22/07/2009 - 7:00
A ação conjunta dos day traders sobre um papel pode provocar oscilações superiores a 1%, para cima ou para baixo
Parecia um ambiente corporativo comum. Uma sala com mesas redondas, uma lousa branca de resina, um aparelho de data-show e não mais do que dez pessoas sentadas com seus laptops ligados, manuseando um programa de gráficos financeiros. Naquela tarde de segunda-feira, o discreto grupo movimentou quase R$ 5 milhões na bolsa, comprando e vendendo ações preferenciais da Petrobras. Ao final do pregão, todos fecharam seus computadores discretamente e, em poucos minutos, deixaram a sala.
Havia sido um dia de ganhos. A cena ocorreu em Porto Alegre, a 1.120 quilômetros da BM&FBovespa. O pequeno grupo, silencioso, faz parte de uma turma do barulho: os day traders, investidores que fazem operações diárias e movimentam cifras milionárias. Reunidos pela Escola da Bolsa, que ministra cursos para operadores com duração de cinco dias, os investidores querem deixar sua marca nos negócios.
Mas até que ponto as operações feitas por day traders podem afetar o valor diário de um papel? Afinal, se um grupo assim movimenta milhões, qual é o impacto de centenas de day traders na formação dos preços das ações no dia a dia? A movimentação desses investidores não é divulgada pela bolsa. Mas que ela existe, existe.
Day traders iniciantes giram R$ 5 milhões em ações na bolsa em um único dia
Em períodos de relativa calma na bolsa, a presença dos day traders pode influenciar mais as cotações do que os investimentos estrangeiros ou de pessoas físicas. Os day traders são atraídos por papéis de alta liquidez, como VALE5 e PETR4. Assim, garantem que as ações compradas serão vendidas no fechamento do pregão. Apesar de serem amantes da volatilidade, nem mesmo eles se sentiam confortáveis em operar quando a bolsa subia ou caía 10% no mesmo dia, como no final de 2008.
“Quando o mercado fica mais sereno, a volatilidade total diminui e evidencia a movimentação dos day traders”,explica Alexandre Wolwacz, da consultoria Leandro & Stormer. Wolwacz exemplificou uma operação em que claramente os day traders pressionaram o valor do papel PETR4, na quarta-feira 15. Na primeira hora do pregão, o valor da ação oscilou entre R$ 29,95 e R$ 30,45. Nesse momento, os investidores notaram que a tendência era de alta e entraram no mercado na segunda hora, comprando. “Essa diferença entre o preço da mínima e da máxima na primeira hora (R$ 0,50) é a variação que os day traders irão buscar ao longo do dia. O alvo deles é vender quando a ação estiver a R$ 30,95”, explica.
Com o passar das horas, o preço chegou a R$ 30,92, momento em que os traders começaram a vender. A partir daí, a ação recuou para R$ 30,76, fechando o dia com 2,02% de valorização. Segundo Wolwacz, em 80% dos casos esse preçoalvo é atingido antes das 16h30. Por isso, quando os traders começam a fechar a posição, o papel cai. Se, nesse caso, o day trader fez sua compra na máxima da primeira hora do pregão (R$ 30,45) e vendeu na cotação máxima do dia (R$ 30,92), arrebatou 1,55% de rentabilidade em algumas horas.
“Quando a tendência da primeira hora é de queda, a operação é a mesma, mas no sentido contrário. Os investidores entram vendidos”, afirma. A movimentação milionária dos traders tem explicação. Na Win Trade, investidores podem operar um valor três vezes superior ao saldo em conta. Segundo Roberto Lee, diretor da corretora, mais do que isso é permitido ocasionalmente. Em junho, cerca de 23% da base de clientes da Win executou alguma operação de day trade.
Esses investidores foram responsáveis por 80% do volume negociado no mês. Mas isso não acontece sempre. Há meses em que representam 10%, 20% ou 50% do volume. “Não estimulamos essas operações. Embora eles operem valores maiores e dêem mais ganhos em corretagem, dão muito mais trabalho”, completa.