Existe um longo caminho a ser percorrido entre o planejamento de um projeto, a execução e o resultado. Quando se trata de gigantes globais, esse percurso parece ser mais curto. Só parece. A Unilever que o diga. A multinacional britânica de bens de consumo planejou a compra dos negócios de Saúde do Consumidor da GlaxoSmithKline (GSK) e deu sua cartada. Na verdade, três cartadas. As três rejeitadas pela farmacêutica conterrânea. A proposta atingiu US$ 68,1 bilhões (50 bilhões de libras). Ainda assim, não seduziu a dona de marcas como a pasta de dente Sensodyne, o suplemento vitamínico Emergen-C, o polivitamínico Centrum, os antiácidos Eno e Sonrisal, o fixador de dentadura Corega e o analgésico Advil. O plano parou na execução.

Mas os resultados iniciais já surgiram. Ainda primários e naturais diante de uma operação desse porte. As ações da Unilever caíram 8% no início da semana, enquanto os papéis da GSK subiram 6%. Isso pouco importa, já que a cada atualização da negociação essa volatilidade pende para um lado ou outro. De concreto mesmo temos as posições das empresas. A Unilever mantém a oferta e não pretende fazer loucura para viabilizar a aquisição, que a colocaria em posição de ainda mais destaque no cenário global, com crescimento do portfólio combinado, principalmente em China, Estados Unidos e Índia, e também oportunidades em outros mercados emergentes, como o Brasil. Em comunicado, a companhia do CEO Alan Jope afirmou que está comprometida com “estrita disciplina financeira” para qualquer M&A (fusões e aquisições). Também ressaltou que acordos que forem firmados agora ou mais adiante serão acompanhados pelo desinvestimento de negócios ou marcas com margens mais baixas.

US$ 81,7 bi é o Valor que analistas consideram justo para o avanço das negociações

Na outra trincheira da negociação, a GSK, liderada por Emma Walmsley, contratou os grupos financeiros Goldman Sachs e Citigroup para revisar a abordagem da Unilever. Inicialmente, a conclusão da companhia é de que a proposta “subvalorizou fundamentalmente” os negócios de consumo, que tem participação de 32% da farmacêutica americana Pfizer. Especialistas da Europa e dos Estados Unidos apontam que a elevação da oferta para US$ 81,7 bilhões (60 bilhões de libras) poderia gerar sinergia. A negociação ainda pode dar certo. Mas, por enquanto, a Unilever comprou o começo de uma guerra, que por ora só tem dado dor de cabeça.