Um senhor de 74 anos, cabelos brancos e modos simples detém um dos segredos mais cobiçados do universo empresarial brasileiro ? um sigilo de US$ 300 milhões. Orlando de Araújo, português que chegou garoto ao Brasil, é o guardião da fórmula do Guaraná Antarctica.

Mantida em envelope lacrado e guardada em cofre-forte, ela só pode ser interpretada com a ajuda de um manual de decodificação. A solidão de ?seu? Araújo só não é total porque ele divide o segredo com o único ajudante, um técnico cuja identidade ele oculta sob o codinome ?elemento?. ?Todo cuidado é pouco?, diz Araújo, que dedicou 50 anos de sua vida à Antarctica. Único refrigerante brasileiro presente na lista dos 15 mais vendidos do planeta, o Guaraná prepara-se para ul-trapassar as fronteiras brasileiras. Um acordo firmado entre a Ambev e a Pepsi levará a bebida a 175 países. Até 2005, a companhia quer deter 1% do mercado mundial, estimado em US$ 70 bilhões.

Desde o início deste ano, Araújo não dá mais expediente nos laboratórios da Antarctica. O ?dono? do segredo do Guaraná tornou-se consultor da Ambev e se mantém a postos para a produção do concentrado aromático, a alma do Guaraná. Hoje, o estoque dessa substância é suficiente para os próximos dois anos. ?Mas, se preciso, volto para fazer mais?, conta Araújo. A produção do concentrado é praticamente artesanal: Araújo e o ?elemento? se fecham no departamento de essências e misturas da empresa, uma sala de menos de 30 metros quadrados, para fazer as combinações. Ao chegar às fábricas, os funcionários fazem a mistura final, lendo instruções em códigos alfanuméricos. ?As ordens são assim: mistura a substância GPQ 12 com a F9 e a 522. Ninguém sabe direito o que está fazendo?, conta. Decisão do Conselho de Administração determina que o cofre poderá ser aberto somente no caso da morte das duas pessoas que conhecem a fórmula do refrigerante.