12/05/2021 - 19:14
“A picada, no momento, me deu uma ardenciazinha”, mas “me sinto muito bema”, explica Cecilia Reyes, de 69 anos, após receber a primeira dose da Abdala, um dos dois projetos de vacinas mais avançados de Cuba e com os quais Havana iniciou a imunização da população.
A ilha, que concebeu e desenvolveu seus próprios antígenos contra o coronavírus, apressou-se nesta semana para iniciar a campanha de imunização em populações de risco, antes de concluir os testes clínicos de suas vacinas candidatas.
Esse tipo de campanha antes do final dos testes é conhecido como intervenção de saúde pública.
As autoridades médicas planejam autorizar em junho o “uso de emergência e/ou registro condicional” para a Abdala e a Soberana 2 e, assim, continuar com a imunização em massa.
Sentada em um banco na entrada do consultório onde foi vacinada em Regla, na zona leste da capital, Reyes, hipertensa, cardiopata e asmática, passa uma hora sob vigilância médica, conforme estabelece o protocolo de vacinação. Ela ainda está um pouco nervosa e não consegue parar de falar.
Ela reclama apenas de uma leve queimação no local da injeção. “Me sinto muito bem, não tive nada (nenhuma reação) e agora vou trabalhar, vou fazer umas batatas recheadas”, disse a dona de casa à AFP.
Também aguardando a ordem de voltar para casa, e sem sofrer nenhuma reação adversa, Ana María Cabrera (74) destaca que estava “ansiosa por este momento”, pois não esconde sua preocupação “por todos os casos (de coronavírus)” que o país está relatando diariamente.
“Eles vão nos dar duas doses da Abdala e a terceira será de Soberana 2”, explica Cabrera, reproduzindo o que o médico lhe explicou na entrevista inicial, na qual também indagou sobre seus males, os medicamentos que toma e ouviu os detalhes do processo.
O pequeno país tem uma longa história de vacinas: sob embargo dos Estados Unidos desde 1962, Cuba começou a desenvolver seus próprios remédios na década de 1980. Das 13 vacinas de seu programa de imunização, oito são produzidas localmente.
A campanha começou nesta quarta-feira em quatro municípios da capital, incluindo Regla, com os projetos de vacinas Abdala e Soberana 2, os mais avançados dos cinco que a ilha possui.
Cuba já realizou testes de intervenção com estas duas vacinas candidatas, mas em menor escala.
– “Nem medo”, “nem preocupação” –
Na capital do país, de 2,1 milhões de habitantes e atual epicentro da pandemia, um primeiro grupo de 778.398 pessoas será vacinado entre maio e julho, e outro de 928.627, entre junho e agosto, conforme anunciado sábado pelo ministro da Saúde, José Angel Portal.
No mesmo período, mais de um milhão e meio de habitantes serão imunizados em Santiago de Cuba (sudeste), Isla de la Juventud (sudoeste) e Matanzas (oeste).
“Achamos que em junho teremos 22,6% da população imunizada, 33,5% em julho e 70% em agosto”, informou Portal à televisão cubana.
Com 11,2 milhões de habitantes, Cuba sofre hás meses com um recrudescimento de casos de covid-19, mas continua registrando uma incidência menor do que seus vizinhos regionais, com 119.375 infecções e 768 mortes desde o início da pandemia, há mais de um ano.
Embora nervosos, a maioria dos moradores da capital chamados para serem vacinados nesta quarta-feira participou das 41 vacinações autorizadas, confiantes na eficácia do projeto Abdala.
Esta vacina candidata concluiu a terceira e última fase dos testes clínicos e está em processo de análise e avaliação desses resultados. Já o Soberana 2 deverá concluir sua terceira fase de teste entre 15 e 18 de maio.
A Abdala é “uma vacina segura, embora (ainda) seja uma vacina candidata”, disse Niurka María Viciedo, 77, aposentada das Forças Armadas. “Graças a Fidel, graças a Deus (…). Graças a ele temos cientistas e temos capacidade para os cientistas trabalharem”, acrescentou com entusiasmo.