Na terça-feira 25, o olhar do empresário Joesley Batista, presidente da brasileira JBS, maior produtora mundial de carnes, com um faturamento de R$ 55 bilhões e 125 mil funcionários, esteve voltado para a pista do Jockey Clube de São Paulo. 

 

Ele assistia ao Grande Prêmio 25 de Janeiro, uma corrida especial por conta do aniversário da capital paulista. Sua atenção, no entanto, estava dividida. Naquela tarde, circulavam notícias sobre outro páreo, muito mais duro, no qual o troféu seria a americana Sara Lee, companhia do setor de alimentos e bebidas, com receitas anuais da ordem de US$ 13 bilhões. 

 

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Joesley batista, da JBS: em rara aparição pública, ele 
esteve no Jockey Club de São Paulo, onde foi homenageado 

 

“A gente nunca sabe”, respondeu o executivo, quando questionado por DINHEIRO se faria novas aquisições em 2011. Na quinta-feira 27, Batista teve a resposta. Pela segunda vez, a Sara Lee disse não à tentativa do grupo brasileiro de comprá-la. 

 

A primeira oferta, de US$ 17,5 por ação, foi feita em dezembro do ano passado. Na segunda ofensiva, a proposta da JBS pode ter subido até US$ 21 por ação, o que elevaria o valor de mercado da Sara Lee a US$ 13,4 bilhões, de acordo com a agência Bloomberg News.

 

A segunda recusa da Sara Lee a uma oferta da JBS não pode ser considerada uma notícia tão ruim assim para o grupo brasileiro. Após rejeitar a proposta, a companhia americana, que confirmou Marcel Smits como seu novo CEO, planeja se dividir em dois negócios: um de café e outro de carne. 

 

Com isso, pode ficar mais fácil no futuro uma nova tentativa para comprar a Sara Lee. Fontes citadas pelo jornal americano The Wall Street Journal disseram que a JBS ainda estava interessada em adquirir partes da Sara Lee. 

 

Por que o grupo brasileiro quer tanto comprar a empresa? A resposta é simples. A companhia é dona de um portfólio de produtos que vai de embutidos, frios, pães e comidas prontas a cafés. 

 

Ela administra marcas fortes, sobretudo nos EUA, como Ball Park, Hillshire Farm, Jimmy Dean, Senseo, além da linha que leva seu próprio nome. Embora a Sara Lee atue também na Europa e na Ásia, sua força está na América do Norte, onde se concentram cerca de 60% de suas vendas. 

 

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Gigante americana: a Sara Lee tem receitas anuais da ordem de US$ 13 bilhões  

 

Para a JBS, a principal vantagem, ao adquirir a Sara Lee, seria a de somar produtos de maior valor agregado ao seu portfólio. Atualmente, apenas 2,5% de seu faturamento provém de produtos processados, como os da linha Swift. 

 

“Novas marcas nunca são demais”, diz José Vicente Ferraz, diretor da consultoria Informa Economics FNP.  O segundo benefício seria melhorar a sua estrutura de distribuição. “Desde a compra da Pilgrim’s, a JBS diz que vai apostar nisso”, afirma Ferraz. 

 

Mas há dúvidas sobre a capacidade financeira de JBS de bancar uma operação desse porte. Desde 2007, a empresa fez 14 aquisições, no valor de US$ 19 bilhões. As principais foram a produtora de carnes de frango americana Pilgrim’s e a também americana Swift, além de parte do frigorífico brasileiro Bertin. 

 

“Talvez não fosse o melhor momento para uma compra desse tamanho”, diz Cauê Pinheiro, analista da corretora SLW. Essas compras elevaram a dívida da JBS para R$ 10,5 bilhões, 2,9 vezes a sua geração de caixa. 

 

Para conseguir comprar a Sara Lee, os especialistas acreditam que a companhia teria de recorrer a um novo financiamento ou emitir ações. Além do endividamento, o momento pelo qual passa o setor também pode ser delicado. 

 

“Mesmo que o consumo de carnes deva continuar aquecido em 2011, o preço do gado subiu”, diz Mariana Peringer, analista do Banco do Brasil. Aparentemente, por enquanto, Joesley Batista pode ter de esperar para levar esse caneco.

 

 

“A gente nunca sabe”

 

O presidente da JBS, Joesley Batista, concedeu uma rápida entrevista à DINHEIRO:

 

A JBS está negociando a compra da Sara Lee?

Você tem outra coisa para perguntar que não seja sobre isso? Eu não vou falar sobre Sara Lee.

 

Mas a JBS pretende fazer aquisições em 2011?

A gente nunca sabe.

 

No ano passado, o sr. perguntou a analistas o motivo de o preço das ações não decolar, embora a empresa tenha se tornado a maior do mundo do ramo de proteína animal. Isso mudou?

Então, cabe a nós trabalhar, integrar a empresa e gerar resultado. O preço da companhia quem decide é o mercado. 

 

E qual é o plano para mudar essa avaliação do mercado em 2011? 

Vamos continuar fazendo o de sempre: entregar resultado. A gente entrega resultado consistentemente todos os anos. 

 

Se na sua avaliação os resultados estão bons, por que o mercado não enxerga isso?

De fato, não sei. Todas as aquisições, todas as promessas, os números, nós realizamos tudo. Enfim, a companhia hoje tem um valor de mercado superior a US$ 10 bilhões. As pessoas pensam que a JBS é jovem, mas tem 57 anos. É uma empresa madura, que já passou por muitas crises, turbulências e nunca teve problemas. Somos confiantes e sabemos operar a empresa, que vai continuar crescendo.