12/10/2005 - 7:00
A brasileira Adriana Barros: “Virei bode expiatório de um grande escândalo financeiro”
Vendas em queda? Recalls? Erros de projeto? Preço do aço? Consumidores insatisfeitos? Nada disso. Atualmente, o maior problema da Volkswagen alemã tem olhos azuis, 41 anos, cintura fina, seios fartos, cabelos loiros e é brasileira. Paulista de Garça e apresentadora de um programa de turismo na TV, Adriana B, ou melhor, Adriana Barros, é a brasileira envolvida em um escândalo corporativo que há quatro meses está fazendo o quartel general da montadora tremer e até rever suas estratégias de negócio. O caso ganhou proporções tão grandes que gerou investigações do Ministério Público alemão, levou a Volks a cancelar a construção de uma fábrica de e 1 bilhão e estremeceu relações diplomáticas com a Índia. Além disso, três executivos do primeiro escalão foram demitidos por conta da crise, que envolve dinheiro e garotas de programa. A baixa mais surpreendente foi a de Peter Hartz, ex-diretor de Recursos Humanos e considerado um dos melhores executivos da Alemanha, conhecido por ter elaborado a reforma do sistema trabalhista no país, a pedido do chanceler Gerard Schröder. Agora, Adriana Barros finalmente decidiu falar. ?Sou bode expiatório de um escândalo de corrupção na companhia?, disse ela à DINHEIRO. Adriana também admite envolvimento amoroso com um dirigente da Volks e fala de festas suspeitas pagas com dinheiro da empresa.
Quando o caso estourou, em julho, a imprensa alemã noticiou que executivos haviam desviado dinheiro da montadora para gastar com prostitutas, festas e viagens. Adriana B, como foi apelidada pelos jornais locais, teria sido uma das beneficiadas pelo esquema, pois era amante de Klaus Volkert, um dos acusados de chefiar esse esquema. Adriana não nega: foi por sete anos amante de Volkert, ex-presidente do Conselho de Empresa da companhia ? uma espécie de comissão de fábrica com superpoderes. O orçamento desse conselho é bancado pela Volks, e a diretoria da empresa depende dele para aprovar projetos que afetam os trabalhadores.
Volkert: Amante de Adriana era presidente do Conselho de Empresa
Volkert, 62 anos, casado, pai de uma filha e avô de um menino, é um homem grandalhão, que gosta de usar grossas pulseiras de ouro. Foi acusado de aceitar suborno do ex-diretor Peter Hartz. A negociata, conforme denúncia do Ministério Público alemão, funcionava assim: Hartz, que dependia do aval do Conselho de Empresa para aprovar mudanças na política trabalhista da fábrica, aumentava cada vez mais o orçamento do conselho presidido por Volkert. Uma troca de favores.
Aí que entra a brasileira Adriana: Volkert teria usado o dinheiro do conselho para fazer viagens de lazer a vários países (incluindo o Brasil), financiar cirurgias plásticas, casa, jóias e outros mimos para a amante. Adriana tem a Volks como patrocinadora de seu programa no Canal 21, da Rede Bandeirantes, e também do site www.adrianabarros.com.br. Segundo a revista alemã ?Der Spiegel?, além de viajar com a brasileira a destinos exóticos, como Goa, na Índia, e Ilhas Andamane, na Tailândia pré-tsunami, Volkert usou verbas do conselho para promover orgias e pagar prostitutas em Praga, na República Checa.
?Nunca recebi nada da Volks pago pelo Volkert?, defende-se Adriana, que conta ter conhecido o namorado durante uma viagem à Praga, em 1998. ?Estava em férias. Conheci-o em um jantar da Volkswagen?, relembra a apresentadora, que diz não se recordar como foi convidada para o evento. Para ela, que terminou o relacionamento com Volkert no início deste ano ? ?porque o namoro já estava desgastado? ? o ex-amante não tem nada a ver com a corrupção na empresa e nem usou dinheiro da montadora para fins particulares. ?Somos bodes expiatórios?, diz ela, que é formada em Educação Física, faixa preta de Tae-Kwoon-Do e ex-animadora de hóspedes do Club Mediterranée, na Bahia.
?A imprensa gosta de fofoca. Espalhar fuxico foi a estratégia de defesa encontrada pelo Schuster e pelo Gebauer?, diz, se referindo a Helmuth Schuster, ex-diretor de RH da Skoda, montadora checa que pertence à Volks, e Klaus-Joachim Gebauer, gerente da Skoda, subordinado a Peter Hartz. Ambos também tinham que negociar com o Conselho presidido por Volkert e estão sendo acusados pelo Ministério Público alemão de criar empresas fictícias em países como Índia, Angola, República Checa, Luxemburgo e Suíça para desviar verbas da Volks. Tanto a Justiça quanto a montadora ainda calculam o valor da fortuna perdida. Sabe-se que, na Índia, a dupla teria arrecadado e 3 milhões do governo estadual de Andhra Pradesh com a promessa de instalar ali a fábrica que a Volks planejava montar no país. Depois de descoberto o escândalo, a montadora cancelou o investimento de e 1 bilhão e ofereceu uma compensação de ? 1,9 milhão ao governo do estado indiano, que recusou. Na semana passada, a Justiça indiana pediu a prisão preventiva de Schuster, que foi forçado a pedir demissão da multinacional há três meses, assim como seu colega, Gebauer.
Gebauer, ex-gerente de RH da Skoda, divisão da Volks: Ele teria montado empresas fictícias na República Checa
Com 32 anos de trabalho dedicado à Volks, Gebauer contesta sua demissão na Justiça alemã. É por essa, entre outras razões, segundo Adriana, que ele concede entrevistas bombásticas à imprensa alemã, relatando orgias e festas feitas com dinheiro da montadora. ?Foi ele que começou essa história de Adriana B, dizendo que ganhei plásticas, apartamento e viagens com dinheiro da Volks. Ele quer é desviar a atenção da corrupção?, diz ela. Há duas semanas, Gebauer colocou mais lenha na fogueira ao dizer à revista alemã ?Stern? que Adriana tinha uma conta em um banco próximo à sede da Volks, na qual, em 2003 e 2004, foram depositados e 23 mil a cada três meses. O dinheiro, segundo o ex-executivo, era verba da Volks, depositado por Volkert.
O ex-executivo afirmou também que era dele a incumbência de organizar as reuniões do Conselho de Empresa, na Alemanha e em outros países. ?Todos esses encontros envolviam prostitutas e até pílulas de Viagra, que eu mesmo comprava em uma farmácia de Wolfsburg (cidade sede da Volks), para os colegas mais velhos?, afirmou à ?Stern?. Gebauer declarou que uma dessas reuniões foi feita no Brasil, em 1996, quando ele teria contratado diversas garotas de programa para os integrantes do Conselho. Foi assim, segundo ele, que Volkert conheceu Adriana.
Nada disso é verdade, segundo a apresentadora brasileira. ?Ele me envolveu nessa história toda porque a melhor defesa é o ataque?, defende-se Adriana. ?Ele torrou muito dinheiro, tinha carta branca para isso. Quando a coisa toda veio à tona, criou essa história de Adriana B para se safar do escândalo?, afirma. Gebauer também teria motivos pessoais para prejudicar Volkert e Adriana. ?Talvez ele tivesse ciúme de mim com o Volkert. Ele não é nem casado. Toda vez que o vi, estava com uma mulher diferente?, diz ela.
Adriana contratou, há duas semanas, na Alemanha, um advogado para defendê-la. Segundo sua assessoria de imprensa, seu nome ainda não apareceu oficialmente nas investigações do Ministério Público alemão, nem da KPMG ? consultoria que a Volks contratou para investigar o caso. Peter Hartz, Klaus-Joachim Gebauer e Klaus Volkert foram arrolados no processo. ?Mas há mais gente e muito mais coisa a se descobrir?, disse em nota oficial o presidente mundial da Volks, Bernd Pischetsrieder. ?O escândalo é maior do que se imagina?, afirmou.
?Ela é uma mentirosa?, disse à DINHEIRO o presidente da Volkswagen do Brasil, Hans-Christian Maergner, referindo-se a Adriana. Ele e o vice-presidente de vendas no Brasil, Berthold Krueger, afirmam ter conhecido Adriana em viagens que Volkert fazia ao Brasil, acompanhado da apresentadora. Mas, segundo Maergner e Krueger, nessas ocasiões, o relacionamento entre eles e o casal era meramente formal e não existe ligação entre a Volks Brasil e a crise vivida pela matriz. ?Não vejo risco de esse escândalo chegar ao País. Não há nada de substancial que indique isso?, afirmou Maergner. Por aqui, o presidente tem outros assuntos para se preocupar. Ele está enfrentando uma greve iniciada no último dia 29 e que, até a quinta-feira 6, paralisava totalmente a produção nas três fábricas paulistas da montadora (São Bernardo do Campo, Taubaté e São Carlos). Os trabalhadores querem participação nos lucros de pelo menos R$ 5,5 mil. A empresa oferece R$ 5 mil.