A provável aliança entre o ex-governador Geraldo Alckmin (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição presidencial abriu um vácuo político em São Paulo que tem pautado estratégias de pré-candidatos dos diferentes espectros políticos na disputa ao Palácio dos Bandeirantes.

Políticos que participam de articulações na centro-direita e na centro-esquerda e especialistas em pesquisas avaliam que o recall do ex-tucano representa uma faixa do eleitorado mais concentrada no interior no Estado – que votou no PSDB nas últimas décadas. Trata-se de um voto conservador, antipetista e de direita, mas que não comunga com o discurso radical e negacionista do chamado “bolsonarismo raiz”.

Pesquisa Ipespe divulgada recentemente mostrou Alckmin e o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) empatados na disputa pelo governo paulista, ambos com 20% das intenções de voto no levantamento estimulado. Sem Alckmin, Haddad fica isolado na liderança, com 28%, seguido pelo ex-governador Márcio França (PSB), com 18%.

‘Voto azul’

Em conversas recentes que teve com Lula e o PT em busca de um acordo no campo da esquerda em São Paulo, França sugeriu que PT e PSB fizessem uma pesquisa com cenários de segundo turno para definir quem seria o candidato ao governo.

A avaliação do pessebista é de que seu nome tem mais chance de atrair o chamado “voto azul” – com perfil da centro-direita – do que Haddad, que teria contra ele o antipetismo enraizado no interior. Além disso, França foi vice de Alckmin e estaria próximo de filiar o ex-tucano ao PSB.

“A maior parte do eleitorado (de Alckmin) é de centro-direita, mas parte desses votos está mais à direita e vai com Tarcísio”, afirmou o cientista político Antonio Lavareda, em referência ao ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, candidato do presidente Jair Bolsonaro ao governo paulista.

Para Lavareda, que trabalhou em campanhas tucanas em eleições passadas, porém, o nome que tiver apoio explícito de Alckmin terá grande probabilidade de levar o voto do eleitor de mais baixa renda e que é leal ao ex-governador.

Movimentos

Em passagens por São Paulo, Tarcísio tem dividido seu discurso entre críticas ao PT e ao governador João Doria (PSDB), mas até agora manteve distância da retórica da ala mais radical do bolsonarismo – como o discurso antivacina, por exemplo.

“O Alckmin deixou um vácuo muito grande, e esse eleitorado dele vai ser disputado pelo Rodrigo Garcia e o Tarcísio, que só decidiu disputar depois que o ex-governador desistiu”, disse o presidente do PTB-SP, Otávio Fakhoury.

A legenda, segundo ele, estará no palanque do ministro de Bolsonaro e reivindica a indicação de um nome para o Senado – a mais cotada é a médica Nise Yamaguchi.

A equipe do vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB) – que vai disputar o Bandeirantes – já trabalha para aproximá-lo desse eleitorado, que tem forte presença no agronegócio.

Além da passagem pela gestão Alckmin, as origens do vice no PFL (depois DEM) e sua relação com os produtores rurais serão apresentadas como credenciais.

“Rodrigo Garcia com certeza absorve os votos que poderiam ser do Alckmin. Rodrigo foi secretário do Alckmin. Os perfis se aproximam”, afirmou o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB), cotado para vice na chapa tucana.

Segundo aliados, Alckmin tem dito que seu foco em São Paulo é fazer um “exercício pragmático” para impedir o avanço das candidaturas de Tarcísio e Garcia.

O ex-tucano prefere apoiar uma eventual candidatura de França, embora mantenha boa relação também com Haddad. Na esquerda, a expectativa é que Alckmin ajude a reduzir a resistência do eleitorado “azul”.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.