15/12/2000 - 8:00
Um levantamento feito pela Telesp Celular, uma das maiores operadoras de telefonia móvel do País, mostra que de cada dez novos clientes, quatro aposentaram o velho aparelho por um modelo com Wireless Application Protocol, a tecnologia conhecida por WAP que permite acessar a Internet pela tela do celular. Em menos de um ano, a Telesp Celular ganhou 150 mil clientes nessa categoria, o dobro da meta estabelecida pelo presidente da companhia, Abílio Ançã Henriques. Estima-se que até o final do próximo ano cerca de 1 milhão de pessoas assinem o serviço.
Algum problema à vista? Nenhum, mas os números animadores escondem um contra-senso: metade dos atuais clientes não sabe usar o celular WAP, e o restante perde a motivação pelas limitações do meio. A velocidade de conexão do aparelho à Internet é baixa ? 9,6 kilobites por segundo ?, não permite imagens, a tela é pequena e os teclados desconfortáveis. Na Europa, menos de 2 milhões de pessoas usam a Internet wireless, metade do que previam os analistas de mercado. A tecnologia fez sucesso apenas na Ásia, especialmente no Japão, onde existem cerca de 13 milhões de assinantes do serviço, a maioria jovens que usam o WAP para trocar e-mails. Resultado: um em cada dois dos investidores que apostaram no WAP desistiram do negócio devido às altas quantias necessárias para trocar as redes telefônicas. Só para conectar a Europa ao resto do mundo, seriam precisos US$ 260 bilhões, um dinheiro que as empresas levariam sete anos para obter de volta. E dentro de um ano teriam de gastar, de novo, vários bilhões para implantar a rede de celulares de terceira geração, aqueles aparelhos que vão dar acesso à Internet com alta velocidade, permitindo inclusive ver imagens coloridas. Em outras palavras: o WAP acabou de chegar, é um sucesso, nem bem foi implantado, mas talvez já seja coisa do passado. Por que, então, as operadoras brasileiras estão apostando tão alto?
A resposta é simples. O Brasil adiou a discussão dos celulares de terceira geração. O governo não regulamentou o setor, nem sequer iniciou a discussão. ?O País preferiu adotar uma tecnologia que é passageira. O governo quer vender todo o espectro disponível para transmissão de voz e discutir depois a terceira geração?, diz Abílio Ançã Henriques, presidente da Telesp Celular. Ao contrário dos países desenvolvidos, onde mais da metade da população tem celular ? o que forçaria as operadoras a subsidiar a troca dos aparelhos antigos pelos WAP ?, no Brasil menos de 20% da população usa celular. Ou seja, além dos poucos clientes para migrar de aparelho, há um mercado inteiro a se conquistar. Isso explica por que as operadoras estão gastando os tubos nesse negócio. A Telesp Celular já investiu cerca de R$ 100 milhões e vai desembolsar mais R$ 250 milhões no próximo ano para trazer os celulares 2,5G. São modelos intermediários aos 3G, Terceira Geração, e permitem conexão à Internet a uma velocidade dez vezes maior que a atual. Com os 2,5G será possível ver na tela do celular imagens de baixa resolução. ?É um passo a mais que estamos dando para conquistar clientes?, diz Henriques.
A BCP entrou neste negócio com atraso e está correndo atrás para oferecer o serviço a seus clientes ainda este ano. Isso porque opera com tecnologia TDMA (Time Division Multiple Access) e a maioria dos aparelhos WAP disponíveis no mercado são CDMA (Code Division Multiple Access). ?Apenas recentemente conseguimos alguns modelos WAP?, diz Carlos Boscheti, vice-presidente de tecnologia da BCP. A empresa está investindo no WAP porque quer dar um passo na direção dos celulares de terceira geração, que devem chegar ao Brasil daqui a três anos. Para dar esse passo, será necessário investir entre US$ 800 milhões e US$ 1 bilhão na atualização da rede telefônica móvel. ?Quem não investir agora no WAP, preparando sua rede para a terceira geração, terá de gastar US$ 200 milhões lá na frente, e essa conta quem acaba pagando é o consumidor.?
Até o final deste ano o número de aparelhos WAP vendidos no País deverá chegar a 1 milhão, segundo a consultoria SurfTrade, especializada em Internet. Os fabricantes não revelam quanto faturaram com a tecnologia, mas calcula-se que no mundo já foram vendidos algo em torno de 290 milhões de aparelhos com o protocolo. Por essa conta, o Brasil teria uma participação atual inferior a 1%, mas como as vendas por aqui crescem a uma velocidade espantosa, estima-se que o Brasil possa representar 8% do mercado global até 2003. A explicação para o sucesso é simples: o preço dos celulares. Paga-se cerca de R$ 300 por um aparelho, o mesmo preço de um telefone digital que não dá acesso à Internet. Hoje todos os aparelhos CDMA utilizados pela Telesp Celular têm o protocolo WAP, um acordo que a companhia fez com os fabricantes. ?Foi uma maneira de incentivarmos o uso dos aparelhos?, diz Hilton Mendes, diretor da Motorola.
Portais, bancos e empresas também apostaram alto nesse mercado para oferecer produtos e serviços. Grande parte dos acessos são consultas bancárias e movimentações de conta corrente. Acredita-se que os pagamentos via celular possam movimentar cerca de US$ 1 bilhão no próximo ano. As empresas que produzem conteúdo também entraram na briga: para estar no topo da telinha do celular chegaram a pagar até R$ 1 milhão. ?Quanto mais alto na tela, melhor. O usuário tem dificuldades de navegar e acaba optando pelo primeiro que encontra?, diz o consultor Ricardo Anderáos, que também é sócio da GoWap, uma empresa que produz conteúdo para WAP. Segundo ele, há ainda outro problema para o consumidor: os telefones não garantem a liberdade de escolher a operadora que se deseja na hora de fazer a conexão à Internet. ?Eles só permitem discar para um provedor, sempre através da operadora com quem o fabricante tem acordo?, diz o consultor. Mesmo assim, vale a aposta. As operadoras estão de olho em um mercado que ainda está para nascer. Têm na manga a informação ? certa ou errada, o tempo dirá ? de que em 2004 o número de acessos à Internet por celular vai passar o dos computadores pessoais.