NOS ÚLTIMOS MESES, O setor imobiliário passou do paraíso ao inferno no mercado de capitais. De vedetes da Bovespa, muitas ações de empresas do setor transformaram-se em micos. Nesse cenário, imagine o que aconteceria com uma companhia com nome enigmático e desconhecido do grande público. Mais: e se ela não assentasse um único tijolo ou não vendesse um só apartamento? Pois bem, os papéis dessa companhia, a PDG Realty, valorizaram-se 43,4% desde seu IPO, em janeiro do ano passado, até a quarta-feira 2, segundo a Economatica. Nascida como um investimento particular dos sócios do Banco Pactual, hoje UBS Pactual, a PDG é uma holding de participações em companhias imobiliárias. Seus executivos pouco entendem de cimento e pregos, mas conhecem profundamente os meandros do mercado financeiro. De certa forma, a PDG uniu dois mundos complementares, ao levar para um setor tradicional e predominantemente familiar os mais modernos instrumentos de financiamento e captação de recursos – numa espécie de casamento de duas engenharias, a financeira e a civil. Trata-se de uma fórmula que, tudo indica, será a marca registrada do mercado imobiliário brasileiro nos próximos anos.

“Nosso modelo de negócios privilegia o que há de melhor nas duas pontas”, explica José Antonio Grabowsky, presidente da PDG Realty. “Entramos com a cultura de resultados que herdamos dos bancos de investimentos, sem prejudicar a autonomia de cada uma das companhias.”

Esse “modelo de negócios”, como diz Grabowsky, possui certas regras. Uma delas, quase sagrada: os empreendedores das empresas adquiridas permanecem à frente do negócio. “Nós compramos capacidade gerencial e não terrenos ou prédios”, afirma ele. Assim, Milton Goldfarb, filho do fundador da Goldfarb, continuou no comando da construtora. Para essas empresas, a PDG abriu as portas para o acesso aos recursos necessários para o crescimento. A Goldfarb surgiu há 46 anos.

Desde então, enfrentou altos e baixos, mas encontrou seu foco: é uma construtora voltada para uma classe média baixa que compra apartamentos entre R$ 75 mil e R$ 200 mil. Seus emprendimentos têm alto grau de padronização, o que reduz os custos. O que faltava, então? Dinheiro. E isso veio com a PDG. Resultado: em 2004, a Goldfarb lançou 800 unidades. Neste ano, serão 15 mil. “Estamos em outro patamar”, afirma Goldfarb.

O PORTFÓLIO DA PDG
Goldfarb – construtora voltada para a classe média baixa, na qual a PDG tem 80% do capital
CHL – a PDG é dona de 70% dessa construtora cujo foco é a classe média alta do Rio de Janeiro
LDI – holding da família Lindenberg, que abriga uma construtora, uma empresa de loteamento e uma de shopping. A PDG tem participação de 17%
Brasil Brokers – grupo de consultoria imobiliária com atuação nacional, vendeu 6% de seu capital para a PDG
TGLT – em sua primeira investida internacional, a PDG é sócia, com 30%, dessa construtora argentina

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CUNHA, GRABOWSKY E WURMAN, DA PDG: a empresa atua em todas as frentes do mercado imobiliário

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PRÉDIOS DA GOLDFARB: padronização nas obras reduz custos, atrai clientes e agrada investidores

A PDG foi importante para a Goldfarb, mas a Goldfarb é também muito importante para a PDG, na visão dos investidores. “Cerca de 80% do volume de negócios da PDG vem dessa construtora”, afirma Eduardo Silveira, analista do Banco Fator. “E ela atua no segmento de baixa renda, justamente a parcela do mercado que mais cresce. Por isso, coloco a PDG na primeira divisão do setor imobiliário, ao lado de Cyrela, Gafisa, MRV e Rossi.” A PDG também desenhou uma sofisticada estratégia de aquisições que, ao mesmo tempo, contempla dois objetivos: a expansão geográfica e um perfil de consumidores diversificado. A CHL oferece apartamentos na zona sul do Rio de Janeiro para a classe média alta da cidade. Já o foco da Adolpho Lindenberg, da LDI, são os paulistanos endinheirados. A REP, um dos braços da LDI, dedica-se ao segmento de shoppings. Graças a essa política, a PDG hoje está presente em 45 cidades de 12 Estados brasileiros. Para isso, além das participações nas quatro empresas, desenvolveu projetos específicos, como a incorporação de um empreendimento, com outras companhias. Essas parcerias pontuais podem ser o embrião de uma nova aquisição.

Na mira da PDG estão todas as atividades ligadas ao mundo da construção. “É como uma prova de turfe em que todos os cavalos pertencem ao mesmo dono, mas cada um corre em sua raia”, compara Michel Wurman, diretor financeiro e de relações com investidores da PDG. Daí a decisão de adquirir uma parcela de 6% da BrasilBrokers, uma rede de consultorias imobiliárias espalhadas por todo o território nacional. Outra frente aberta recentemente é o que Grabowsky chama provisoriamente de PDG Income. São quatro empreendimentos comerciais de alto padrão nos endereços mais badalados das grandes cidades: dois na região da av. Faria Lima, em São Paulo, e dois no Rio de Janeiro (no Leblon e no centro da cidade). As torres de escritórios serão alugadas para terceiros. O objetivo é lançar três desses a cada ano. “Com todas essas frentes, vamos nos transformar numa espécie de banco de negócios imobiliários”, afirma Frederico Cunha, diretor de incorporações da PDG.

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CASAS DA GOLDFARB: foco da empresa são clientes que podem pagar até R$ 200 mil por um imóvel

RESULTADOS SÓLIDOS

Principais indicadores* de desempenho da PDG – em R$ milhões

 

1° trimestre/ 2007

1° trimestre/2008

Variação

Receita líquida

68

220,5

225%

Lucro bruto

25,6

86,9

239%

EBITDA

21

63,8

204%