19/12/2007 - 8:00
Viajar, viajar, viajar… Eis um assunto presente em quase todas as conversas nessa época do ano. Quem ainda não decidiu o destino enfrenta os percalços típicos do planejamento tardio: tarifas mais altas e superlotação em hotéis, pousadas e condomínios. Mas, se você jura que nunca mais definirá suas férias na última hora, pode encontrar no sistema de time sharing, também chamado de tempo compartilhado, uma opção interessante. É possível ?comprar? hospedagem de férias por até 20 anos e, por meio de programas de intercâmbio, utilizá-la em diversos hotéis ao redor do mundo, pagando apenas uma taxa de manutenção. Com o real forte, grandes redes hoteleiras voltaram a apostar nesse sistema de viagens, tão popular no resto do mundo. E você? Está disposto a compartilhar?
Durante muito tempo, o brasileiro teve um olhar desconfiado em relação ao time sharing. Com razão: nos anos 1990, não faltaram no mercado estelionatários vendendo participações em hotéis-fantasma por quantias módicas. ?Eram empresas brasileiras, pequenas e desconhecidas, que extorquiam dinheiro de consumidores ingênuos?, relembra Maria Inês Dolci, da Pro Teste, associação de defesa do consumidor. Mas hoje, com a nova onda de investimentos hoteleiros no País, conhecidas redes reimplantaram o sistema. É o caso do grupo português Pestana. Quem optar pelo produto da rede pode ?gastar? as semanas de hospedagem tanto nos hotéis Pestana no Brasil como também em suas unidades na Europa e América do Sul. Uma semana anual custa de R$ 15 mil a R$ 30 mil, dependendo do tempo de vigência do título (sete a 15 anos) e do número de dependentes. O titular paga, ainda, uma taxa anual de manutenção de R$ 500. Para apenas um indivíduo, valores assim assustam. Mas, para férias de uma família de quatro pessoas durante dez anos, pode ser um bom negócio no longo prazo. Um estudo da Pro Teste apontou que, em alguns casos, os benefícios do time sharing começam a ser sentidos no bolso após cinco anos. O estudo comparou um título de R$ 6 mil e manutenção anual de R$ 1 mil com uma semana de hospedagem tradicional em um apart hotel a um custo de R$ 2,1 mil por semana, ambos em alta temporada (veja gráfico).
Para proporcionar mais opções aos titulares, as redes hoteleiras fecham parcerias com grandes empresas de time sharing, como as americanas Interval e RCI. Isso permite que turistas brasileiros utilizem suas semanas não só em hotéis da rede que comercializa o produto, mas também em inúmeros endereços pelo mundo. ?Esse tipo de intercâmbio é muito interessante para o brasileiro, pois ele acaba se hospedando em hotéis de quatro e cinco estrelas no Exterior, pagando bem menos?, explica Alejandro Moreno, diretor da RCI Brasil. Foi o que fez o engenheiro paulistano Marcos Velletri. Pai de cinco filhos, ele descobriu na década de 80 o time sharing da Interval. Comprou diversas semanas em dois de seus destinos preferidos: Campos do Jordão e Búzios. ?Na época, paguei US$ 5 mil por semana e obtive a propriedade definitiva delas?, relembra. Hoje, dificilmente se encontra a venda definitiva. No mercado, a vigência do título é de, no máximo, 20 anos. O engenheiro hoje lucra vendendo suas semanas a terceiros. Já se hospedou em chalés em Vail durante a temporada de esqui, levou os filhos para Orlando, aproveitou o sol de Aruba, e fez inúmeras outras viagens. A taxa paga por cada estadia internacional, cobrada à parte, não passa de US$ 120 dólares por viagem.
É necessário muito planejamento e organização para usufruir os benefícios. O ideal é reservar a estadia com seis meses de antecedência. O consultor financeiro Conrado Navarro acredita que esse é o principal obstáculo do sistema. ?O brasileiro não está acostumado a planejar férias a longo prazo?, explica.