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Poder dividido: Dimitrios Markakis (no canto, à esq.) e Jorge Letra dizem que um não interfere na área do outro. Até agora, o modelo tem sido bem-sucedido

Diz o bom senso que, quando muita gente manda, ninguém obedece. essa regra, considerada verdadeira pela maioria dos gestores de empresas, vem sendo contrariada pela Dicico, uma das cinco maiores varejistas de material de construção do País. desde fevereiro, a companhia divide as responsabilidades estratégicas de seus negócios entre dois presidentes.

Dimitrios Markakis, sócio majoritário, continuará no comando, mas agora cuidará apenas das áreas de compras, administrativa, financeira, de informática, logística e expansão. Os demais departamentos (marketing, recursos humanos, vendas e operações de lojas) estarão nas mãos de Jorge Letra. o executivo havia trabalhado na companhia entre 2002 e 2007 como vice-presidente da área comercial.

Saiu para ocupar uma diretoria do Grupo Pão de Açúcar por quase dois anos e retornou à Dicico com o cargo de copresidente. “Brinco que fui fazer pós-graduação no Pão de Açúcar e voltei para ajudar a Dicico a expandir sua marca no merca-do”, diz Letra. “A Dicico cresceu demais em pouco tempo e eu não conseguiria administrar o plano de expansão sozinho”, afirma Markakis.

Os dois executivos têm estilos opostos. Mais pragmático e racional, Markakis começou sua história com a fundação dos Supermercados Cândia, no final da década de 80. em 1999, comprou a Dicico. Anos depois, vendeu os seus quatro hipermercados para a portuguesa Sonae, onde conheceu Jorge Letra. Nascido em Portugal, Letra havia chegado ao Brasil em 1996 para participar da expansão da rede portuguesa.

Quando a empresa resolveu abandonar os planos no Brasil, ele procurou abrigo na Dicico. “Sou mais emotivo e conciliador”, diz Letra. “Para mim não é fácil abrir mão de poder. Por sermos diferentes é que complementamos nossas decisões”, diz Markakis.

Quem manda mais? eles garantem que cada um tem autonomia completa dentro de sua área, sem precisar dar satisfações ao colega. na avaliação dos executivos, isso proporciona maior agilidade na tomada de decisões. Na prática, Markakis tem mais poder, por ser acionista da empresa. Mas ele diz que não significa que vá interferir no departamento comandado pelo outro presidente. No dia a dia, eles mantêm uma distância segura.

Em vez do contato diário permanente, preferem realizar reuniões semanais. nesses encontros, definem estratégias conjuntas que serão aplicadas em todas as áreas que estão sob seu comando. Algumas iniciativas criadas em parceria começaram a ser colocadas em prática. Em março, foi criado um comitê para identificar as necessidades dos clientes.

A cada dois meses, cem consumidores são escolhidos aleatoriamente no banco de dados para participar de um café da manhã com os presidentes. Por enquanto, a divisão de poderes não gerou atrito ou mexeu com a vaidade dos envolvidos. Segundo funcionários da empresa, de fato os dois parecem se entender muito bem. Mas o mercado vê com ressalvas o compartilhamento do comando.

“Ofato de ser liderada por dois presidentes pode espantar os acionistas, desconfiados quanto à competência da gestão da companhia”, diz Roberto Gonzalez, professor de governança corporativa da Trevisan escola de negócios. num primeiro momento, os resultados são satisfatórios. estimativas da empresa apontam para um faturamento de R$ 711 milhões em 2009, ante R$ 629 milhões no ano passado.

Em 2010, a empresa pretende abrir 12 lojas (foram só duas em 2009). Se isso acontecer, ficará provado que a divisão de poderes pode funcionar muito bem.

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