Conran: “Trabalhar para executivos e para estrelas do rock tem mais similaridades do que se imagina”

A banda de rock inglesa The Clash foi, ao lado do Sex Pistols, um dos maiores ícones da rebeldia punk na segunda metade dos anos 70. Considerados “bagunceiros pensantes”, declararam o fim da beatlemania e criaram uma nova era do gelo nos versos de seu maior sucesso, London Calling (1979), ao mesmo tempo que renovavam o velho rock’n’roll. Além do vocal e da genialidade de Joe Strummer, um outro homem estava por trás da atitude libertária. Trata-se do inglês Sebastian Cconran. Ele era o responsável pela arte dos discos, pelos pôsteres, pelo figurino – era uma espécie de propagandista da era punk. Hoje, Conran, aos 53 anos, é um nome de peso no design inglês, em especial nos trabalhos relacionados ao mercado de luxo. Eentre eles, embalagens para o champanhe Moët & Chandon e para a grife francesa de cosméticos Lâncome, além da elaboração no design do veículo Nissan Micra C+C e exposições nos museus de Londres, como a mostra London World City, realizada no Museu de Londres. “Trabalhar para executivos e para estrelas do rock tem mais similaridades do que se imagina. Ambos se preocupam com os mínimos detalhes e buscam a perfeição”, disse à DINHEIRO Conran, que esteve no Brasil, na semana passada, a convite do consulado britânico.

“Estava muito ansioso para conhecer o Brasil e o design brasileiro. Os produtos de cada local são um reflexo de seu povo”, conta Conran. Ao dizer isso, ele se refere ao pensamento de praticidade que segue o design alemão, a nacionalidade impressa nos produtos japoneses e mesmo a sofisticação e praticidade britânica. Além disso, Conran revela-se um entusiasta da produção em grande escala, mesmo quando essa se aplica ao mercado de luxo.”Vejo a oportunidade de design onde há volume. Não é algo para poucos, o design tem de ser democrático”, aponta. Sua ideologia inclui um design para as multidões, que torna a vida mais prática, além de agregar valor ao produto a ser fabricado. Essa ideologia, na verdade, já tornou-se uma verdadeira tradição na família de Conran. Seu pai, Terence Conran, sir Terence Conran desde 1983, diga-se de passagem, é considerado o patriarca do design britânico e internacional do pós-guerra.

Luxo e rock’n’roll: seus trabalhos incluem desenhos para o mercado premium, como o Nissan Micra C+C (à cima), a edição especial da garrafa de Moët Chandon (ao lado) e para o grupo musical The Clash (à acima dir.)

Conran cria objetos para serem produzidos em grande escala, como a balança equilibrium (foto acima), pois acredita que o design deve ser democrático

 

No final da década de 40, a economia da Inglaterra, assim como a de muitos outros países da Europa, estava em frangalhos. Com uma mão de obra cara, a economia britânica se reergueu ao oferecer serviços e agregar valor a seus produtos. Não por coincidência, na mesma nação onde nasceu a revolução industrial, Terence, o pai de Conran, promoveu uma mudança na forma de pensar o design. Seu maior feito? Ter criado uma companhia de móveis, a Habitat, em Londres, que mudou a forma como o design é pensado no mundo. É que a Habitat, com o conceito de “monte você mesmo”, levou a Iinglaterra de um pós-guerra austero e sem graça para uma nova dimensão do que a decoração de uma casa poderia ser. Isso inspirou o reaquecimento da economia. Para Conran, o pai, o bom design deve estar disponível para todos, e não para apenas alguns. E, dessa forma, o sobrenome Conran tornou- se sinônimo de design na Inglaterra. “Assim como o estúdio Pinifarina, na Itália, mantém a tradição de design há gerações, os Conran são sinônimo de excelência em design na Inglaterra”, explica Leo Mangiavacchi, diretor do departamento de design do Istituto Europeo di Design em São Paulo. A única diferença, talvez, é que Conran acaba de partir para um voo solo. Eele saiu do tradicional & Partners, de sua família, para montar um escritório próprio. O motivo ele não revela, mas dá uma dica. “Negócios em família às vezes podem ser complicados. Se você ler o Rei Lear de Shakespeare, talvez você tenha uma ideia do que estou falando.” Uma nova história do design só está começando.