04/02/2009 - 8:00
UMA NUVEM PAIRA constantemente sobre a indústria farmacêutica: de tempos em tempos, a patente de um medicamento, que consumiu centenas de milhões de dólares em seu desenvolvimento, expira, cai em domínio público e as vendas secam de uma hora para outra. Foi pensando nisso que, na semana passada, a americana Pfizer anunciou a compra da compatriota Wyeth por US$ 68 bilhões, o maior negócio do setor nesta década. A ideia da Pfizer é se preparar para a queda de receita que certamente virá em 2011, quando expira a patente de seu principal remédio: o Lipitor, usado no combate ao colesterol. Só no ano passado, a empresa faturou US$ 12,4 bilhões apenas com esse medicamento. Com a incorporação da Wyeth, a Pfizer quer reforçar seu mix de produtos, especialmente nas áreas de vacinas e antidepressivos. No longo prazo, o objetivo é distribuir as receitas para que nenhum remédio responda por mais de 10% do faturamento total, disse o presidente da companhia, Jeffrey Kindler. Esse é um passo fundamental. Afinal, cresce entre acionistas e investidores a sensação de que a Pfizer investe pouco em novos produtos e depende demais de drogas cujas patentes estão perto de caducar. Kindler pede paciência, pois a melhor distribuição das receitas só deve se concretizar em 2012.
PFIZER PAGOU US$ 68 BILHÕES PELA WYETH, MAIOR NEGÓCIO DO SETOR DESDE O ANO 2000
Com a fusão, a receita anual da Pfizer irá crescer 45%. Mas nem sempre os tiros nesse setor são certeiros. No passado, a empresa gastou US$ 90 bilhões na Werner Lambert e a aposta deu certo, pois com a empresa veio o Lipitor. Por outro lado, ela comprou a Pharmacia por US$ 57 bilhões, de olho nas drogas Celebrex e Bextra. Ambas tiveram de ser retiradas do mercado, a primeira por ser semelhante ao malfadado Vioxx e a segunda por causar muitos efeitos colaterais. O negócio também desperta desconfiança interna e externa. Os trabalhadores ainda se recordam dos maus bocados que se seguiram à compra da Pharmacia – o próprio Kindler admite isso. Mas ele alega que a empresa “aprendeu com o passado” e está mais preparada para essa fusão. Os 15 mil cortes e o fechamento de cinco unidades, promovidas por ele desde 2006, teriam sido parte da preparação. Mas novos sacrifícios terão de ser feitos: outros 19 mil serão demitidos e o dividendo pago aos acionistas será cortado pela metade. O mercado reagiu mal ao negócio e as ações da Pfizer caíram 10% em Nova York no dia do anúncio. Para o público em geral, a união só trará mudanças depois de 2012, quando devem surgir as primeiras drogas desenvolvidas em conjunto pelas duas empresas. Como os investidores, os consumidores também terão que ter paciência.