Os garotos carentes de São Paulo, muitos deles a um passo da criminalidade por causa da falta de opção de trabalho, vão ganhar uma alternativa para tentar se entender com o mundo da tecnologia. Inspirada nas suas origens ? uma pequena garagem de fundo de quintal na cidade de Palo Alto, na Califórnia, de onde começaram a sair equipamentos sofisticados em 1939 ?, a HP escolheu o Brasil para deflagrar em meados do ano a construção de laboratórios equipados com a parafernália básica para estimular a garotada pobre a usar a criatividade no mundo digital. As novas ?garagens? HP terão computadores, impressoras e softwares como o Word e Excel, além de conexão à Internet. São as ferramentas básicas que podem dar o empurrão para um jovem entre 16 e 24 anos conseguir, afinal, seu primeiro emprego. ?Estamos em fase de negociação com várias ONGs para que coordenem a educação nesse novo projeto. No início, vamos erguer três laboratórios?, explica Gilberto Galan, diretor de assuntos corporativos da empresa, a DINHEIRO. A verba destinada à empreitada não é lá muito impressionante: apenas US$ 300 mil. Mas Galan considera que, aliada a aulas de música, teatro e dança, que estimulam a sensibilidade, esta nova investida no terceiro setor pode dar a cerca de 1 mil jovens a chance de se tornarem empreendedores.

O plano prevê que duas dessas novas garagens do século 21 da HP serão erguidas em regiões carentes das zonas Sul e Leste da capital paulista. Uma terceira beneficiará a população pobre da cidade de Barueri, na Grande São Paulo, onde está a sede brasileira da multinacional. Entidades do terceiro setor estão sendo sondadas para participar do programa. Uma delas deve ser a Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança. O trabalho prevê um forte enfoque também no marketing. ?Vamos criar uma identidade visual dos novos laboratórios semelhante àquela da garagem que Bill Hewlett e Dave Packard usaram para iniciar seus negócios.? O projeto todo não significa, porém, uma estréia da companhia no apoio a menores carentes do País. Desde o início de 2000, a HP contribui com a ONG paulistana Meninos do Morumbi, em cuja sede instalou um laboratório de computação. A nova empreitada se encaixa perfeitamente com a nova estratégia mundial da companhia, implementada por sua presidente, Carly Fiorina. A executiva, que tem formação em história e filosofia, determinou nos últimos meses uma redefinição interna e externa da empresa, a fim de reposicionar a HP novamente como uma companhia de invenção de produtos e criadora de soluções para os clientes. A recompra da garagem em Palo Alto, meses atrás, foi inclusive uma jogada de marketing que visa tornar o pequeno barraco em um ícone dos novos projetos do conglomerado. Afinal, apesar de um faturamento mundial de US$ 48,8 bilhões ao ano de sua empresa, Fiorina pretende estar preparada para as constantes mudanças tecnológicas. As garagens brasileiras devem ajudar e muito vários garotos jogados à margem da sociedade. Mas servirão também de reforço para a nova imagem da HP.