A PRIMEIRA SENSAÇÃO PERCEBIDA em Dubai, uma das sete cidades-Estado dos Emirados Árabes, é a térmica. Uma leve brisa quente e a atmosfera abafada oriunda do deserto estão presentes dia e noite. É verão no Golfo Pérsico. Logo as temperaturas estarão mais amenas e a cidade ficará cheia de turistas, europeus em sua maioria. Todos eles curiosos para ver de perto as obras que desafiam tudo o que a engenharia já produziu até hoje e que fascinam tanto pelo luxo como pela grandiosidade. Dubai é, na verdade, um oásis fabricado no meio do deserto. Basta um estalo do sheik Al Maktoum para que o dinheiro brote e transforme a paisagem inóspita em uma Disneylândia para adultos. Mas, como acontece no mundo de Walt Disney, é inevitavelmente artificial. Não há ilhas no mar? As construtoras fabricam sob o formato de palmeira, as Ilhas Palm, ou sob a forma de continentes, como o The World ? uma engenhosa técnica de aterro torna isso possível. No calor de 50º C, surgem ainda pistas de esqui na neve; a Burj Dubai, a torre mais alta do mundo; o Ziggurat, um prédio em forma de pirâmide para acomodar mais de um milhão de pessoas; e, na semana passada, o governo apresentou o projeto da Mohammed bin Rashid Gardens, uma cidade de 82 km2 cortada por 150 km de rios. Ela será conectada a Dubai e terá mais áreas verdes do que Londres e Nova York juntas. ?Assim como não se pode parar um rio, não podemos parar o desenvolvimento?, disse à DINHEIRO Abdullah Bin Suwaidan, vice-diretor do Departamento de Marketing do Turismo e do Comércio de Dubai.

A cidade está em franca expansão, tanto em terra firme como no mar. Nos dois casos, a presença da água é importante para tornar o clima mais ameno. O Mohammed bin Rashid Gardens, por exemplo, pretende ser um oásis para mais de 250 mil pessoas. Com um investimento de US$ 60 bilhões, esse complexo terá casas, escolas, escritórios, lojas, muito verde e canais navegáveis. Para o lado do mar a expansão se dá na forma de gigantes ilhas construídas que adicionaram 520 km à costa de Dubai. São três ilhas em formato de palmeira, a Palm Jebel Ali, a Palm Deira e a Palm Jumeirah, sendo que a última já abriga moradores ? todos eles em mansões ou em luxuosos apartamentos com vista para o mar. As outras ilhas artificiais, a The World, já começaram a ser construídas e loteadas. A intenção é reproduzir todos os países e continentes, como no mapa-múndi. As ilhas são vendidas a preços que variam de US$ 6,2 milhões a US$ 36,7 milhões e o casal Angelina Jolie e Brad Pitt já garantiu a Etiópia. Apesar de Dubai querer se tornar um centro mundial, ainda há intolerância: o único país que está fora do mapa é o Estado de Israel. Depois do The World, virá o The Universe, com ilhas em formato de sol, de lua, dos planetas e até uma Via-Láctea. ?O segredo de Dubai é ter sheik que investe sem medir esforços?, aponta Abdullah.
De fato, o sheik Mohammed bin Rashid Al Maktoum, o homem por trás de tudo o que é construído, é quase onipresente. Sua foto está estampada em grandes outdoors nas ruas, obrigatoriamente em todos os prédios públicos e até em táxis. Para o sheik, não importa que seja artificial. O que importa é que seja feito. Até 1967, Dubai era um pequeno vilarejo com cerca de cinco mil habitantes que viviam do comércio de pérolas, extraídas através de mergulhos. Mas, desde que o petróleo foi encontrado, tudo mudou. A família real começou a investir pesado para atrair negócios, antevendo que o petróleo é uma fonte de riqueza que um dia acabaria. Em 1971 a pequena vila uniu-se a Abu Dhabi e outras cinco cidades para formar os Emirados Árabes. Atualmente, em Dubai o petróleo corresponde a apenas 5% do PIB de US$ 40 bilhões. Já o turismo representa 35% da economia. As pessoas viajam em busca do ineditismo. E isso faz parte do marketing de Dubai. Ali, o superlativo impera.

O TURISMO REPRESENTA 35% DO PIB anual de US$ 40 bilhões de Dubai. O petróleo fica com uma fatia de apenas 5%

O Burj Dubai, prédio que será concluído em 2009, comprova isso. A altura total ainda não foi divulgada, mas, na semana passada, ao atingir 688 metros, já foi declarado o mais alto. A expectativa é de que chegue a medir 900 metros e tenha mais de 160 andares. ?Em um terreno hostil como o de Dubai, com clima desértico, as obras têm de ser grandiosas para concentrar a ocupação do terreno?, aponta Antonio Claudio Fonseca, professor da faculdade de arquitetura da Universidade Mackenzie. Por esta razão é que foi anunciada a construção do Ziggurat, um conjunto residencial em forma de pirâmide, que utilizará energia sustentável como vapor e vento e abrigará cerca de um milhão de pessoas em um espaço de 2,3 km2. Tudo está sendo construído e calculado para que Dubai seja a nova capital do mundo. ?É evidente que há um artificialismo?, diz Fonseca. ?Mas eles estão vivendo o fim do ciclo do petróleo abundante para reativar a economia de outra forma.?