07/11/2007 - 8:00
Na adolescência, Gisela Mac Laren, de 39 anos, sonhava em ser cantora. Chegou inclusive a se matricular em uma escola de canto para aprimorar os dotes musicais.
Mas o destino tinha outros planos para essa bela morena de 1,60m de altura. Em vez de encarar platéias, estúdios de gravação e dar autógrafos a fãs, ela consome os dias pilotando o estaleiro Mac Laren, situado no bairro de Ponta de Areia, em Niterói (RJ). Apesar de atuar em um ambiente pesado, no qual as mulheres ainda são contadas nos dedos das mãos, Gisela mantém viva a alma feminina. Seu escritório é um bom exemplo. O espaço de 50 metros quadrados é decorado com sobriedade e possui toques delicados: a orquídea sobre a mesa, o conjunto de porta-retratos com imagens dos filhos e do marido, além de um cantinho na estante cheio de pequenas estátuas de coruja, em madeira e porcelana. Muitas delas herdadas do pai, Arthur Mac Laren. Por que corujas? ?Elas são sinônimo de sabedoria, uma virtude essencial para vencer no mundo empresarial?, resume Gisela, que assumiu a presidência da companhia em 2000, após a aposentadoria do patriarca.
Sob seu comando, o estaleiro fundado em 1938 vive um novo ciclo de crescimento embalado pela assinatura de contratos para fabricação de módulos de plataformas para exploração de óleo e gás. Trata-se do segmento responsável pela revitalização da indústria naval.
Mas na avaliação de Floriano Carlos Martins Pires, professor de engenharia naval da Coppe-UFRJ, será preciso ir além. ?Os estaleiros brasileiros têm de apostar na qualificação e na melhoria da infra-estrutura para provar que têm condições de atuar em um mercado cada vez mais globalizado e competitivo?, argumenta. E é exatamente isso que a presidente da Mac Laren pretende com a construção de um dique seco no complexo de Ponta de Areia. O empreendimento orçado em R$ 140 milhões deve ser concluído no final de 2008. Com a obra, o estaleiro estará apto a produzir plataformas semi-submersíveis, navios-plataforma e navios de apoio à prospecção de petróleo e gás.
?Estamos disputando encomendas no valor total de US$ 2 bilhões?, celebra Gisela. O impacto nas receitas será imediato. A meta é fechar 2009 com faturamento de US$ 150 milhões, três vezes maior que o atual.
A trajetória profissional de Gisela começou em 1983, aos 15 anos, quando foi trabalhar como escriturária no Mac Laren. E não parou mais, apesar da ferrenha oposição do pai, que não queria ver a filha mergulhada em um ambiente de marmanjos. ?Tive de me impor e mostrar a cada instante que tinha competência?, recorda. A ascensão ocorreu em 1989, quando ela abandonou o curso de economia, na Nove University (nos Estados Unidos), para ajudar o pai a tirar o estaleiro da concordata. O processo levou dez anos para ser concluído. ?Meu irmão Arthur, de 49 anos, fez carreira na área médica e nunca se interessou pelos negócios da família?, conta Gisela. De uma só tacada a ex-escriturária virou executiva do Mac Laren e diretora do Sindicato da Indústria Naval. Nas peregrinações pelos gabinetes de Brasília, em busca de apoio para o setor, ela teve de driblar a desconfiança de interlocutores, ressabiados diante de uma jovem que se apresentava como representante de uma indústria carregada de testosterona. Foi nessa época que Gisela adotou o estilo ?quebra-ossos? de aperto de mão. ?É como se ela quisesse deixar claro que sabe jogar duro, apesar de ser mulher?, avalia um empresário do setor naval. Esse ?batismo de fogo? foi suficiente para mostrar ao patriarca que ele já tinha para quem passar o timão do estaleiro.