01/11/2013 - 21:00
Não é preciso andar muito, seja a pé, seja de carro ou ônibus, para perceber que a cidade de São Paulo beira o caos no quesito administração pública. As calçadas, quando existem, são destruídas e invadidas pelo lixo. No asfalto, os remendos disputam espaço palmo a palmo com os buracos – e quem passa sobre eles tem dificuldades para eleger qual é o pior. No transporte, os projetos de melhoria são risíveis, para não dizer trágicos. Para os ônibus superlotados passarem, simplesmente pintam-se faixas no chão. Fácil assim. E a cidade para. Isso sem considerar que praças, malcheirosas e perigosas, são dormitórios de mendigos e espaços livres para uso de drogas.
E que nos canteiros, onde deveria haver árvores e plantas, há concreto e pessoas enroladas em cobertores. Nas áreas da saúde e da educação, a situação não é diferente. O cenário de abandono da cidade mais rica do País é revoltante não apenas por representar a incompetência e a negligência crônica das gestões municipais, mas pelo simples fato de que não falta dinheiro. O PIB da capital paulista, de R$ 450 bilhões em 2013, é semelhante ao do Chile e representa mais da metade de toda a riqueza gerada em um ano pela Argentina. Em comparação com outras grandes cidades do mundo, São Paulo está entre as top 10, com arrecadação próxima à de Paris e à de Londres.
Na terça-feira 29, uma nova – e fora do lugar – ideia apresentada pelo prefeito petista Fernando Haddad foi aprovada a toque de caixa pela Câmara de Vereadores: o reajuste de até 35% no IPTU, o imposto sobre os imóveis da cidade. A mordida maior atingirá estabelecimentos comerciais, enquanto casas e apartamentos pagarão até 20% a mais já no ano que vem. Em 2015, o teto do aumento cairá para 10% e 15%, respectivamente. É evidente que, por um lado, com uma arrecadação ainda maior, a endividada prefeitura paulistana poderá sanear suas contas e terá mais fôlego para promover investimentos.
O prefeito Haddad atribuiu o reajuste ao impacto causado pela decisão de abrir mão do aumento de R$ 0,20 das tarifas de transporte público em junho. A estimativa é de que a administração deixará de arrecadar R$ 8,6 bilhões em 2016, no fim do mandato de Haddad. A impopular medida, por outro lado, colocará Haddad na berlinda. Arrecadando mais e gastando cada vez menos, as desculpas para os gritantes problemas da cidade se esgotarão. Além disso, uma gestão desastrosa na principal metrópole brasileira poderá contaminar as eleições do ano que vem e a pretensão da presidenta Dilma de se reeleger.
Não podemos esquecer que a administração Haddad é uma das vitrines do PT para ampliar seu eleitorado na maior cidade do País e desbancar a hegemonia tucana do governo do Estado. O custo político do reajuste do IPTU será mais bem dimensionado daqui a alguns meses, quando o calor da indignação popular começar a esfriar. O fato é que, direta ou indiretamente, todos pagarão a conta das trapalhadas aprontadas pela Prefeitura de São Paulo nas últimas, no mínimo, três décadas. Se o reajuste resolver o problema fiscal do município, ótimo. Se não houver melhorias visíveis, será um desastre político para Haddad e uma traumática lição para o governo Dilma. Uma aposta arriscada, sem dúvida.