16/03/2011 - 21:00
O tema predominante no noticiário esportivo das últimas semanas não é a aposentadoria de Ronaldo Fenômeno ou a volta de Ronaldinho Gaúcho. O que se discute é em qual emissora de televisão a torcida brasileira vai assistir ao Campeonato Brasileiro de Futebol a partir de 2012.
A disputa pela transmissão dos jogos revela quanto os dirigentes dos clubes pensam pequeno e deixam de faturar com a exposição das marcas. As redes Globo e Record brigam por um negócio que movimentou R$ 1,7 bilhão no ano passado.
E só estão nessa conta o que se vende com o distintivo dos clubes, o que as empresas pagam para patrocinar os times, o que rendem as bilheterias dos estádios e o que os torcedores pagam para ver seus times no sistema de transmissão exclusiva, o chamado pay-per-view.
Muito dinheiro? Que nada. Fosse o futebol brasileiro administrado como uma empresa, obrigada a dar lucro e distribuir dividendos (ou títulos) a seus acionistas (torcedores) ao final de cada exercício (temporada), o número seria muito maior.
Há muito se fala em renovação no futebol. Na cartolagem ultrapassada, que não consegue transformar em dinheiro a paixão de milhões de consumidores fiéis a uma marca. Até existem alguns exemplos de iniciativas de marketing bem-sucedidas aqui e ali.
Mas são esporádicas e com resultados tão simplórios que fariam rir dirigentes de uma liga inglesa ou espanhola. Para se ter uma ideia da distância que nos separa do chamado Primeiro Mundo, o Real Madrid fechou 2010 com € 442,3 milhões no cofre – algo próximo a R$ 1 bilhão.
Podem-se usar os argumentos de sempre. O time de José Mourinho e companhia está no Velho Continente (mas não é a Europa que está em crise?); o poder aquisitivo dos madrilistas é maior do que o dos corintianos ou flamenguistas (mas não é na Espanha que o desemprego bateu em 20% da população?).
Não há justificativa econômica nem futebolística que justifique tamanha distância entre o que registram os cofres do clube de Cristiano Ronaldo e o que fatura o de Ronaldinho Gaúcho. Ou alguém imagina que há mais espanhóis bons de bola do que brasileiros? Com todo respeito aos atuais campeões do mundo.
A discussão em torno dos direitos de transmissão poderia ser uma boa oportunidade para debater também como nossos clubes são administrados.
Por que um país que produz craques em série não consegue ter a receita que tem um Manchester United ou um Barcelona? Qual é, afinal, o potencial do futebol brasileiro? Parece muito maior do que o que tem rendido até aqui.
Para continuar no mesmo exemplo, até 2011, a Rede Globo paga estimados R$ 400 milhões para transmitir os jogos do Campeonato Brasileiro.
Já foram oferecidos R$ 930 milhões só para explorar o negócio em internet, telefone celular e pay-per-view, no triênio 2012/2014. Isso sem contar a chamada tevê aberta.
Para o torcedor fanático – e somos muitos – pouco importa se o jogo do time do coração vai ser transmitido por Globo, Record ou Discovery Kids.
Mas, se os torcedores fanáticos – e somos milhões – fossem tratados como potenciais consumidores e clientes fiéis à marca, os cartolas estariam mais preocupados em garantir a melhor proposta, e não em fazer leilão com regras pouco claras ou que atendam a seus próprios interesses.