da meta, que permanece em 4,5%. Elevar os juros para reduzir o ritmo da economia e aliviar a pressão de alta dos preços é uma decisão prescrita por qualquer manual de economia. 

 

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No entanto, ao aumentar a Selic de 7,25% para 7,5% ao ano, Alexandre Tombini, presidente do Banco Central (BC), teve o raro condão de desagradar a gregos e a troianos. Por um lado, ele enfureceu os defensores de juros baixos, que classificam qualquer endurecimento da política monetária como uma rendição aos malvados especuladores do mercado financeiro. Por outro, desagradou aos que advogam uma política mais ortodoxa. Para eles, a alta seria pífia, incompatível com a atual gravidade da inflação. Opiniões à parte, a inflação tem estado consistentemente elevada. Evitemos contaminar a análise com os vaivéns do preço dos alimentos. 

 

O tomate, que recentemente tornou-se o inimigo público número 1, responde apenas por 0,18% do índice de inflação. Na média, a cada R$ 100 dispendidos, apenas R$ 0,18 são gastos com tomate. O fato de essa cifra ter subido de R$ 0,18 para R$ 0,33 entre abril de 2012 e março de 2013 não é uma boa notícia. Porém, em termos econômicos, o tomate é irrelevante. O que preocupa é que, expurgando-se os alimentos dos índices de preços, obtemos o chamado núcleo da inflação. No caso do IPCA, o núcleo do indicador tem estado ao redor de 6,3% nos últimos 12 meses. Ou seja, mesmo sem o abacaxi das tomatadas, os preços estão subindo acima da meta, embora permaneçam tecnicamente dentro do intervalo de tolerância.

 

As causas para a alta de preços são bem conhecidas, e muitas delas são motivo de comemoração. Por exemplo, a elevação consistente do poder de compra dos assalariados e a expansão do crédito. Já outros motivos são lamentáveis, como os gargalos da infraestrutura e as ineficiências da burocracia. A solução rápida, ortodoxa e impopular é elevar os juros e estrangular o crédito, algo que, no Brasil, é ineficiente. A solução adequada é resolver os problemas estruturais da economia e exterminar os burocratas, algo muito demorado e quase impossível em um país em que o reconhecimento de firma em cartório ainda faz parte da paisagem. 

 

Portanto, a solução politicamente possível é fazer algo que horroriza o mercado financeiro e os economistas ortodoxos: conviver com a inflação por algum tempo, esperando que, aos poucos, o ganho de produtividade torne a economia capaz de digerir a expansão da demanda – e correr todos os riscos de um país no qual a memória da indexação ainda não se dissipou totalmente. A indicação é que o governo Dilma resolveu correr esse risco, apostando em uma maior flexibilidade da economia brasileira. No entanto, ao elevar os juros em apenas 0,25 ponto percentual, Tombini mais confunde do que esclarece. Para empresários e investidores seria melhor que o governo admitisse que fez uma opção pelo crescimento e está disposto a pagar o preço de uma inflação mais alta, em vez de assumir uma postura dúbia. Sempre é bom lembrar que o decantado espírito animal do empresário carrega uma boa dose de oportunismo e aversão à incerteza: se é para correr o risco de inflação, que ele seja conhecido.