13/09/2006 - 7:00
Cem calorias é a quantidade necessária para, em situação normal, saciar o apetite de uma pessoa entre uma refeição e outra. Esse montante pode ser obtido degustando uma posta de bacalhau cozido ou uma manga-espada. Com a febre das dietas e a pandemia de obesidade infantil, os executivos das indústrias de alimentos encontraram um jeito de manter em alta a venda de suas guloseimas, aliando-se aos mais variados programas de perda de peso. Quem primeiro percebeu o potencial desse filão foi a americana Kraft Foods, dona de um portfólio que inclui a marca Nabisco. Em meados de 2004, a Kraft lançou as embalagens compactas dos biscoitos Oreo e Chip Ahoy. E se deu bem. Apenas no primeiro ano a venda de embalagens pequenas atingiu US$ 100 milhões, patamar histórico de acordo com a Times & Trends ? publicação especializada em varejo. Foi o bastante para que fosse declarada a ?guerra das 100 calorias?. A Frito-Lay criou o salgadinho Mini Bites, a Hershey está prestes a lançar uma barra de chocolate com esse valor nutricional e até mesmo a Coca-Cola aderiu à moda.
Esse fenômeno se repete também no Brasil, embora em menor escala. A Bauducco foi quem melhor explorou o conceito lançado pela Kraft de acomodar seus bestsellers em pequenas embalagens. Fez isso para escapar da forte dependência de produtos sazonais como panetones e colombas de Páscoa. Hoje, a direção da companhia comemora bom desempenho de sua linha de barrinhas com recheio, cujo principal apelo de marketing é o fato de conter somente 90 calorias. No período janeiro-junho as vendas dessa divisão cresceram 400% ? 20 mil caixas por mês ? e já representam 10% das receitas de R$ 700 milhões da corporação.
A Nutrimental, pioneira com o Nutry, em 1994, é quem lidera o nicho de barrinhas, que conta com uma dúzia de competidores de todos os portes (como a gigante suíça Nestlé) e movimenta cerca de R$ 200 milhões por ano. Apesar do apelo dos fabricantes, que focam seu marketing na quantidade de calorias, o médico nutrólogo Adrea Botonni, mestre e doutor pela Universidade Federal de São Paulo, alerta: ?Reduzir as porções não pode ser visto como a solução para a obesidade infantil, por exemplo. O ideal é a reeducação alimentar?, opina Botonni.