A mineradora britânica Anglo American recebeu os holofotes da imprensa mundial ao anunciar, em 2008, um projeto faraônico de transporte de minério de ferro no País, um dos maiores do gênero no mundo. O projeto, batizado de Minas-Rio, foi idealizado pela MMX – à época sob controle do empresário Eike Batista. A ideia era instalar uma imensa tubulação de 525 quilômetros cortando 32 municípios entre o norte de Minas Gerais e o litoral fluminense. Mas os planos não saíram como o esperado e quase entraram pelo cano. O orçamento inicial de US$ 5,5 bilhões precisou ser revisto para US$ 8,8 bilhões – com ajuda do BNDES.

Os gastos não calculados cobriram o pagamento de 1,1 mil indenizações por desapropriação de áreas, despesas com atrasos na liberação de licenças ambientais e custas judiciais de embates com proprietários de terras por onde os tubos passariam. “Uma obra dessa complexidade e dimensão sempre gera riscos”, disse o presidente da empresa, Paulo Castellari, em entrevista à DINHEIRO em 2012. “Depois de pronta, vai valer a pena.” A conclusão do Minas-Rio, cujo custo final equivale a mais de sete vezes ao da controvertida Refinaria de Pasadena, nos EUA, adquirida pela Petrobras em 2006, começa, enfim, a se tornar realidade.

Com mais de 90% da obra já finalizada, a companhia garante que o mineroduto estará operando neste ano. O primeiro embarque do minério extraído em Conceição do Mato Dentro (MG), e transportado pelo mineroduto, seguirá para a China no final de 2014. “É um projeto sem igual dentro da companhia em todo o mundo”, diz o executivo Pedro Borrego, responsável pelos negócios de minério de ferro da Anglo American no País. Com os tropeços na execução da obra, o retorno do investimento da Anglo American acabou sendo atrasado em três anos – passou de sete anos para uma década. “O projeto inicial não estava bem definido em termos de engenharia”, diz Borrego.

“Com isso, além das indenizações, tivemos que nos adequar à nova estrutura.” Desde agosto de 2008, a Anglo American é detentora de 100% da mina de extração no norte de Minas Gerais, da usina de beneficiamento, do mineroduto e de 50% do terminal de minério de ferro do Porto do Açu, no qual é parceira da antiga empresa de logística de Eike Batista, a LLX, hoje Prumo Logística. “O projeto custou mais, demorou mais. Acho que podemos dizer que a Anglo American foi mais uma empresa enganada por Eike Batista”, diz o analista da Futura Invest, Adriano Moreno. “Mas é um dos grandes projetos da Anglo American no mundo.” O Minas-Rio, apesar dos problemas, é um dos maiores trunfos da Anglo American para se destacar no disputado mercado mundial da mineração.

Quando estiver em pleno funcionamento, o projeto vai render à subsidiária brasileira uma participação de 25% do Ebitda global da Anglo American. No ano passado, somente com as operações de níquel, nióbio e fosfato, o Brasil contribuiu com 10% da geração de caixa global da empresa, que foi de US$ 9,5 bilhões. A capacidade de produção do empreendimento será de 26,5 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. “O País é um dos grandes polos de receita do grupo”, afirmou Borrego. “Por isso, todas as apostas estão concentradas no Minas-Rio.”

Os projetos em mineração têm, geralmente, segundo Moreno, um período de maturação em torno de 20 anos. Mesmo com o mercado em piores condições em relação a 2010, quando se estimava o primeiro embarque do minério da Anglo American, a companhia terá condições de se destacar no cenário mundial, na opinião do analista. Atualmente, os preços da commodity giram em torno de US$ 100 a tonelada. Em fevereiro, estava cotada em US$ 120. “Os preços estão menos atrativos, mas a logística e a qualidade do minério produzido pelas empresas brasileiras podem ser componentes de destaque para a Anglo American”, diz Moreno. As reservas minerais da companhia na mina em Conceição do Mato Dentro chegam a 1,45 bilhão de toneladas de um produto considerado premium no mercado.

O teor de ferro poderá ser de 68% após o beneficiamento do minério. Quanto à logística, o projeto Minas-Rio pretende ser um dos mais eficientes no País. A tonelada transportada pelo mineroduto terá um custo de US$ 2. O mesmo minério, via ferrovia, tem custo médio de US$ 13. O transporte do minério de ferro pelos 525 km do mineroduto levará cerca de três dias, a uma velocidade de seis quilômetros por hora. “O custo logístico nesse patamar vai compensar as despesas maiores no beneficiamento do minério”, diz o economista da Tendência Consultoria, Bruno Rezende.