Enquanto o mundo intensifica o debate sobre o uso de combustíveis fósseis e seus impactos ambientais, o Brasil amplia sua base de bionergia. A bola da vez é o etanol de milho, que avança no campo aberto pela cana-de-açúcar e deve somar 4,5 bilhões de litros na safra 2022/23, volume 31% acima do registrado no período anterior. A estimativa é da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), que projeta evolução de 12,5% para 15% a participação do cereal na produção total de biocombustíveis. O processamento do grão nas usinas pode crescer 30%, saindo de 7,98 milhões de toneladas para 10,38 milhões. O cenário otimista é um terreno fértil para novos investimentos, na indústria e ao redor dela.

É o caso da IFF, líder em soluções para alimentos, bebidas, saúde, biociências e fragâncias. Dos US$ 15,8 milhões que a empresa está injetando para sua expansão na América Latina, US$ 6 milhões destinam-se ao Brasil. É aqui que a companhia inaugurou um laboratório de última geração com recursos de desenvolvimento de aplicações para biocombustíveis, instalado no seu novo Centro de Inovação, em Barueri (SP). Segundo a diretora de Health & Biosciences para a América Latina da IFF, Deia Vilela, o trabalho científico dessa unidade de pesquisa contribui para o máximo aproveitamento do milho na produção de etanol.

POR ENCOMENDA Segundo Deia Vilela, novo laboratório reproduz a estrutura da usina para oferecer soluções personalizadas. (Crédito:Divulgação)

Diferentemente da cana, o milho contém amido, que precisa ser hidrolisado para gerar açúcar e, em seguida, o álcool. A IFF desenvolve leveduras industriais que aceleram e otimizam esse processo, aumentando a produtividade. Conforme a diretora da empresa, em um cálculo hipotético, o uso de uma levedura de alto desempenho numa planta que processa 1 mil toneladas do grão por dia pode aumentar de 1% a 2% o rendimento de etanol, na comparação com leveduras convencionais. “Isso equivale a cerca de US$ 1 milhão por ano em ganho de eficiência”, afirmou ela. Outro exemplo citado pela executiva é que, nos Estados Unidos, com essas leveduras de alto rendimento e outros avanços na indústria foi possível aumentar em 6,5% os rendimentos do etanol e reduzir em 24% o gasto de energia.

Um dos diferenciais do novo laboratório da IFF é replicar o ambiente produtivo das usinas para oferecer soluções personalizadas, pelas necessidades de cada cliente. “Podemos reproduzir a indústria dentro da nossa empresa”, disse Deia. “E temos grande capacidade de adaptação para aproveitar outras tecnologias, como as desenvolvidas em nosso laboratório em Palo Alto, nos Estados Unidos.” A simulação pode ser digital, na plataforma chamada XCELIS Ethanol Solutions, que combina inteligência artificial e big data para realizar ensaios e avaliar melhorias no processo industrial. É bio, sim. Mas com alta tecnologia embarcada.