O Unicef fez uma advertência nesta terça-feira (15) sobre a crise alimentar na Somália, onde a desnutrição aguda ameaça metade das crianças menores de cinco anos devido à seca que afeta este país do Chifre da África.

Após três temporadas de pouca chuva e uma quarta à vista, a Somália, devastada por décadas de guerra, precisa de apoio humanitário internacional urgente, alertou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

“A desnutrição atingiu níveis de crise”, declarou Victor Chinyama, gerente de comunicações para o Unicef na Somália.

“Agora é a hora de agir”, disse ele a repórteres em Genebra, via conferência virtual, alertando: “Se esperarmos até que a situação se deteriore ou a fome seja declarada, poderá ser tarde demais”.

A Somália é o país do Chifre da África mais severamente afetado pela seca. Segundo a ONU, 4,1 milhões de pessoas – um quarto da população – precisam de ajuda alimentar emergencial.

As crianças menores de cinco anos são particularmente afetadas pela crise. Cerca de 1,4 milhão delas – cerca de metade – estão em risco de desnutrição aguda e, destas, 330 mil precisarão de tratamento para desnutrição aguda grave, explicou Chinyama.

O Unicef precisa urgentemente de US$ 7 milhões até março para encomendar alimentos terapêuticos prontos para uso. Caso contrário, 100 mil crianças que sofrem com a fome serão privadas de um tratamento que salva vidas.

A desnutrição aguda grave é caracterizada por uma perda de peso muito significativa e a criança enfrenta um risco muito alto de doença (diarreia, sarampo, etc.) e mortalidade.

Cerca de 7.500 casos de sarampo foram registrados na Somália no ano passado, o dobro dos casos de 2019 e 2020 combinados.

A seca também está causando uma crise migratória, disse Chinyama. Cerca de 500 mil pessoas deixaram suas casas desde novembro em busca de comida, água e pasto.

Esse número se soma às 2,9 milhões de pessoas já deslocadas dentro do país.

Seca e deslocamento também são sinônimos de insegurança para crianças na Somália, onde os rebeldes do Al-Shabaab controlam vastos territórios nas áreas rurais.

Em 2021, os grupos armados que atuam na região recrutaram 1.200 crianças – incluindo 45 meninas – e sequestraram à força outras 1.000, segundo o Unicef.

No total, o Unicef ainda precisa de US$ 38 milhões para atender às necessidades humanitárias na Somália este ano.