Nos últimos meses, a OceanAir, uma das caçulas da aviação comercial brasileira, tem surpreendido a todos, seja com os ousados planos de expansão internacional, seja com as sucessivas encomendas de jatos de última geração, entre eles o recém-apresentado Boeing 787 Dreamliner. Mas German Efromovich, presidente da companhia, quer mais. Seus movimentos pela capital paulista mostram que o apetite pelo setor aéreo só aumenta. O alvo da vez são ativos da Vasp no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, alguns dos quais sem uso há mais de dois anos, quando a companhia paulista deixou de voar. No último dia 20, o juiz Alexandre Alves Lazzarini, da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais, que cuida do processo da Vasp, recebeu Efromovich e três advogados em seu gabinete. Em despacho, registrou o interesse do empresário do grupo Sinergy em investir na congênere. “Foi exposto que a OceanAir está estruturando conjuntamente com um grupo de investidores uma proposta para aquisição da Vasp, a qual será apresentada nos próximos dez dias”, aponta o documento. “Por meio desta proposta, esses investidores, interessados na aquisição de ativos vinculados ao setor aéreo, adquirirão unidades produtivas isoladas, compreendendo parte substancial das suas atividades acessórias. A OceanAir, por sua vez, contrataria essas unidades produtivas isoladas, garantindo-lhes o desenvolvimento de suas operações e o conseqüente fluxo de recursos.”

Procurados por DINHEIRO, OceanAir e o juiz Lazzarini não comentam o assunto. Mas a Vasp confirmou que de fato há tratativas em andamento. “É exatamente o que está escrito”, diz Vera Salgado, secretária de Raul Medeiros, interventor da empresa. “Mas o que temos é só o registro da intenção (de Efromovich) como investidor. A OceanAir ainda não detalhou que tipo de operação realizará, se será a compra da companhia ou apenas das áreas dela.” Quem conhece Congonhas sabe o valor das instalações da Vasp no aeroporto. O terreno de 200 mil metros quadrados, avaliado em R$ 500 milhões, abriga um edifício administrativo, três grandes hangares, o prédio de operações e toda a estrutura de manutenção, engenharia e ferramentaria. O espaço de manobras, por sua vez, é grande e permite que certas etapas da manutenção sejam realizadas no próprio pátio. Prato cheio para a OceanAir, que cresce a passos largos e precisa logo de uma estrutura mais ampla. Seus Fokker 100 e as escadas de passageiros já estão na área da Vasp, à vista de todos que passam pela avenida Washington Luís.

R$ 500 MILHÕES é o valor estimado do terreno da Vasp no aeroporto de Congonhas

PRONTO PARA O EMBARQUE: Efromovich, da OceanAir, manifestou ao juiz interesse por bens da Vasp. Hoje, equipamentos da companhia já ocupam espaços que pertencem a concorrente

”Ela vai receber uma frota de Airbus a partir do ano que vem e a base que mantém em Sorocaba (interior de São Paulo) não é suficiente”, diz um consultor de aviação, que também traz uma má notícia aos saudosos: “Está fora de cogitação a ressurreição da Vasp como empresa de transporte aéreo. As dívidas estão na casa dos bilhões, os aviões não têm condição de operar. Depois que essas companhias param, não tem mais jeito.” Pode ser. De toda forma, a oferta de Efromovich vem como um complemento da jogada que fez ao sublocar da Target o antigo hangar da Transbrasil no aeroporto. A Target é uma empresa de Celso Cipriani, expresidente da mesma Transbrasil.

No fim das contas, o negócio traz uma perspectiva para os antigos funcionários da Vasp, que ficaram sem receber seus direitos trabalhistas quando a empresa entrou em colapso. As ações na Justiça somam R$ 1 bilhão. “Sem sombra de dúvida, as perspectivas de pagamento dos credores melhoram. Se não ocorrer isso, a Vasp vai à falência. E a conclusão desse processo levaria uma eternidade”, avalia Graziella Baggio, presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas e ex-comissária da Vasp.

ESQUELETO
R$ 1BILHÃO
é o valor total das ações trabalhistas que tramitam contra a Vasp