13/11/2020 - 18:13
As esperanças depositadas na vacina contra a covid-19 lançaram ao estrelato os fundadores do laboratório alemão BioNTech, dois cientistas alemães de origem turca que preferem ficar longe dos holofotes apesar do interesse que suas trajetórias pessoais despertam.
Diante de inúmeros pedidos de entrevista, Ugur Sahin e Ozlem Tureci, o diretor-geral e a diretora médica da BioNTech, respectivamente, recomendam que lhes façam perguntas sobre a “história da empresa” e não sobre questões pessoais.
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Após o anúncio de que sua potencial vacina contra o coronavírus tem eficácia “de 90%”, os dois cientistas preferiram não entrar em detalhes sobre a história de êxito social que suas vidas representam.
Sahin é filho de um trabalhador turco que migrou para a Alemanha para trabalhar na indústria automotiva quando ele tinha 4 anos, enquanto Tureci é descendente de um médico turco que deixou Istambul para se estabelecer no norte da Alemanha.
Rios de tinta foram usados pela imprensa alemã esta semana para falar sobre esses “heróis”, “os filhos de trabalhadores migrantes que se tornaram os salvadores do mundo”.
– Íntegros –
Apresentados como dois cientistas apaixonados e muito trabalhadores, os cientistas demonstram desconfiança diante da chuva de elogios.
“Não sei se realmente quero isso”, ressaltou Ugur Sahin em entrevista publicada nesta sexta-feira no jornal britânico The Guardian. “Como sociedade, devemos nos perguntar como podemos dar a todos a chance de contribuir”, defendeu.
Apesar de até esta semana serem desconhecidos pelo grande público, este casal já desfrutava de reconhecimento entre a comunidade científica, após se destacar pelas pesquisas sobre o tratamento do câncer, área que pretendem “revolucionar”.
Sahin, de 55 anos, iniciou seus estudos universitários em Colônia, no oeste da Alemanha, onde seu pai trabalhava em uma fábrica da Ford, e os concluiu no hospital universitário em Homburg, no sul. Lá ele conheceu Tureci, dois anos mais jovem que ele.
A última recorda uma infância muito ligada ao consultório médico do pai, “que ficava na casa da família”, motivo pelo qual nunca se imaginou em outra profissão.
Nenhum deles acreditava que acabaria no comando de sua própria empresa, mas seus projetos de pesquisa eram “muito arriscados” para poderem desenvolvê-los nos laboratórios já existentes, o que os motivou a criar o seu próprio.
– Tratamento de câncer –
Em 2001, o casal fundou sua primeira empresa de biotecnologia, a Ganymed Pharmaceutical, que foi vendida em 2016. Nesse meio tempo, criaram sua segunda empresa, BioNTech, em 2008, onde desenvolveram uma nova geração de terapias individuais para pacientes com câncer.
A BioNTech conta atualmente com 1.500 funcionários e uma grande quantidade de recursos financeiros oriundos principalmente de investimentos privados.
Thomas Strüngmann e Michael Motschmann, dois de seus investidores, se referem aos cientistas da Alemanha como duas “pessoas autênticas, com grande integridade, trabalhadoras e extraordinariamente inteligentes”.
Nas instalações da companhia, localizada na “Rua da mina de ouro” em Mainz, eles trabalham na tecnologia do RNA mensageiro (mRNA), uma molécula que permite ao corpo humano criar proteínas virais capazes de desencadear uma resposta imunológica.
Até o momento, nenhuma vacina baseada nesta inovação foi comercializada.
Já em janeiro, antes que a pandemia atingisse o planeta, a pequena empresa alemã iniciou suas pesquisas sobre o coronavírus. Em março, ela se juntou à gigante americana Pfizer – com quem colabora desde 2018 – para realizar pesquisas conjuntas sobre a vacina contra a covid-19.
Os resultados divulgados na segunda-feira mostraram que seu projeto de vacina é um dos mais avançados do mundo, e o anúncio dos “90% de eficácia” disparou as bolsas mundiais e gerou aplausos de políticos e cientistas.
Após receber a notícia, Sahin disse ter se livrado de “uma grande responsabilidade”. Em seguida, os dois pesquisadores decidiram “preparar umas xícaras de chá”.