A língua portuguesa não é o idioma mais falado entre os CEOs de três das cinco principais empresas de telefonia no Brasil. Na próxima semana, o espanhol Luis Miguel Gilpérez López deve se somar a essa lista, integrada pelo italiano Luca Luciani, da TIM, e os mexicanos José Formoso, da Embratel, e Carlos Zenteno, da Claro. O executivo é o mais cotado para assumir o comando unificado das operações da Telesp e da Vivo, controladas pela Telefônica no Brasil. 

Na quarta-feira 4, ele esteve ao lado de Roberto Lima, presidente da Vivo, que anunciou sua saída da empresa de telefonia celular. Na encontro, Lima chamou-o de “o chefe”. O título parece fazer sentido. Em setembro do ano passado, Gilpérez, como é mais conhecido no mercado, foi designado por César Alierta, o presidente mundial da Telefónica, para comandar a fusão das operadoras fixas e móveis no Brasil. Na próxima terça-feira 10, quando o conselho de administração da Telesp se reúne, ele deve ser confirmado como o responsável pela nova empresa. Antonio Carlos Valente deve se manter na presidência do grupo,  mesma posição que ocupa atualmente, com funções institucionais.

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Olé na concorrência? Gilpérez foi escolhido por Cesar Alierta, chefão da Telefónica,

para unir a Telesp com a Vivo. Agora, deve assumir o comando da companhia

 

Com 51 anos de idade, 30 deles a serviço da Telefónica, Gilpérez é considerado um executivo discreto e de confiança da cúpula espanhola. É avesso a entrevistas e fotografias à imprensa. Caso seja confirmado no cargo, vai assumir a direção da maior empresa de telecomunicações do Brasil, com uma receita líquida de R$ 33,9 bilhões, em 2010, e mais de 76 milhões de clientes, número maior do que a população da Espanha. Gilpérez precisará, no entanto, da habilidade de um toureiro para domar a nova operação. 

 

Seu desafio é conseguir fazer a integração das duas empresas, sem que haja uma descontinuidade nos serviços.  “Tanto Vivo, como Telefônica, estão passando por um bom momento de crescimento”, diz Eduardo Tude, presidente da consultoria especializada em telecomunicações Teleco. No ano passado, a Telefônica lucrou R$ 2,4 bilhões. A Vivo, R$ 1,9 bilhão. O executivo terá também a missão de levar a totalidade dos serviços da operadora de origem espanhola para todo o Brasil. 

 

Hoje, com exceção da telefonia celular, eles estão restritos ao Estado de São Paulo. Caberá a Gilpérez a execução de um plano que prevê que as duas empresas unificadas gerem sinergias de 4,2 bilhões de euros. Para atingir essa meta, um de seus objetivos é fazer uma oferta de serviços convergentes, que incluam no mesmo pacote telefonia fixa e móvel, banda larga e tevê por assinatura. Os clientes corporativos da operadora espanhola já recebem ofertas combinadas das duas companhias. No próximo ano, será a vez dos consumidores. A marca que vai prevalecer é a da Vivo. 

 

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Missão cumprida: Roberto Lima (à esq.) deixa a Vivo lucrativa e na liderança do mercado.

Valente, da Telefônica, deve ser mantido na presidência do grupo

 

Apesar de ser o maior grupo de telecomunicações do Brasil, a Telefônica não lidera em todas as áreas em que atua. Na telefonia fixa, a Oi é a primeira colocada, assim como em banda larga. Nesse caso, a operadora luso-brasileira tem a seu favor o fato de estar presente em todos os Estados, com exceção de São Paulo. 

 

Em tevê por assinatura, a NET, na qual os mexicanos da América Móvil, donos da Embratel e da Claro, têm uma participação expressiva, lidera. Só em telefonia celular é que os espanhóis detêm a dianteira. Mas, para isso, tiveram de gastar uma caravela abarrotada de euros para comprar a fatia da Portugal Telecom (PT) e assumir o controle da Vivo, no ano passado.

 

A tarefa de Gilpérez é avançar nessas áreas, mas resguardando a rentabilidade. Quem o conhece, diz que ele trabalha diuturnamente, sempre focado em atingir os resultados propostos por seus chefes. “É um executivo duro, justo e pragmático”, afirma Álvaro Roquette, que foi par de Gilpérez no conselho de administração da Vivo. “Tem uma grande capacidade de negociação.” No final de 2005, Gilpérez foi enviado pela primeira vez ao Brasil em uma operação de emergência, ao lado dos portugueses da PT, para estancar os prejuízos da Vivo. 

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A companhia definhava com a perda de clientes e as altas taxas de clonagens de seus celulares. Com um plano bilionário, que incluiu uma arriscada substituição de sua plataforma de telefonia, os danos foram revertidos e o lucro voltou a partir de 2008. O período marca também a chegada de Roberto Lima ao comando da empresa de telefonia celular. Lima foi peça fundamental nessa estratégia. “O Roberto é o responsável pelo que a Vivo é hoje”, disse Gilpérez, na semana passada, para os funcionários da Vivo, durante o anúncio de desligamento do executivo brasileiro, que ficará à frente da operação até junho. 

 

Desde que chegou ao Brasil, Gilpérez dá expediente em dois endereços em São Paulo. Pode ser visto tanto no 21º andar do prédio da Telefônica, como também no 6º andar da sede da Vivo. Não tem ainda residência fixa no País. Formado em engenharia pela Universidade Politécnica de Madri, o executivo é casado e pai de dois filhos. Iniciou de baixo sua carreira na Telefónica na Espanha, onde chegou a assumir a área móvel. Depois, suas missões começaram a ter como palco a América Latina, como diretor de telefonia móvel para a região. 

 

Atualmente ocupa o posto de diretor da divisão Brasil no grupo, em decorrência de uma reestruturação promovida pela matriz. Sua influência é tanta que tem acesso direto a César Alierta, o chefão da Telefónica no mundo. Quando desembarcou por aqui com a função de fazer a integração da Telefônica com a Vivo, falava um espanhol que era difícil de ser entendido até por seus compatriotas. No comando dos negócios do grupo, porém, o maior desafio de Gilpérez não será exatamente expressar-se num português escorreito, mas sim dar um olé na concorrência.