13/01/2010 - 8:00
ELIANA TRANCHESI: sua marca está sendo negociada com o grupo Inbrands
Em 2005, antes mesmo de inaugurar a sua butique de luxo, no bairro da Vila Olímpia, em São Paulo, Eliana Tranchesi foi procurada por Elie Horn, o dono da construtora Cyrela. Ele queria erguer um hotel com a marca Daslu. O prédio chegou a ser desenhado e a decoração já estava definida. Iria ser, costuma dizer Eliana, “o grande hotel de luxo do Brasil”. Mas, antes que isso acontecesse, a Operação Narciso, desencadeada pela Procuradoria da República, acabou com o futuro negócio. A Daslu, acusada de importação irregular e sonegação de impostos, nunca mais foi igual. Suas dívidas podem chegar a R$ 1 bilhão, mas boa parte delas não é reconhecida pela empresa e ainda está sendo discutida com o Fisco, como, por exemplo, uma multa da Receita que foi reduzida de R$ 230 milhões para R$ 115 milhões. Enquanto esse impasse não é resolvido, a empresária vem buscando saídas para estancar a ferida. Uma delas é vender seu grande ativo: a marca. Nos últimos oito meses, executivos da Daslu vêm conversando com a Inbrands, grupo com participações em empresas de moda comandado por Nelson Alvarenga, fundador da Ellus, e pelo fundo de investimentos Pactual Capital Partners (PCP), formado por ex-sócios do Banco Pactual, liderados por Gilberto Sayão. A notícia da venda, revelada pela colunista Joyce Pascowitch na quarta-feira 6, não deixou o mercado tão surpreso. “Eles estão com muitos problemas de caixa”, disse um ex-executivo da empresa. É notório que a Daslu tem atrasado o pagamento de alguns de seus fornecedores. Na Associação Comercial de São Paulo, a Lommel, razão social da Daslu, conta com 139 títulos protestados, entre 23 de outubro de 2008 até 5 de janeiro de 2010, num total de R$ 429.521,49.
Outra empresa que estaria de olho na Daslu seria o BTG, do banqueiro André Esteves. Um de seus sócios tratou de desmentir as informações à reportagem de DINHEIRO. Procurados, Eliana e os executivos da Inbrands, que possui marcas como Alexandre Herchcovitch, Isabela Capeto, entre outras, não comentam o assunto. O grande entrave para o negócio seriam os passivos da empresa com impostos, multas e juros. Há, evidentemente, medo por parte dos investidores de que todas as dívidas sejam repassadas para o novo controlador. O prédio onde a butique está instalada pertence à construtora WTorre, que, por meio de sua assessoria, afirmou que ele não entraria nas negociações. O que interessaria para a Inbrands seria apenas a grife. Afinal, a marca, uma das únicas capazes de ombrear com as grifes internacionais por aqui, vale muito. “Ela ainda é forte, mas ficou muito arranhada por aparecer demais nas páginas policiais”, diz Júlio Moreira, sócio da consultoria TopBrands. “Se libertando da família, ela teria outra imagem”, diz Moreira. Esse é um ponto delicado e pessoas próximas dizem que Eliana não sairia do negócio. A Daslu só é o que é devido ao trabalho dela. Ela sabe o que as mulheres querem vestir e antecipa as tendências da moda como poucos profissionais desse mercado. Conseguiu, dessa forma, tecer uma rede de relações poderosa e construir um mundo à parte ao redor da butique com suas “dasluzetes” e clientes fiéis que chegam a gastar R$ 300 mil em uma só compra.
VILLA DASLU: prédio localizado na Vila Olímpia pertence à construtora WTorre e não entraria na negociação
Ao mesmo tempo que tornou a Daslu um rótulo desejado, Eliana também é vista por alguns de seus ex-funcionários como responsável pelos erros na gestão da empresa. Depois da Operação Narciso, em julho de 2005, a Daslu buscou a ajuda de consultorias para se profissionalizar. A primeira foi a Íntegra, de Nelson Bastos, e a segunda foi a Galeazzi & Associados, de Cláudio Galeazzi. Executivos das duas empresas tiveram problemas com o estilo centralizador de Eliana.
“Ela não aceita ser contestada”, diz uma pessoa que esteve envolvida no processo de reestruturação da Daslu. “Toma decisões emocionais e não racionais.” Justamente por isso, há uma intensa rotatividade de executivos no comando da empresa. Apesar de sua personalidade forte, Eliana abriu mão de alguns de seus mandamentos. Ela não admitia, por exemplo, que a Daslu fosse chamada de shopping. Em fevereiro de 2008, fechou um acordo com a BR Malls, uma das maiores gestoras de shopping centers do País, para que a Villa Daslu, formada por lojistas, fosse administrada por eles como um shopping. Em abril do ano passado, abriu uma loja de 2,4 mil metros quadrados no Shopping Cidade Jardim. Hoje, é uma das mais rentáveis, com faturamento de R$ 40 milhões. Será que um novo sócio quebraria outros paradigmas?