Dois anos de negociações familiares terminaram em separação amigável no Grupo Safra. Os irmãos José e Moise Safra, controladores do conglomerado financeiro, anunciaram na segunda-feira 24 que chegaram a um acordo pelo qual o primeiro assume a totalidade do capital do grupo. Moise vendeu sua participação de 50% no negócio, deixando José na condição de único acionista. Fiel ao estilo discreto dos Safra, o comunicado ao mercado só revela o indispensável: a estrutura e o valor do capital não serão alterados, e os irmãos ganham ?maior flexibilidade para manter e desenvolver seus próprios negócios?. Valores não vieram à tona. Nem pistas sobre que negócios serão desenvolvidos ? sobretudo no caso de Moise, que, segundo cálculos de analistas, embolsou coisa de R$ 5 bilhões para se desfazer das ações.

Dentro do Safra, o movimento é visto como um modo preventivo de resolver conflitos familiares ? leia-se risco de confusão na partilha. Parte do banco a informação de que não houve guerra entre os irmãos, mas apenas uma discussão sobre preço, apimentada por ?fofocas da sociedade?. ?Houve dias em que saíam notas sobre a suposta briga enquanto eles almoçavam tranqüilamente no banco?, revela um funcionário, em rara indiscrição.

Ainda que serena, a negociação entre os Safra foi longa e atribulada. A primeira oferta de José pelos 50% de Moise foi feita em 2004 e não teria se equiparado nem mesmo ao patrimônio líquido do grupo. Pela solidez da holding e os parâmetros do mercado brasileiro, seria de se esperar algo entre duas e três vezes o valor patrimonial. Moise disse ?não? e saiu em busca de um comprador para sua metade. Chegou a contratar a casa Rothschild para intermediar a venda para terceiros, mas não surgiram interessados. Cogitou uma oferta pública de ações (IPO), e também não obteve demanda. Claro, adquirir metade de um banco com o DNA de um de seus fundadores (José Safra) impregnado até nas caixas registradoras seria naturalmente complicado. Pior ainda quando se sabe que, desde 2004, o Banco Safra tem um apêndice chamado J.Safra, que opera nos mesmos nichos e oferece serviços aos mesmos clientes da matriz. ?Nessas circunstâncias, o único comprador possível era mesmo o José?, diz o diretor de um banco concorrente.

Dado o tom amigável da separação, a suposição geral é de que o negócio tenha sido fechado dentro dos parâmetros do mercado. O patrimônio líquido do Banco Safra é de R$ 4 bilhões. Se José pagou o dobro desse valor ? como fez o Itaú na aquisição do BankBoston ?, os 50% de Moise teriam custado R$ 4 bilhões. É preciso, porém, acrescentar na conta o que foi pago pelas outras empresas do grupo dentro e fora do Brasil (leia quadro). ?Estamos falando em pelo menos R$ 5 bilhões. Provavelmente mais?, calcula um dos mais experientes banqueiros de investimentos do País. Feita a conversão, são US$ 2,27 bilhões. Pouco mais do que o Itaú pagou pelo Boston (US$ 2,2 bilhões) e quase o que o UBS desembolsou para arrematar o Pactual (US$ 2,5 bi). Isso tudo, por apenas metade do Safra.

A aposta do mercado é que, agora, o Banco J.Safra será incorporado à nave mãe. Não há mais razão para competição dentro de casa. A grande incógnita são os próximos passos de Moise. Fora do grupo, ele só tem uma gestora de recursos, a M.Safra, focada na administração do patrimônio de seu ramo da família. Transformá-la em uma poderosa butique de investimentos é uma possibilidade, ainda que modesta. Os bilhões pagos por suas ações seriam suficientes para montar um novo banco. ?Mas nesse tipo de acordo há sempre uma quarentena até o vendedor voltar ao mercado?, pondera um especialista. Restaria a Moise mudar de ramo ? o que só aumenta a curiosidade sobre seu futuro. Pode estar surgindo um empreendedor de peso no cenário nacional.

BEM MAIS QUE UM BANCO
O que há no grupo financeiro Safra

No Brasil
? Banco Safra
? Banco Safra de Investimento
? Safra Leasing
? Safra DTVM
? Safra Corretora
? Safra Seguros Gerais
? Safra Vida e Previdência
? Safra Comércio e Serviços

No Exterior
? National Bank of New York
? Banque Safra Luxembourg
? Banque Safra-France
? Safra International Bank and Trust
? I.F.E. Safra (Uruguay)