O Brasil finalmente é hexa. Não com o futebol. Novamente é o vôlei brasileiro que se supera e conquista pela sexta vez a Liga Mundial da modalidade. Mas qual o segredo de sucesso desses atletas? A braveza do técnico da seleção masculina, Bernardinho? O talento dos nossos jogadores? Isso ajuda, mas não é tudo. A coleção de troféus e medalhas dessa equipe é fruto de um planejamento feito por uma entidade esportiva que tem cara de empresa, a Confederação Brasileira de Voleibol (CBV). A começar pelo atual presidente, Ary Graça Filho. Depois de jogar pelo Botafogo e pela seleção carioca de vôlei, ele fez carreira no mercado financeiro, o que lhe rendeu até o título de presidente de honra do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças. Hoje, Graça Filho administra um negócio de R$ 35 milhões, valor que o esporte movimenta por ano no Brasil. O dinheiro vem dos eventos e de patrocinadores como o Banco do Brasil e Olimpikus. E vai para a manutenção do vôlei na elite do esporte mundial.

E isso não é pouca coisa. A exigência da equipe técnica não tem limites. Se Ary Graça é uma espécie de chairman do vôlei brasileiro, os técnicos Bernardinho e José Roberto Guimarães (da seleção feminina) são seus CEOs ? os grandes responsáveis pelo treinamento e motivação da equipe e por achar diferenciais que mantenham o grupo no topo do ranking. Exemplos? Os técnicos e a CBV estão desenvolvendo por conta própria equipamentos específicos para avaliar as condições físicas dos atletas. Um deles, em fase final de fabricação, é o canhão de bolas, uma espécie de máquina que saca de todos os jeitos, com efeito, força e trajetórias distintas. ?Isso evita o desgaste do atleta, que não precisa ficar sacando para o colega de equipe receber a bola?, diz Paulo Márcio da Costa, gerente da unidade de seleções de quadra. Um aparelho que avalia os movimentos do ombro também já está sendo testado. Todas as idéias são repassadas para uma metalúrgica parceira da CBV, que se encarrega da manufatura.

As inovações fazem parte de uma administração muito bem planejada. Talvez seja esse o grande trunfo do vôlei, o planejamento de negócios, nos moldes do que é feito em uma multinacional. E ele começa com o objetivo. Há cinco anos, a CBV decidiu que chegaria ao pódio em todas as competições que disputasse, do infantil ao adulto ? e cumpriu a promessa. E isso só foi possível graças à sinergia entre a parte administrativa e técnica. Ou seja, elas se complementam, mas uma não interfere no trabalho da outra.

A CBV também não descuida da renovação dos atletas. Seus olheiros, os ?head-hunters?, acompanham os campeonatos regionais e caçam talentos, que são encaminhados para o centro de treinamento de Saquarema (RJ). Os felizardos que passam na peneira ficam cinco meses no local, que conta com 200 leitos, academia de ginástica, aulas de inglês e espanhol e, é claro, muitas quadras para fazerem o que mais gostam: jogar vôlei. Esses aspirantes ao estrelato têm muitas jogadas pela frente antes de atingirem as pequenas mordomias dos atletas top de linha. ?Os benefícios são conquistados com méritos?, diz José Fardim, superintendente da CBV. Portanto, quem chega em Saquarema pela primeira vez divide o quarto com seis pessoas. Já os atletas da seleção têm direito a quarto duplo. E, como os custos são controlados, só os campeões olímpicos podem viajar de primeira classe nos aviões. Mordomia? Não. Meritocracia, um conceito tão comum nas empresas modernas.