À medida que a variante Ômicron continua a se propagar os fabricantes de vacinas investem em ensaios clínicos de vacinas adaptadas à variante altamente transmissível. Contudo, uma série de estudos iniciais em animais, publicados na revista Nature, sugerem que os reforços específicos para a Ômicron não oferecem nenhuma vantagem sobre uma terceira dose das vacinas originais.

A maioria dos estudos envolveu apenas um pequeno número de animais e nenhum foi revisto por pares. Mas oferecem dicas iniciais de que uma única dose de uma vacina personalizada, não fará diferença na luta contra a Ômicron.

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“O que estamos vendo nestes estudos pré-clínicos em modelos animais é que um reforço com uma vacina específica não é realmente melhor do que um reforço com a vacina atual”, explica David Montefiori, especialista do Duke University Medical Center, na Carolina do Norte, Estados Unidos.

Desde que foi identificada pela primeira vez em novembro, a Ômicron se tornou a variante dominante a nível global. A sua biologia difere significativamente da estirpe original do SARS-CoV-2, na qual se baseiam as vacinas atualmente aprovadas. As diferenças podem explicar por que motivo três doses das vacinas existentes são menos eficazes contra a Ômicron do que contra outras variantes.

As mudanças no vírus obrigaram os fabricantes das vacinas baseadas em mRNA e amplamente utilizadas, a desenvolver formulações compatíveis com a Ômicron. Tanto a Pfizer como a Moderna anunciaram no final de janeiro que iniciaram os testes clínicos de vacinas específicos contra a variante.

No entanto, enquanto os cientistas aguardam os resultados, estes estudos em animais não dão esperança de que a utilização das vacinas atualizadas comece tão logo.

O estudo 1 analisou as respostas imunes de oito macacos, que receberam três doses da vacina: duas doses da original da Moderna e um reforço da mesma dose ou de uma versão específica contra a Ômicron.

Os autores descobriram que os macacos vacinados com qualquer reforço da vacina geraram uma ampla resposta de anticorpos contra todas as variantes preocupantes, incluindo a Ômicron.

O estudo 2, feito em ratos, descobriu que dar um reforço compatível com a Ômicron após duas doses de vacina baseada em mRNA não oferecia mais benefícios do que um reforço padrão.

O mesmo estudo também analisou a vacina específica da Ômicron em ratos e descobriu que estes produziram altos níveis de anticorpos contra essa variante. Mas esses anticorpos tinham uma capacidade limitada de inibir outras variantes importantes da Covid-19.

Um terceiro estudo, realizado também em ratos imunizados com uma vacina de mRNA compatível com Ômicron relatou resultados semelhantes.

Por último, um quarto estudo investigou uma vacina de ‘RNA replicante’. Em contraste com as vacinas de mRNA amplamente utilizadas, esta codifica um fragmento do vírus e uma enzima para amplificar a expressão desse fragmento. Os cientistas deram três doses dessa vacina a ratos: duas doses baseadas na estirpe original, seguidas por um único reforço específico da Ômicron.

A terceira dose não produziu uma resposta imune elevada contra a Ômicron. Mas tal resposta foi observada em ratos que receberam uma dose de vacina baseada na estirpe original e duas doses da vacina específica contra a Ômicron.