O empresário Rubens Ometto Silveira Mello, 59 anos, controlador do grupo Cosan, passou a vida com o pé no acelerador. Embora tenha um sobrenome, por parte de mãe, ligado a uma das maiores dinastias do etanol brasileiro, ele sempre foi uma espécie de outsider da família Ometto, que fundou, em 1943, a lendária Usina da Barra. Quando assumiu sua primeira usina de açúcar e álcool, o jovem Rubens, que sempre fez questão de ser chamado de Silveira Mello, para se diferenciar dos herdeiros da família, colocou em prática um estilo peculiar de gestão.

Ousado, agressivo e por vezes até temerário. Fundado no apetite pelo risco, ele sempre fez questão de crescer à base de aquisições e alto endividamento. Tanto que, em diversas oportunidades, usineiros tradicionais de Ribeirão Preto passaram a especular sobre a data em que ?Binho? ? é esse seu apelido ? finalmente quebraria. Rubens, no entanto, sempre encontrou uma saída. Em 2005, foi o primeiro usineiro brasileiro a fazer um IPO na Bovespa e pôde usar os recursos para colocar as finanças em ordem. Mas logo depois disso continuou fazendo aquisições.
 

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Há pouco mais de um ano, surpreendeu o mercado ao comprar a Esso por US$ 826 milhões, quando o dólar estava a R$ 1,60 ? a moeda americana disparou e a Cosan, mais uma vez, passou a ser vista como uma empresa extremamente alavancada. Na semana passada, Rubens encontrou mais uma saída ? talvez a última de sua longa e bem-sucedida trajetória empresarial. Fechou uma parceria com a Shell, que assumirá as dívidas da Cosan, mas também terá a gestão compartilhada da operação e tentará conter a ousadia de Ometto.  O que significa que, pela primeira vez, ele não colocará mais o pé no acelerador.  Será no máximo o copiloto da operação.

A trajetória de sucesso de Ometto começou aos 17 anos. Quando a maioria de seus 20 primos almejava trabalhar nos canaviais da família plantados há gerações na interiorana Piracicaba, Ometto debandou para São Paulo com a ideia fixa de cursar engenharia. Passou no vestibular da Escola Politécnica, a Poli, e, apressado, não descansou enquanto amigos não o indicassem para uma vaga em alguma instituição financeira de grande porte.

Calhou de um deles conhecer um executivo do Unibanco, para onde Ometto foi dar expediente como estagiário. Aos 21 anos, idade em que seus colegas se limitavam às apostilas da faculdade, foi nomeado assessor da diretoria do banco. Aos 23, teve um golpe de sorte. Numa festa em família, sentou à mesma mesa de José Ermírio de Moraes Filho (morto em 2001) , do Grupo Votorantim, e a identificação foi imediata. Ambos eram obsessivos pelo trabalho, francos de uma maneira incomum e sequiosos por sucesso.

Ermírio convidou Ometto para trabalhar na Votorantim. Aos 24 anos, o jovem engenheiro já era diretor financeiro da empresa de Ermírio, o que muitos acreditam ser, pela precocidade, um recorde no universo empresarial brasileiro. Ometto ficou lá até os 30 anos e depois retornou ao ramo de origem da família ? as usinas de cana. Na semana passada, ou três décadas depois, a Cosan, um colosso do setor de açúcar e álcool, e o próprio Ometto, principal controlador da companhia, atingiram seu ponto máximo ? até que ele faça seu próximo negócio.

Associaram-se à gigante anglo-holandesa de petróleo Shell, algo que garante ao empresário portas abertas no mercado internacional de etanol. O segredo de uma das trajetórias empresariais mais impressionantes do capitalismo brasileiro? ?Três fatores contribuíram significativamente para o meu crescimento profissional?, disse Ometto à DINHEIRO. ?São eles persistência, dedicação e ansiedade.?

Ansiedade? Para Ometto, essa é a palavra que melhor traduz o seu ritmo sempre veloz. Ele gosta de fazer tudo rapidinho, resolver logo os impasses, dar um ponto final nos projetos que abraça. Quando o problema é sério demais para ser solucionado de uma hora para outra, Ometto coloca em jogo outro lado de sua personalidade ? a persistência. Foi disso que precisou para vencer uma disputa judicial com os irmãos Mara, Celina e Celso e com a mãe, Isaldina, pendenga essa que se arrastou por dez anos.

Em questão, o controle das empresas da família. Ometto queria reunir todo o patrimônio em um único grupo e profissionalizar a gestão, mas encontrava resistência entre seus pares. Não é difícil de imaginar o desgaste que uma briga dessas causa em qualquer um, mas também é preciso admitir que só um autêntico casca-grossa suporta tamanha pressão. Ometto suportou, venceu na Justiça e construiu a Cosan do seu jeito. ?O Rubens tem sensibilidade para saber a hora certa de recuar e de avançar?, diz Ivan Zurita, presidente da Nestlé, que tem uma antiga convivência com o dono da Cosan.

Por mais que a situação seja delicada, Ometto sempre encontra uma saída. Alguns episódios marcantes de sua trajetória confirmam essa impressão. Em meados dos anos 70, seu tio Orlando Ometto, um dos fundadores da TAM, pediu ao sobrinho para ajudá-lo a se livrar de um certo Rolim Amaro, executivo que estava começando a se destacar dentro da empresa. A missão do jovem Ometto era encontrar um pretexto para demitir Rolim. Ometto aproximou-se do homem que mais tarde faria história na TAM e descobriu que ele era competente demais para ser alijado da companhia aérea.

Resultado: Ometto não só convenceu o tio a deixar Rolim na empresa como acabaria recomendando a ele que vendesse parte da empresa para o executivo que estava prestes a ser demitido. ?Conheço o Rubinho desde menino e posso dizer que ele tem uma sensibilidade para os negócios?, diz Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e hoje coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getulio Vargas. ?Ele tem um grande timing para captar oportunidades?, diz Philippe Reischstul, ex-presidente da Petrobras, que se aproximou de Ometto graças a interesses conjuntos na área de energia.

Não faltam polêmicas na vida empresarial de Ometto. Uma delas fez com que fosse considerado persona non grata por alguns analistas de mercado. Em 2007, anunciou uma reestruturação societária na Cosan. A proposta era a seguinte: ele criou uma nova holding, a Cosan Limited, com sede nas Bermudas e ações listadas na Bolsa de Nova York. Depois, convidou os acionistas da Cosan a trocarem seus papéis por ações estrangeiras. Foi um golpe de mestre. Ometto escolheu as Bermudas porque as leis locais permitem que as ações de controle tenham poder de voto diferenciado (nas Bermudas, cada ação sua valeria por dez das comuns).

?Era um verdadeiro absurdo, uma facada nas costas dos acionistas minoritários?, diz um analista de uma grande instituição financeira. Todo o mercado reagiu, e o modelo imaginado por Ometto teve de ser rediscutido. Esse mesmo estilo ousado é   uma característica marcante dos empresários que admira. ?Minha maior influência profissional foi o José Ermírio de Moraes Filho?, disse Ometto à DINHEIRO. Outra referência é Jorge Paulo Lemann, que, a exemplo de Ermírio de Moraes Filho, fez história por ter sangue-frio para os negócios.

Na vida pessoal, é discreto. Casado há mais de 30 anos com Mônica Ometto e pai de dois filhos, é um apaixonado por telenovelas (chega a gravar os capítulos para assistí-los depois). Muito religiosa, Mônica às vezes consegue arrastá-lo para a missa. No ano passado, quando a Cosan comprou os ativos da Esso no Brasil, o casal foi a Fátima, em Portugal, agradecer aos céus pela conquista. Pessoas próximas dizem que não é fácil trabalhar com Ometto. Ele não mede palavras, qualquer que seja o interlocutor.

Certa vez, teria dito para Dilma Rousseff que ela sabe ?no lodo em que está pisando?, quando discutiam algum tema ligado à questão energética. Embora tenha deixado a presidência da Cosan (ocupa hoje o cargo de presidente do conselho), é ainda o mandachuva da empresa. ?A última palavra é sempre dele?, disse à DINHEIRO Marcos Lutz, recentemente empossado CEO da companhia.