06/02/2008 - 8:00
A história da empresária inglesa Tamara Mellon, de 40 anos, parece um conto de fadas do tipo da Cinderela, que, ao experimentar o sapato de cristal, sai do anonimato para se tornar princesa. Em 1996, Tamara trabalhava como jornalista de moda da revista Vogue britânica e descobriu um homem que fazia sapatos femininos sob medida, chamado Jimmy Choo. Suas criações eram ousadas e levavam pedras, cristais e outros materiais nobres. Com visão crítica de quem analisava as tendências, Tamara enxergou a grande oportunidade. Pediu ao pai, o empresário Tom Yeardye, 150 mil libras (US$ 298 mil) e comprou metade do negócio. Não demorou para que os sapatos Jimmy Choo se tornassem desejo de consumo e vestissem os pés de celebridades, como a cantora Madonna e as atrizes Cameron Diaz e Catherine Zeta-Jones. Tamara, de uma hora para outra, tornou-se o símbolo da marca e referência em moda e glamour. Mas o salto de seu sapatinho de cristal começa a apresentar rachaduras. Tamara, hoje dona de um patrimônio pessoal de 100 milhões de libras, o equivalente a US$ 198 milhões, acaba de entrar em uma disputa judicial com a própria mãe, a exmodelo da Chanel, Ann Yeardye. Motivo: ela acusa a mãe de ter ficado com US$ 10 milhões que lhe pertencem.
A disputa remonta a 2004, quando Tamara vendeu parte da Jimmy Choo para um fundo de investimentos chamado Phoenix Equity Partners. Na época, o dinheiro da venda foi depositado nas contas de Tamara e de sua mãe. Acontece, entretanto, que a quantia destinada à conta da matriarca seria maior do que lhe correspondia. Durante os últimos anos, Tamara tentou convencer a mãe a devolver o dinheiro. Em vão. ?Estou embaraçada de ver que minha mãe não quer devolver o dinheiro que não lhe pertence?, disse Tamara à agência de notícias Reuters.
A briga em torno dos US$ 10 milhões vai além do dinheiro e pode causar mais estragos à marca Jimmy Choo. ?A Tamara Mellon é a cara da marca?, diz a consultora de moda Manu Carvalho. ?Ela traz a imagem da mulher bonita e bem-sucedida.
É a diva da grife.? Esse estereótipo, porém, está descendo do salto. Ao entrar na Justiça contra a própria mãe, ela põe a Jimmy Choo em evidência ? de forma negativa, é bom frisar. E isso é o que a grife menos precisa, ainda mais no novo momento que atravessa.
A trajetória da Jimmy Choo no mundo dos negócios é rara. Desde 1996, quando foi fundada, ela já foi vendida três vezes. Em 2001, o próprio artesão Jimmy Choo saiu da companhia e embolsou 20 milhões de libras (US$ 39,7 milhões). Em 2004, foi a vez do fundo Phoenix Equity Partners comprar grande parte das ações.
No ano passado, a grife foi vendida novamente, só que desta vez para o fundo inglês Tower Group Capital, por 185 milhões de libras (US$ 368 milhões). Tamara ainda possui uma pequena parte na sociedade, mas agora, mais do que nunca, deve se portar como a embaixatriz da marca.
A idéia do fundo britânico é expandir as operações da empresa, dona de 60 lojas espalhadas em 17 países e faturamento de 85,6 milhões de libras (US$ 170 milhões), em 2007, número 28% maior do que o apresentado em 2006. Os ambiciosos planos da marca já estão sendo colocados em prática. Além dos sapatos, a Jimmy Choo já vende bolsas e carteiras e, ainda em 2008, vai lançar óculos e, em 2009, perfumes. No Brasil, os produtos da grife são vendidos na Daslu. Os pares custam, em média, R$ 1,9 mil. ?Muitas clientes aparecem na loja com recortes de revistas internacionais querendo comprar os últimos lançamentos?, diz Kim Hamence, gerente de importados da Daslu. É, de fato, um caso de sucesso, uma marca formadora de opinião. Só deve tomar cuidado para não se envolver em escândalos. Afinal, um passo em falso, como mostram os contos de fada, pode quebrar o encanto.
CONCORRÊNCIA NO BRASIL A marca francesa Christian Louboutin chega no segundo semestre A Jimmy Choo não reina sozinha no mundo dos sapatos mais chiques. Ela tem grandes concorrentes, como Manolo Blahnik e Christian Louboutin. Este último, descendente de francês com vietnamita, vai desembarcar no Brasil. A empresária Eliana Tranchesi, dona da Daslu, fechou parceria com o badalado designer para montar uma loja dentro da butique paulistana. Estima-se que no segundo semestre as endinheiradas brasileiras encontrarão os sapatos com saltos de até 13 centímetros, sola vermelha e, a julgar pelos preços praticados na Europa, bem caros. Os pares de Louboutin chegam a custar 1,5 mil euros. PRESENÇA GLOBAL: grife de Tamara Mellon (à dir.) tem mais de 60 lojas em 17 países |