O empresário paulista Cássio Beldi tinha 12 anos quando ouviu uma proposta surpreendente de seu tio Salvador Berga. “Você quer ganhar dinheiro na bolsa de valores?”, perguntou Berga. Sem entender muito do que se tratava, o menino juntou os R$ 1 mil que economizara em datas como a do seu aniversário e Natal, e os entregou ao tio. Berga, antigo investidor, conhecia a bolsa. “Já tomei muito na cabeça”, diz ele. “Minha proposta era apresentar o mercado para ele, mesmo conhecendo todos os riscos da renda variável.” Para Beldi, era uma novidade desafiadora. “Na época, foi como quebrar o cofrinho e apostar em um negócio totalmente desconhecido”, diz. Um ano depois, Salvador voltou com os R$ 1 mil originais do sobrinho transformados em R$ 8 mil. 

 

64.jpg

Coisa de criança: Cássio Beldi decidiu, aos 12 anos, que iria ganhar muito dinheiro com a bolsa

 

“Para um adolescente, ver que o dinheiro tinha crescido oito vezes, era um milagre”, afirma Beldi. “A partir de então, minha única certeza foi que eu iria ganhar muito com a bolsa.” Dito e feito. Hoje com 26 anos, Beldi é o responsável pela Mint Capital, gestora de recursos independente. Formado em administração de empresas pela Faap e com especialização em Family Wealth Management pela americana Columbia University, Beldi criou, em 2008, um clube de investimentos para gerir o capital próprio e o dos amigos que o procuravam, insatisfeitos com os serviços dos bancos de investimento convencionais. Do clube surgiu o fundo Mint Value FIA. 

 

Com um patrimônio líquido de R$ 20 milhões, o fundo compra ações de empresas fora de moda, colocando em prática os conceitos de duas escolas financeiras aparentemente contraditórias. Uma delas é a das finanças comportamentais, que procura se aproveitar dos vieses do comportamento humano para investir. A outra é a do value investing, teoria desenvolvida pelo gestor americano Benjamin Graham, guru do megainvestidor Warren Buffett. A teoria de Graham recomenda comprar papéis depreciados, mas que tenham um valor intrínseco. “Pelo conceito das finanças comportamentais procuramos ir contra a manada e fugir do lugar-comum”, diz Beldi. Seguindo os cânones de Graham, ele aposta em empresas baratas, lucrativas e que pagam bons dividendos.

 

Comprar barato e vender caro. Beldi exercitou esse conceito ao buscar o capital inicial para investir. A vocação empreendedora vinha de família – ele é neto de Alexandre Beldi Neto, fundador do Grupo Splice, pioneiro na privatização da telefonia. Beldi cresceu no escritório do avô e, ainda criança, até se vestia de terno e gravata para parecer um executivo. O seu primeiro negócio foi criado aos 15 anos. “Montei um site onde postava fotos tiradas de pessoas em casas noturnas de Sorocaba, onde eu morava”, afirma. “O site não demandava capital nem tempo, mas começou a ter bastante acesso, pois todos entravam na página no dia seguinte a alguma festa para ver suas fotos.” Todo o dinheiro arrecadado tinha um único destino: a bolsa de valores. 

 

Ao começar a gerir o fundo, Beldi não perdeu de vista as lições da adolescência. Entre as ações escolhidas, um dos melhores resultados veio da construtora Eztec. “A empresa não participou do programa Minha Casa Minha Vida e foi punida pelo mercado, os papéis despencaram e nós compramos”, afirma. “A queda foi provocada por um movimento da empresa mal interpretado pelo mercado que, com o tempo, corrigiria esse erro de interpretação”, diz. A Eztec chegou a render um ganho de 276% para o fundo em 2009, e em 2012 representou um lucro de 64%. “Essas ações têm garantido um dos principais retornos do fundo neste ano”, diz Beldi. “Estamos comprados, como sempre, na contramão do mercado, apostando em empresas do setor bancário, imobiliário e de energia.” 

 

Para evitar prejuízos, uma das estratégias de Beldi é não concentrar a carteira em nenhuma empresa. Ele trabalha com o conceito de slots, ou gavetas. “Trabalhamos com 20 slots, e cada empresa escolhida representa 5% da carteira do fundo”, afirma. “Mesmo reduzindo a possibilidade de termos ganhos exorbitantes, não temos grandes perdas.” Até o dia 10 de dezembro, o fundo acumula um retorno de 90% desde o início, em maio de 2009. Isso significa que, R$ 50 mil investidos naquela época, valeriam, agora, R$ 95 mil. O que o tio Salvador Berga pensa dos resultados do sobrinho? “É um orgulho ver que uma brincadeira deu tão certo e transformou o futuro de uma criança”, afirma Berga.

 

65.jpg