29/08/2007 - 7:00
“É preciso agir com o coração, fazer o que te dá realmente paixão” “É preciso agir com o coração, fazer o que te dá realmente paixão” Maria Luisa Rodenbeck
Demorou um pouco, mas aconteceu. Após quase um ano de rumores, a maior rede de cafeterias do mundo vai, finalmente, fincar a bandeira no coração financeiro de São Paulo. A nova Starbucks, a sexta no País, será aberta na segunda quinzena de outubro, num casa na esquina da alameda Campinas com a alameda Santos, a um quarteirão da principal avenida da cidade, a Paulista, apurou a DINHEIRO. ?Conseguimos, finalmente?, desabafa a sempre simpática Maria Luisa Novello Rodenbeck, 49 anos, a mulher por trás da marca no Brasil. Esse tipo de desabafo é compreensível ? e recorrente na trajetória de Maria Luisa. A perseverança, quase beirando a teimosia, foi o principal combustível para que ela e o marido, Peter Rodenbeck, trouxessem para o Brasil outra das mais prestigiadas marcas do mundo. No currículo do casal encontra- se, por exemplo, a implantação do McDonald?s em território brasileiro. Quando vendeu a operação para os donos americanos da empresa, entregou a maior rede de fast-food do País, com 70 lojas e faturamento de US$ 600 milhões. A seguir, trouxeram o Outback, especializado em comida australiana. Hoje possuem 16 restaurantes. Maria Luisa e Peter se tornaram especialistas nesse tipo de negócio. E, enquanto tantos outros naufragaram espetacularmente, como Arby?s, Subway e KFC, eles apresentam, até agora, uma coleção de vitórias. O que, afinal, faz a diferença? Maria Luisa responde, primeiro com fala mansa e sorriso escancarado característicos. ?O importante é acreditar nos sonhos?, diz ela, numa frase que caberia em livros de auto-ajuda. E completa em seguida com um pragmatismo que revela a determinação de uma mulher de negócios clássica. ?Não vamos dar folga aos concorrentes.?
A conquista da representação da Starbucks no Brasil revela até onde vai a determinação de Maria Luisa. Ela sempre teve certeza que a Starbucks cabia no Brasil. ?Quando ela quer uma coisa, sai de baixo. Se for preciso, ela até vende café no balcão?, diz um funcionário graduado da rede no País. Durante nove anos, a empresária ?vendeu? a idéia para os americanos. ?Mandava cartinhas para eles todos os anos?, conta ela. Outro de seus mandamentos foi se cercar de informações detalhadas do negócio. O namoro começou em 1997. Sem avisar, Maria Luisa simplesmente bateu na porta da sede da rede, em Seattle, EUA, para falar com o CEO mundial, Howard Schultz. Com o trabalho final de MBA embaixo do braço (que tratava exatamente da entrada da marca no Brasil), ela pediu ?dois minutinhos? para falar com o homem. A recepcionista, delicadamente, dispensou-a. Decidiu ir embora. Mas, por um daqueles golpes do destino, quem surge saindo do elevador? O próprio Schultz. (Atenção: uma certa dose de sorte também pode ser incluída em seu receituário de sucesso.) ?Nem acreditei!?, lembra ela. Maria Luisa se aproximou dele e foi só elogios à empresa. O trabalho de MBA foi parar nas mãos de Jinlong Wang, responsável pela internacionalização da marca e defensor da expansão da rede na Ásia. O executivo pediu para Maria Luisa voltar um pouco mais tarde, dali a alguns anos. Naquela hora, o Brasil não era prioridade.
ÓTIMO NEGOCIADOR, PETER COMANDA O AVANÇO DO CASAL NOS NEGÓCIOS
Voltou mesmo, bem antes disso. E em 2002, os primeiros executivos da Starbucks vieram sondar o mercado no Brasil. O acerto final só aconteceu em 2006. É possível que os americanos tenham percebido que um dos ingredientes da fórmula de sucesso de Maria Luisa é a parceria azeitada com Peter, o marido. Eles se completam. Ela possui a capacidade de gerir o dia-a-dia, graças ao estilo prático e detalhista com que olha a operação, traço adquirido em sua passagem como executiva pela American Airlines e pela United Airlines. Peter é o estrategista por excelência, bom no planejamento. A união das duas habilidades faz com que a operação cresça rapidamente sem perder a consistência. Além da loja na alameda Campinas, eles inaugurarão outra unidade, de 180 metros quadrados, no subsolo do Shopping Center 3, na avenida Paulista. Serão, portanto, sete unidades até o final de outubro. Um novo ponto, ainda em segredo, deve ser inaugurado no último bimestre. Até julho de 2008, 15 lojas Starbucks estarão operando no País. Os norte-americanos são donos de 49% do negócio e os Rodenbeck têm 51%. Estima- se no mercado que cada loja custe entre R$ 600 mil e R$ 800 mil. Para quem não acreditava que os preços altos dos cafés travariam a expansão, é bom lembrar que as filas se mantêm. Nas lojas, o café mais barato é ?expresso doppio?, de 60 ml, por R$ 2,80 e a bebida mais cara custa R$ 12,50. ?Quer saber o nosso segredo? Qualidade, qualidade, qualidade?, diz a empresária. E, claro, um certo apelo ao status que o logotipo verde traz. ?Segurar aquele copinho é bem bacana, né??, pergunta ela, em tom maroto. É assim em todo o mundo. Essa gigante multinacional abriu 668 lojas no mundo no último trimestre e chegou ao número de mil inaugurações no último ano fiscal. Isso equivale a 2,5 unidades novas abertas por dia. São 146 mil empregados, 12,5 mil pontos-de-venda e uma receita de US$ 7,7 bilhões. ?Quem vai ao Starbucks lá fora paga pelo café, pelo ambiente e pela boa infra-estrutura. É o prazer da compra, de apreciar aquele momento. As pessoas fazem até entrevista de emprego ali dentro?, diz Alberto Serrentino, sócio da consultoria Gouvêa de Souza. No Brasil, no entanto, não é bem assim ainda, dizem os analistas. ?Fica difícil vender esse ?pacote Starbucks? em cafés cheios e filas. Com a abertura de novos pontos, será mais fácil para a rede se aproximar do modelo lá de fora?, diz Serrentino. A abertura de novos pontos, aliás, tem revelado outro traço do perfil de Maria Luisa e Peter: a capacidade de negociação. Na loja da alameda Campinas, foram nove meses de conversa com a libanesa Maria Cecilia Beirute, de família rica e proprietária do espaço de 400 metros quadrados. O aluguel é estimado em R$ 30 mil. Com a receita de gestão que o casal desenvolveu, o retorno virá rápido e antes do que muitos imaginam.
1 – Conheça de cor e salteado a empresa e o mercado em que irá atuar. A melhor estratégia é a informação correta e precisa
2 – Não tenha pressa. É preciso dar um passo de cada vez para não se atropelar durante o processo
3 – Persiga e respeite o seu sonho. Trabalhe com paixão para torná-lo realidade. Aprenda a ouvir com o coração
4 – Você não precisa gastar milhões de reais em campanhas publicitárias. A melhor propaganda será sempre a boca a boca
5 – Se tiver qualquer dúvida da qualidade do produto, jogue-o fora. A menor desconfiança pode abalar o seu crédito
6 – Cumprimente o cliente. Ouça o cliente. Sorria para o cliente. E o mais importante: desculpe-se, caso erre
7 – Clientes querem desenvolver uma poderosa relação emocional com os produtos e serviços. Nós temos de fazer isso
8 – Não estamos no segmento de cafés servindo pessoas. Estamos num negócio envolvendo pessoas e servindo cafés
9 – Consumidores querem ser parte de alguma coisa em que acreditam. Dê a eles serviços e produtos consistentes
10 – Se quiser vencer, você vai precisar de um enorme entusiasmo, porque, por um bom tempo, você irá ?respirar? só trabalho