A decisão do Ministério da Saúde de recuar na vacinação de adolescentes entre 12 e 17 anos que não tenham comorbidades pegou todo mundo de surpresa e está deixando pais apreensivos. Para especialistas, a vacina é segura também para os mais jovens, e os pais devem levar seus filhos para serem imunizados.

No começo deste mês, a Pasta anunciou que a imunização dessa faixa etária deveria começar no dia 15 em todo o Brasil. Essa é a orientação do Ministério da Saúde, divulgada em uma Nota Técnica nesta quinta-feira (2).

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De acordo com nota divulgada à época, a nova etapa, com a ampliação da campanha de vacinação, será possível após a conclusão do envio de vacinas anticovid para imunizar toda a população adulta brasileira com a primeira dose, prevista até a primeira quinzena do mês.

“A vacinação deve ser realizada com o imunizante da Pfizer/BioNTech, considerando que é o único, até o momento, autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para essa faixa etária. Portanto, a partir da segunda quinzena de setembro, todos os estados e Distrito Federal começam a receber o quantitativo de doses destinado para esse público.”

Só que nesta quinta-feira (16), portanto um dia depois do prazo previsto para a vacinação dos adolescentes, o ministro Marcelo Queiroga convocou uma coletiva para explicar a decisão da Pasta de suspender a vacinação para adolescentes sem comorbidades.

Segundo Queiroga, os jovens que receberam a primeira dose não devem completar a imunização com a segunda aplicação, e disse ainda que não há “forte embasamento científico” para a vacinação deste público.

O médico Evaldo Stanislau, diretor da Sociedade Paulista de Infectologia, considera que a decisão é um erro. “É uma barbaridade, não tem nenhuma base (científica) para isso”, enfatiza.

Ele lembra que estamos em um momento de crescimento da pandemia nesta população mais jovem, porque o adulto já está com, pelo menos, uma dose da vacina. “É absolutamente prioridade vacinar essa população e temos que avançar para as crianças também”, diz.

O médico salienta que a vacina é absolutamente segura. “Tem estudos que comprovam isso e já está sendo utilizada em outros países, como nos Estados Unidos, em adolescentes. E temos dados publicados também com a Coronavac na China e expandindo para outros países. Absolutamente amparadas”, diz.

Para o infectologista, a vacinação da faixa etária mais jovem é estratégica, porque hoje o vírus circula mais entre essas pessoas e pode repercutir nos idosos.

A pediatra Fernanda Soler disse que os pais estão preocupados com essa nova decisão e que orienta seus pacientes a se vacinarem. “A própria Anvisa já constatou a segurança. Acho que essa decisão tem mais a ver com a quantidade de vacina”, avalia.

Apesar de Queiroga afirmar que o País tem vacina sobrando, diversos Estados têm reportado a falta do imunizante para a aplicação da segunda dose. São Paulo, por exemplo, está usando a vacina da Pfizer para a segunda dose das pessoas que tomaram a Astrazeneca na primeira etapa.

O médico Roberto Debski, que atua na linha de frente no combate à Covid-19, destaca que não há certezas absolutas ainda sobre nada em relação a esse vírus. “Efeitos adversos podem acontecer com qualquer vacina ou faixa etária. Embora afete menos crianças e adolescentes, eles também podem sofrer de maneira grave e poder ter uma vacina para imunizar e proteger essa faixa etária é importante também. A minha impressão é que possamos imunizar a todos, todas as faixas etárias, avaliando bem os riscos e efeitos adversos, que serão demonstrados pelas pesquisas ao longo do tempo”, diz.

O clínico médico José Marcelo Natividade considera que a decisão do ministro em suspender por enquanto a vacinação dessa faixa etária foi acertada. “A  própria Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomenda para jovens que não tenham comorbidades”, diz.

Lembra ainda que o caso de óbito de um jovem após a vacina, até que seja definido o que aconteceu, é um motivo para essa suspensão.

Nesta semana, a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo informou que vai investigar a morte de um adolescente depois de ter tomado a vacina da Pfizer para saber se tem alguma relação com a imunização, mas ressalta que qualquer afirmação ainda é precoce e temerária.

No início da noite desta quinta-feira (16), a Anvisa divulgou nota afirmando que investiga o caso da morte de uma adolescente de 16 anos após aplicação da vacina da Pfizer. “A Agência foi informada nesta quarta-feira (15) que, no dia 2 de setembro, ocorreu uma reação adversa grave em uma adolescente após uso da vacina contra a Covid-19. No momento, não há uma relação causal definida entre este caso e a administração da vacina”, diz a nota.

A Anvisa assegura ainda que o risco de alterações cardiológicas é baixíssimo, mas o cidadão deve estar atento aos possíveis sintomas associados para procurar atendimento médico imediato.

Disse ainda que está monitorando e avaliando os eventos adversos cardiogênicos pós-vacinais no Brasil e no mundo, desde a notificação dos primeiros casos em outros países.

“Até o dia 15 de setembro, houve 32 notificações de eventos adversos após a vacinação de adolescentes com a vacina da Pfizer, e nenhum óbito foi relacionado à vacina”, diz a nota.

O Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) e o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) divulgaram nota reforçando a importância da manutenção da vacinação contra Covid-19 de adolescentes de 12 a 17 anos.

“O Conass e o Conasems vêm a público manifestar profundo lamento às recentes decisões do Ministério da Saúde na operacionalização da Campanha Nacional de Vacinação Contra a Covid-19, com orientações sem qualquer consulta prévia às representações estaduais e municipais da gestão do Sistema Único de Saúde ou mesmo à Câmara Técnica Assessora do Programa Nacional de Imunizações (PNI)”, diz a nota.

“Ao implementar unilateralmente decisões sem respaldo técnico e científico, coloca-se em risco a principal ação de controle da pandemia. Apesar de a vacinação ter levado a uma significativa redução de casos e óbitos, o Brasil ainda apresenta situação epidemiológica distante do que pode ser considerado como confortável, em razão do surgimento de novas variantes”, complementam as entidades.