25/10/2006 - 7:00
Uma cobra se contorce entre o pescoço e os seios da top model americana Cindy Crawford de modo a vesti-la insinuantemente. Mais à frente, o ator Jack Nicholson, trajando um entreaberto robe quadriculado acompanhado de meias listradas, repousa o cigarro no canto da boca enquanto se prepara para uma tacada de golfe com o seu típico sarcasmo. O sul-africano Nelson Mandela revela as rugas adquiridas ao longo de 27 anos de prisão por desafiar o apartheid. Bill Gates, por mais incrível que pareça, é clicado onde poucas vezes foi visto: na frente de um computador. Esses e outros momentos captados com um olhar ímpar estão no recém-lançado livro A Photographer?s Life 1990 ? 2005, da fotógrafa Annie Leibovitz, de 56 anos, uma das expoentes da cultura pop americana na segunda metade do século passado. Mais do que revelar a intimidade de grandes personalidades, a edição mostra a vida pessoal de Annie Leibovitz traduzida em fotos de sua família, de sua companheira, a escritora Susan Sontag, e dela mesma. O livro, aliás, é uma homenagem da autora à Susan Sontag que morreu de câncer em 2004. ?Eu nunca tive tempo para olhar todas as fotos que eu tinha. Fiquei animada, tentando olhar entre 1990 e 2005, como se a Susan estivesse atrás de mim?, disse Leibovitz em recente entrevista à revista americana Newsweek.
A obra, ainda sem previsão de tradução, pode ser encontrada em poucos lugares como a livraria Cultura a um custo de R$ 233,25. Para amantes de arte, é um colírio. Nas 472 páginas, Leibovitz demonstra todo o seu talento com a produção de retratos inusitados das pessoas mais poderosas dos Estados Unidos. Annie, apesar de ter sido influenciada pelas imagens de Henri Cartier-Bresson (1908-2004), o maior fotógrafo do século XX, é a antítese do mestre francês. Se Cartier-Bresson cunhou o termo ?instante decisivo?, que servia para identificar as cenas clicadas em um milésimo de segundo, Annie Leibovitz usa técnicas e cria situações para conseguir a imagem perfeita. É dela, por exemplo, a célebre fotografia do beatle John Lennon, nu, enroscado em Yoko Ono, momentos antes de ser assassinado por Mark Chapman em 8 de dezembro de 1980. O ensaio de Demi Moore grávida publicado na revista Vanity Fair também é de sua autoria. Essas imagens, a de Lennon e de Demi Moore, foram eleitas pela Sociedade Americana de Editores de Revista como as duas melhores imagens de revista nos últimos 40 anos.
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![]() edição tem 472 páginas e é vendida por R$ 233,25 nas principais livrarias do Brasil. |
Annie Leibovitz converteu-se, então, em celebridade como os personagens clicados pelas suas lentes. Hoje, os astros de Hollywood exigem que ela seja a autora de suas fotos. Enquanto as principais revistas de celebridades tentavam insistentemente retratar Suri Cruise, a recém-nascida filha de Tom Cruise e Katie Holmes, Annie fazia um ensaio para a Vanity Fair no qual revelava ao mundo o singelo rosto do bebê. A atriz Angelina Jolie também pediu para ser clicada pela fotógrafa depois do parto de sua filha Shiloh Nouvel. Era de se esperar. Annie, que trabalhou na revista Rolling Stone e hoje está no grupo Condé Nast, que publica Vanity Fair e Vogue, desenvolveu técnicas nunca antes adotadas como misturar luzes de estrobo com luz natural. Agora, novamente faz história, ao mesclar fotografias familiares com imagens que vão do presidente americano George W.Bush ao cantor de música country Willie Nelson. Um conjunto de obras de quem conta toda uma vida num clique.