O ex-líder dos Governos Lula e Dilma na Câmara, Cândido Vaccarezza (ex-PT/SP), declarou à Polícia Federal que “milhares de pessoas” lhe ofereceram dinheiro. Não apontou nomes, mas relatou como é feita a abordagem. “As pessoas chegam pedindo uma abertura, dando dica, dizendo que vai ser bom pra gente, pro Brasil.” Ele afirmou que nunca recebeu propinas em toda a sua vida pública.

Vaccarezza é o alvo maior da Operação Abate, desdobramento da Lava Jato. Na sexta-feira, 18, o ex-deputado foi preso em regime temporário. Na terça-feira, 22, o juiz Sérgio Moro mandou soltar Vaccarezza.

Ele foi interrogado na segunda-feira, 21, pelo delegado Filipe Hille Pace, que preside o inquérito da Abate. A PF suspeita que Vaccarezza tinha portas abertas na Petrobras, onde seu principal contato seria o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa – primeiro delator da Lava Jato.

O ex-deputado admitiu ter relações próximas com o lobista Jorge Luz – apontado como operador de propinas do PMDB.

A investigação mostra que por supostamente agir pelo interesse da empresa americana Sargeant Marine o ex-líder de Lula e Dilma teria recebido, apenas em uma operação, propina de US$ 500 mil. Ele nega. Na residência de Vaccarezza, os investigadores encontraram R$ 122 mil em dinheiro vivo.

No depoimento, ele disse. “Um cidadão repassar quinhentos mil dólares e não deixar rastros é muito difícil. Passar dez, vinte mil, passa, mas quinhentos mil dólares é muito difícil. Eu não recebi um centavo da Sargeant Marine e ninguém tem como provar que eu recebi, doutor.”

O delegado perguntou a Vaccarezza se “era comum receber de empresários minutas de projetos de lei”. Ele respondeu que sim, “de milhares de empresários, consignando que nunca recebeu quaisquer valores de vantagens indevidas atreladas a tais projetos de lei”.

Indagado se durante sua vida pública “já foi oferecida vantagem indevida, respondeu que estaria mentindo se dissesse que não”.

A PF questionou Vaccarezza sobre “quem lhe ofereceu dinheiro”. Ele disse que “não se lembra”.

“Milhares de pessoas já lhe ofereceram dinheiro”, declarou. “Que esclarece que as pessoas não chegam para o parlamentar oferecendo um milhão para que fosse feito determinado projeto de lei; Que as pessoas chegam dizendo que o projeto de lei vai ser muito bom, vai ser bom para o Brasil; Que não chegam oferecendo dinheiro, chegam pedindo uma abertura, dando dica, dizendo que isso vai ser bom pra gente, pro Brasil; Que esclarece novamente que nunca recebeu qualquer valor para aprovar projetos de lei.”

Vaccarezza afirmou que “todos os bens que entram em sua casa são fruto apenas de seu trabalho”.

Ele negou também que tenha recebido propinas da empreiteira Odebrecht. “Que nunca recebeu qualquer valor sabidamente ilícito da Odebrecht; Que quando se assume determinada posição é muito comum que pessoas passem a utilizar seu nome sem seu conhecimento, sendo possível que possam ter utilizado o nome do declarante para este fim.”

Defesa

A defesa de Cândido Vaccarezza, por meio do advogado Marcellus Ferreira Pinto, esclarece, em nota, que: “Cândido Vaccarezza nunca intermediou qualquer tipo de negociação entre empresas privadas e a Petrobras. A prisão foi decretada com base em delações contraditórias, algumas já retificadas pelos próprios delatores. A busca e apreensão excedeu os limites da decisão judicial, confiscando valores declarados no imposto de renda e objetos pertencentes a terceiros sem vínculo com a investigação. A defesa se manifestará nos autos e espera que a prisão seja revogada e as demais ilegalidades corrigidas!”