22/06/2004 - 7:00
Dois lançamentos de ações prometem agitar o mercado financeiro nesta semana. Além dos papéis da Gol Linhas Aéreas, também a América Latina Logística (ALL), especializada em transportes, abrirá o capital na Bolsa de Valores de São Paulo. A Gol ofertará 33,05 milhões de ações preferenciais por cerca de R$ 810 milhões. Já a ALL oferecerá 11,5 milhões de ações, com valor estimado em R$ 512 milhões. As duas operações estão marcadas para a sexta-feira 25. A animação do pregão, aposta-se, deverá contagiar operadores e investidores,
a exemplo do que aconteceu no lançamento da Natura, ocorrido na última
semana de maio. Na sua estréia na Bolsa, a fabricante de cosméticos vendeu 18,5 milhões de ações, captando quase R$ 680 milhões. Do lançamento até a segunda-feira 14, as ações da Natura acumulavam uma valorização de 10,85%, superando
o Ibovespa, que no mesmo período registrava ganho de 2,19%. De olho na aber-
tura do capital da Gol e da ALL, a grande dúvida dos investidores é saber se compram ou não as ações logo na estréia. Em outros termos: é bom negócio
ser marinheiro de primeira viagem?
?Vale a pena comprar, mesmo se for para vender daqui a dois meses?, diz Alan Gandelman, sócio-diretor da corretora Ágora Senior. ?Tudo leva a crer, pela procura maior do que a oferta, que o ganho inicial será forte?. O raciocínio de Gandelman tem como base o longo jejum de novas empresas entrando na Bolsa. Antes da Natura, o último lançamento havia sido o da Companhia de Concessões Rodoviárias, em fevereiro de 2002. Quem comprou ações da CCR naquela data ganhou, até o dia 14, 83,73% contra 53,95% do Ibovespa no período. O bom desempenho de CCR e Natura acaba influenciando os investidores. ?O mercado está com apetite por novos papéis?, diz Gandelman.
Mas como avaliar uma ação que acaba de chegar à bolsa de valores, sem histórico de preço ou de distribuição de dividendos? Na opinião do economista Aloisio Campelo, professor do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, o investidor deve fazer uma análise detalhada da empresa, como o mercado em que atua, a possibilidade de crescimento, a competitividade do setor, a força da marca e a governança corporativa. Campelo também recomenda uma inspeção do balanço, o que poderá mostrar, entre outras coisas, o grau de endividamento da companhia. O economista levantou dados da Gol e da ALL tendo como base os balanços de 2003. As duas empresas se destacaram no quesito rentabilidade sobre o patrimônio líquido (PL). Enquanto a rentabilidade média das 500 maiores empresas brasileiras no ano passado foi de 12,12%, a da Gol foi de 51,04% e a da ALL, de 42,81%. No quesito endividamento, a companhia aérea foi melhor do que a operadora logística. O endividamento da Gol em 2003 foi de 1,46 vez o PL ? abaixo da média nacional de 1,5 vez o PL ? e bem melhor do que o da ALL, de 4,67 vezes o PL. Campelo ressalta que a abertura de capital é uma boa saída para controlar as dívidas. ?Com o lançamento de ações, as empresas substituem uma dívida com terceiros por sócios, o que é bem mais interessante e mais barato?, afirma.
Não existe uma regra para o investidor durante um lançamento de ações. Nem todo mundo que comprou um papel no dia da estréia ganhou dinheiro. Tome-se como exemplo a americana Pet.com, empresa criada para atuar na indústria de suprimentos para animais. No lançamento, em fevereiro de 2000, as ações da Pet.com fecharam em US$ 11. A empresa ficou conhecida graças a investimentos maciços em marketing ? incluindo anúncios no intervalo do Super Bowl, o minuto mais caro da TV americana ? e seus papéis chegaram a valer US$ 30. Quando a companhia fechou, em novembro do mesmo ano, as ações valiam menos de US$ 1. Uma prova de que, independentemente do barulho que se faça, ação é e sempre será um investimento de risco.