Quando se pensa no programa nuclear brasileiro, lembra-se de imediato do balneário de Angra dos Reis, suas duas usinas e a terceira no horizonte. A fonte de energia desse projeto polêmico, porém, fica a 130 quilômetros de distância, entre as montanhas de Resende, no interior do Rio. Cercada de verde, a unidade fluminense das Indústrias Nucleares do Brasil (INB) é a responsável pela produção do elemento combustível de Angra I e II. A estatal domina as principais fases do ciclo de fabricação, com exceção do enriquecimento do urânio, etapa mais importante do processo que representa 35% do custo total. Até agora. A lacuna começa a ser preenchida em julho de 2001, quando a Marinha estará repassando a tecnologia desenvolvida em conjunto com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares da USP. A primeira linha entra em produção no início de 2002. Será um investimento de R$ 250 milhões para os próximos oito anos. Com isso, a fábrica será a única do mundo a realizar todo o ciclo num só lugar.

?Nos outros países, as etapas são desenvolvidas por empresas diferentes e isso acaba dificultando esse agrupamento. A grande vantagem do nosso modelo é a redução do custo no transporte, no tempo e no armazenamento?, afirma Ézio Ribeiro Júnior, gerente de engenharia de projetos da INB. Hoje, quem enriquece o urânio de Angra I e II é o consórcio Urenco, formado por empresas da Holanda, Inglaterra e Alemanha a um custo de US$ 25 milhões. As duas usinas consomem cerca de 52 toneladas de combustível por ano. O programa da INB prevê que, a partir de 2006, o País vai conseguir ?enriquecer? metade da demanda nacional e, em 2009, toda a necessidade. Esse período pode ser reduzido caso Angra III saia da gaveta do Planalto. ?O cronograma atual inclui apenas duas usinas. Uma terceira traria mais recursos para os nossos programas?, afirma o presidente da estatal, Roberto da Franca. Independentemente da quantidade, o avanço tecnológico põe o Brasil dentro de um time formado por apenas sete países no mundo. Além do consórcio Urenco, somente França, Rússia, Japão e Estados Unidos dominam essa técnica.

A evolução tecnológica abriu caminhos para exportação. Hoje, há um excedente de 110 toneladas e a empresa está buscando mercado. Este ano, a estatal conseguiu exportar três toneladas de urânio enriquecido que tinha em estoque para a Argentina. A INB também fechou com a Siemens Westinghouse o fornecimento 30 toneladas por ano do produto até 2005. A empresa ainda está a procura de mercado para suas pastilhas. Já iniciou negociação com a mesma Siemens Westinghouse para exportação do produto. O negócio com pastilha é muito mais interessante para a estatal do que o pó. ?A exportação de 110 toneladas de pó representaria uma receita de US$ 7 milhões. Com o serviço da fabricação da pastilha, o valor seria de US$ 14 milhões?, disse Franca. Um valor pequeno se comparado com a receita de US$ 80 milhões gerada pela companhia com o fornecimento de combustível para as duas usinas de Angra.