04/10/2006 - 7:00
Hoje a família Constantino, acionista majoritária da Gol, é reconhecida por sua atuação nos ares. É a parte mais visível do império criado por Nenê Constantino a partir de uma jardineira que transportava pessoas em Minas Gerais. Mas uma ala do clã mantém-se, digamos, com os pés no chão, fiel à origem do grupo, inclusive na discrição que sempre marcou a postura do patriarca. Foi assim, sem alarde, que a primogênita do clã, Aurivânia Constantino, criou uma corporação com faturamento estimado pelo mercado em R$ 100 milhões. Dona de duas empresas de ônibus, Aurivânia acaba de partir para o mais ambicioso plano de expansão de sua carreira solo. Com investimentos de R$ 20 milhões, ela inaugurou o Alameda Quality Center, um centro de lazer, entretenimento e alimentação, localizado nas proximidades de Bauru, no interior de São Paulo. São 28,5 mil metros quadrados que abrigam quatro salas de cinema, restaurantes, bares, parque de diversão, empório, lanchonetes, lojas, tabacaria, revistaria, entre outros estabelecimentos, voltados para a classe média alta da região. Na entrada, o consumidor recebe um pequeno terminal para registrar suas despesas, pagas apenas na saída. Para as crianças e adolescentes, os pais podem estabelecer um teto de gastos. A telinha também anuncia informações sobre eventos locais, como horários dos filmes ou promoções relâmpagos nas lojas ou restaurantes. ?Um empreendimento como esse era inédito no Brasil, mas é uma tendência mundial?, diz Aurivânia. ?Trata-se de um centro de lazer urbano localizado fora do centro da cidade.?
É mais do que isso. O Alameda representa o embrião de uma série de negócios que serão gerados ao longo dos próximos tempos. Em cinco anos, por exemplo, Aurivânia pretende erguer dez empreendimentos desse tipo, tanto no interior do Estado como na capital. Nessas investidas, poderá ter sócios ao seu lado ? ou não. ?Dependerá dos recursos necessários e do estudo de propostas que já começaram a aparecer?, diz ela. A empresária também decidiu criar marcas próprias para os pontos-de-venda do Alameda ? em vez de atrair bandeiras presentes nas praças de alimentação de shoppings. Lá, a doceira chama-se A Dúvida de Charlotte. A lanchonete recebeu o nome de Mr. Sandwich. E a adega e a mercearia de produtos alimentícios importados foi batizada de Empório Gourmet. Por trás da decisão, está o plano de dar vida própria a essas marcas. ?Necessariamente, elas não precisam se estabelecer apenas nas unidades do Alameda?, diz Aurivânia.
A localização do Alameda foi escolhida depois de um cuidadoso estudo. Bauru está fincada no centro geográfico do Estado de São Paulo. Os bairros mais abastados da cidade são vizinhos do centro de entretenimento. Num raio de 100 quilômetros, vivem quase 1,5 milhão de pessoas, em sua maioria de classe média. Isso sem contar os viajantes que circulam pela rodovia. Aliás, os funcionários das duas companhias de transporte da empresária foram os primeiros visitantes do Alameda, antes mesmo da inauguração do empreendimento. ?Eles passaram o dia no local?, diz ela. ?Trata-se de um fator de motivação para eles.? A Reunidas, cujas linhas atendem a cinco Estados, e a STU, responsável pelo transporte municipal de Sorocaba, têm sido laboratório de experiências na área de recursos humanos que depois são estendidas para outras empresas da família.
Todos os motoristas passam periodicamente por uma bateria de exames para avaliar a qualidade de seu período de descanso. A própria família participa de programas de conscientização sobre a importância desse item na segurança do pai e marido. Os condutores também recebem acompanhamento de preparadores físicos, nutricionistas e médicos para manter a boa forma. Quem apresenta menores índices de acidentes ganha prêmios. Por conta disso, houve motorista que levou para casa um Ford Fiesta zero-quilômetro. Cada rota é cuidadosamente mapeada, incluindo pontos de alagamento, defeitos na pista e traçados perigosos. Computadores de bordo monitoram as viagens registrando cada indicador, como velocidade, freadas, paradas, etc. Aurivânia assumiu as empresas a partir de 1996, quando o pai dividiu seus negócios entre os quatro filhos e as três filhas. Depois disso, partiu para concretizar um sonho acalentado há décadas, a criação de uma companhia aérea. ?É o xodó dele?, conta Aurivânia. Do pai, herdou o sotaque tipicamente mineiro e um discurso que descomplica o mundo dos negócios. ?É só trabalhar com vontade que tudo dá certo?, diz ela.